A inflação no Brasil desacelerou em janeiro, mas inicia 2024 levantando sinais de alerta para o peso dos preços dos alimentos, que registraram a maior alta para o primeiro mês do ano em oito anos.
-
Siga o canal da Forbes e de Forbes Money no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,42% em janeiro, contra 0,56% em dezembro, mostraram dados divulgados nesta quinta-feira (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com isso o índice passa a acumular em 12 meses avanço de 4,51%, abaixo da taxa de 4,62% com que encerrou 2023, quando voltou a ficar dentro do limite da faixa determinada como meta para o ano passado.
Para este ano, o centra da meta para a inflação, medida pelo IPCA, é de 3,0%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Os resultados ainda ficaram acima das expectativas em pesquisa da Reuters, de altas de 0,34% no mês e de 4,42% em 12 meses.
Depois de se acomodar em patamares mais baixos em 2023, o IPCA iniciou o ano sob pressão dos preços de Alimentação e Bebidas, que tem forte peso no orçamento das famílias.
A inflação desse grupo acelerou a 1,38% em janeiro, de 1,11% em dezembro, marcando a maior alta para um mês de janeiro desde 2016 (2,28%).
“O aumento nos preços dos alimentos é relacionado principalmente à temperatura alta e às chuvas mais intensas em diversas regiões produtoras do país”, explicou o gerente da pesquisa, André Almeida.
A alimentação no domicílio ficou 1,81% mais cara em janeiro, influenciada sobretudo pelo avanço nos preços da cenoura (43,85%), da batata-inglesa (29,45%), do feijão-carioca (9,70%), do arroz (6,39%) e das frutas (5,07%).
“Historicamente, há uma alta dos alimentos nos meses de verão em razão dos fatores climáticos, que afetam a produção, em especial, dos alimentos in natura, como os tubérculos, as raízes, as hortaliças e as frutas. Neste ano, isso foi intensificado pela presença do El Niño”, completou Almeida.
Por outro lado, o grupo Transportes registrou deflação de 0,65% no período, após alta de 0,48% em dezembro, graças à queda de 15,22% das passagens aéreas após altas nos últimos quatros meses de 2023.
Também houve queda de 0,39% nos preços dos combustíveis, com recuos do etanol (-1,55%), do óleo diesel (-1,00%) e da gasolina (-0,31%).
O resultado das passagens aéreas ajudou a inflação de serviços a registrar avanço de apenas 0,02% em janeiro, desacelerando com força ante alta de 0,60% em dezembro. Esse item, no entanto, é considerado bastante volátil.
O dado de serviços – principalmente o núcleo, que elimina itens voláteis como as passagens áreas – é acompanhado de perto pelo Banco Central para a condução da política monetária, em um ambiente de mercado de trabalho resiliente que tende a elevar os gastos dos consumidores.
Na semana passada, o BC deu seguimento a seu afrouxamento monetário com o quinto corte seguido de 0,5 ponto percentual na taxa básica Selic, levando-a a 11,25% ao ano.
O BC ainda avaliou, na ata dessa reunião, que o cenário doméstico tem evoluído como o esperado pela autoridade monetária, com um progresso desinflacionário relevante.
O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, manteve-se em janeiro em 65%
Pesquisa Focus mais recente divulgada pelo Banco Central mostra que a expectativa do mercado é de que o IPCA encerre este ano com alta acumulada de 3,81%.
Segundo Daniel Cunha, estrategista – chefe da BGC Liquidez, o IPCA foi um “banho de água fria” para quem tinha esperança de ver a SELIC inferior a 9%. “Isso surge como um sinal amarelo para o curto prazo e reforça a postura mais cautelosa que o BC esta corretamente adotando.”, diz Cunha.
Apesar de Cunha observar que a notícia ruim é justo onde mais importa, na inflação subjacente de serviços, ele não vê a “necessidade (ainda) de alterar o cenário que ha tempos sustentamos: ainda reserva mais 3 cortes de 50bps com um último movimento de -25bps”.