2023 foi um ano bastante desafiador para a economia brasileira como um todo. A taxa Selic, que mede os juros do país, passou os oito primeiros meses do ano estacionada em 13,75%, deixando o dinheiro mais caro e os empréstimos ainda menos acessíveis para uma boa fatia da população.
Esse cenário de aperto monetário teve reflexos nítidos (e rápidos) na economia. Um levantamento realizado pela Contabilizei, com base em dados do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJs), mostrou que o país perdeu 427.934 empresas no primeiro semestre de 2023.
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A política monetária apertada, cuja função é desacelerar a economia e arrefecer a inflação, só começou a afrouxar no segundo semestre, quando o IPCA deu leves sinais de queda. O indicador encerrou o ano em 4,49%, ante os 5,8% vistos no acumulado de 2022.
Dentre os setores mais afetados no ano está o varejo, que lida diretamente com o público final e sente diretamente os efeitos de uma economia enfraquecida. No ano, empresas como Marisa, Chocolates Pan, Grupo Petrópolis e South Rock entraram em recuperação judicial ou pediram falência. Isso sem comentar a crise da Americanas, que já completa um ano.
Porém, para 2024, as perspectivas parecem um pouco diferentes, pelo menos na visão dos 18 executivos de diversos segmentos ouvidos pela Forbes. Para eles, este ano será marcado por colocar em prática o que foi aprendido nos últimos anos, possibilitando tirar planos que estão no papel há algum tempo.
Confira o que os executivos, divididos por setores, esperam de 2024:
Direito
O executivo Nelson Wilians, fundador do NW Group, acredita que 2024 será um ano melhor do que 2023. “A aprovação da reforma tributária deve trazer mais otimismo para 2024, que deve ser acompanhado de ações governamentais e do setor privado, determinam os rumos da economia. E quando a economia está indo bem, a nação vai bem também. Isso é histórico e comprovado”, afirma.
Eventos
Na perspectiva de Jorge Reis, CEO da Eventim Brasil, 2024 deve ser ainda mais animador para o setor de entretenimento e cultura por diversos motivos. “Um deles é a desvalorização do dólar. Ela vai estimular ainda mais as turnês internacionais, que viraram uma febre. Outro fator importante é o retorno dos shows nacionais, que traz bastante otimismo para o mercado musical brasileiro”, avalia.
Finanças
Para Carol Paiffer, CEO da ATOM, o quesito resiliência será muito importante para enfrentar o ano e, em seu ver, o brasileiro já nasce com isso. “Nós somos muito guerreiros, né? O brasileiro gosta de empreender, gosta de fazer acontecer e eu tenho certeza que vai ser um ano incrível pra todo mundo”, diz.
Na visão de Nina Silva, CEO do Movimento Black Money e do D’Black Bank, 2024 é um ano de retomada. “A vida é feita de ciclos e neste novo capítulo nós estamos retomando a nossa força e percebendo novamente que temos muita coisa dentro de casa para aproveitar”, afirma. “Nós somos o pulmão do mundo, temos todas as estações do ano acontecendo o tempo todo, temos todas as possibilidades de indústrias e agronegócio, além de desenvolvimento de pesquisa e também de varejo. Temos tudo para solucionar os problemas e gerar soluções por aqui nesse novo ano.”
Inovação
César Costa, CEO da Semente Negócios, diz acreditar que 2024 será um ano marcado por mais ESG. “A pauta do ESG tem ganhado cada vez mais relevância no Brasil. Acredito que nos próximos anos isso tende a se intensificar, por pressões de mercado e sociais”, comenta. “Minha tese é de que o próximo passo na pauta do ESG é a convergência com a pauta da inovação, em especial inovação aberta”.
Para Matheus Danemberg, fundador e CEO da nav9, o foco de 2024 é consolidar os aprendizados de 2023. “Acabamos de passar por um ano turbulento, no qual o centro das ações foi a tão falada ‘eficiência operacional’. Agora, com as empresas ajustadas, acredito que o mercado está pronto para voltar a crescer”, afirma. “Vejo que a Inteligência Artificial (IA) será protagonista dessa volta ao crescimento”.
Moda
No setor de moda, Sandra Chayo, sócia e diretora da Hope, acredita que o ano será de cautela, mas acredita na recuperação econômica. “Vemos o potencial da retomada da economia e melhoria da confiança do consumidor em 2024, mas estamos iniciando o ano com cautela”, afirma.
