Em 2008, o ecossistema de startups do Amapá, localizado na região Norte do país, era bastante incipiente – para não dizer inexistente. Porém, para um jovem de 18 anos, que acabou de se formar no ensino médio, nenhum desafio é grande demais. A Proesc, empresa de gestão online de escolas desenvolvida por Felipe Ferreira, processou R$ 5 bilhões em pagamentos neste ano. Para 2024, no currículo está um curso intensivo para desenvolver um braço financeiro.
Como muitos empreendedores, Ferreira partiu para criar sua empresa tentando resolver um problema. “Durante minha época de estudos, eu via a dificuldade que meus professores tinham para organizar as suas demandas e percebia quanto o processo era custoso e demorado”, diz. “Para mim, aquilo não fazia sentido, já que todo o tempo que o professor destina a processos manuais e à gestão, ele deixa de focar na qualidade de seu ensino.”
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Ferreira estava concluindo o ciclo médio e se especializando em tecnologia da informação quando se juntou a seu tio Lindomar Goes, na época professor de matemática, para fundar a Proesc. O objetivo da startup era aumentar o tempo dos professores que poderia ser dedicado a atividades acadêmicas, e não gerenciais.
O primeiro cliente foi uma escola pública do estado, que buscava se digitalizar. Em menos de três anos, a Proesc já estava desenvolvendo o mesmo trabalho em toda a rede pública do Amapá. “Para que as escolas pudessem usar o nosso sistema, tivemos que fazer todo o processo de digitalização, que ia desde passar cabos, subir em telhado e instalar computadores”, diz Ferreira.
O suor da camisa compensou. “Isso nos ajudou a desenvolver um produto totalmente adaptado para essas escolas, já que nós estávamos lá dentro, vendo o que era difícil para eles e que recursos era importante oferecer.”
A expansão no Amapá durou oito anos. Em 2016, Ferreira e seus sócios decidiram transformar a Proesc em uma empresa nacional. A mudança custou caro, já que a tecnologia era específica para o estado. “Nós precisávamos começar do zero se a intenção era chegar ao país inteiro”, diz o empreendedor. Só no ano seguinte surgiu o spin-off da Proesc, denominado Proesc.com.
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O objetivo era atender escolas particulares de pequeno e médio porte sem soluções de gestão e que não podiam pagar pelas usadas por colégios grandes. “Nós começamos a trabalhar com escolas que tinham 50 alunos e permitimos que elas tivessem portes muitos maiores, algumas chegando a ter mil estudantes”, afirma Ferreira. “Isso permitiu nosso crescimento rápido em outros estados.”
Em menos de dois anos, a Proesc.com já tinha cerca de mil escolas como clientes. Durante a pandemia, a startup as ajudou a desenvolverem sistemas de Ensino à Distância (EAD) que coubessem no bolso dos empresários.
O modelo de negócio funciona por meio de licenças personalizadas de acordo com o tamanho da escola, número de alunos e serviços que quer contratar. Em 2023, a empresa faturou R$ 13 milhões, crescimento de 42,3% ante os R$ 7,5 milhões de 2022. Neste ano, a Proesc.com recebeu seu primeiro aporte, de R$ 8 milhões, maior investimento recebido por uma empresa amazônica.
Para 2024, a expectativa da empresa é de suportar ainda mais essas escolas parceiras, oferecendo soluções como crédito e aumentando as possibilidades de pagamentos dentro da plataforma. “No futuro, a Proesc vai se transformar em um banco para a área privada”, afirma Ferreira.
Desenvolvimento das startups na região Norte
O empreendedor se orgulha ao falar que a Proesc ajudou a desenvolver a cena do empreendedorismo no Amapá. Ele é responsável por ajudar a construir a Tucuju Valley, grupo de empreendedores do berço amazônico com foco em apoiar o empreendedorismo na região.
Desde 2021, as empresas filiadas à comunidade já faturaram juntas mais de R$ 100 milhões, gerando mais de 2,5 mil empregos diretos e indiretos para os amapaenses. As startups OrçaFascio, especialista em softwares para orçamentos de obras; a Assinadoc, plataforma focada em reduzir burocracias através da automação para PME’s e a Tributei, que faz a automação fiscal do ICMS, também estão entre as responsáveis pelo desenvolvimento da iniciativa.
“Nós não tínhamos como nos inspirar em ninguém na época que lançamos a Proesc, e não queríamos que os outros passassem pela mesma experiência”, diz. “Com a Tucuju Valley, nós conseguimos profissionalizar esses empreendedores, desenvolver um programa de aceleração junto ao Sebrae e comemorar, neste ano, o número de mais de 100 startups do Amapá. Nosso projeto é chegar a mil novas empresas por aqui.”