Para Rony Meisler, CEO da AR&Co e cofundador da Reserva, 2024 será um período de consolidação de marca e expansão de estratégias. “Esperamos intensificar a presença da Reserva no mercado nacional, mantendo nosso compromisso com qualidade e responsabilidade social.”
Ana Isabel Carvalho Pinto, cofundadora do Icomm Group e Shop2gether, o ano será muito importante para consolidar o apoio às marcas nacionais dentro da plataforma. “Queremos reforçar nosso posicionamento focado na experiência de compra e excelência em serviço, por isso, também prevemos uma movimentação ainda maior para o mundo físico, com o intuito de nos conectarmos, ainda mais, de maneiras diferentes com nossos consumidores”, diz.
Saúde e bem-estar
Para João Adibe, CEO da Cimed, 2024 promete ser desafiador. “Porém, vejo uma boa recuperação da economia principalmente a partir do segundo semestre, o que nos faz apostar em lançamentos em todas as nossas categorias de atuação, desde medicamentos, até consumo”, diz.
Renato Antunes, CEO Braé, acredita que o Brasil é um dos principais mercados do mundo e um grande laboratório para quem cuida de cabelos. Para ele, 2023 foi um dos principais anos da marca e, para 2024, os planos são ainda mais ambiciosos. “Prevemos um crescimento de 40% da Braé neste ano”, afirma.
Para a fundadora e CEO da Simple Organic, Patricia Lima, o processo de construção da conscientização de questões climáticas ganhará força em 2024, com a sociedade acompanhando cada vez mais de perto as mudanças climáticas e suas consequências a nível global. “Nós seguimos em expansão, mas muito além do planejado nos últimos 2 anos, não só em conscientização, mas também de fortalecimento do mercado e ESG de uma maneira geral”, avalia.
Na visão de Tatiana Pimenta, fundadora e CEO da Vittude, o cenário de saúde mental no Brasil tem um futuro promissor. “Espero que a conscientização sobre a importância da saúde mental continue a crescer no Brasil. A pandemia trouxe à tona a urgência de cuidar da nossa saúde mental”, diz. Para 2024, ela acredita que a tecnologia desempenhará um papel crucial na transformação do setor de saúde mental.
Social
Para Dani Junco, fundadora e CEO da B2Mamy, é preciso ser otimista e realista ao mesmo tempo. “Em termos econômicos, ao menos no primeiro trimestre, não vejo grande crescimento em vários segmentos. Mas acredito que, em 2024, vamos ter novas tecnologias à disposição para que a gente reinvente a forma de performar as nossas empresas”, afirma.
Segundo Alcione Pereira, CEO e fundadora da Connecting Food, as empresas terão de ser mais transparentes e éticas e demonstrarem que suas ações têm impacto social positivo. “Energias renováveis e economia circular ganharão destaque, não só por reduzir custos, mas também por aprimorar a reputação das marcas. A redução de emissões de carbono será prioridade. Tecnologias como inteligência artificial e análise de dados serão fundamentais para monitorar e melhorar o desempenho ambiental e social das empresas”, diz.
Luana Génot, fundadora e Diretora-Executiva do ID_BR (Instituto Identidades do Brasil), também aposta em tecnologias como IA para 2024. “Para 2024, estamos com olhar atento às mudanças. Queremos expandir a capilaridade da nossa atuação através da inteligência artificial para democratizar o debate sobre o assunto. E vamos pautar um olhar mais voltado para a igualdade racial conectada a questões ambientais, sociais e de governança”, avalia.
Varejo
Andrea Orcioli, CEO da Sephora Brasil, segue acreditando que será desafiador, apesar de grandes perspectivas para a economia e para a empresa. “É importante dizer que o Brasil é o quarto maior mercado de beleza e cuidados pessoais do mundo e tem um enorme potencial de crescimento. Seguiremos expandindo pelo Brasil e teremos três inaugurações de lojas já no primeiro semestre”, diz.
Para Ghislaine Dubrule, CEO da Tok&Stok, 2024 será marcado pela volta às raízes da companhia. “Com a minha volta ao comando da empresa, podemos esperar a continuação de uma gestão ainda mais focada nas operações e ao back to basics, com geração de caixa e um Ebitda cada vez mais positivo, resultado do que já começamos a ver no último trimestre”, avalia.
Conclusão
No geral, o sentimento de esperança continua prevalecendo entre os executivos, apesar de todos terem bastante respeito pelos desafios que não deixaram de existir pela frente.