Sendo a taxa básica de juros da economia, a Selic impacta sua vida em praticamente todas as áreas e não apenas nos investimentos. Na reunião desta quarta-feira (20), o Copom reduziu meio ponto percentual na Selic, fixando a taxa em 10,75% ao ano.
Considerando a relevância da taxa de juros para os rumos da economia, é importante que você compreenda o quanto as decisões da Política Monetária influenciam suas finanças pessoais.
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O que é a taxa Selic
A taxa Selic balizadora de todas as outras taxas praticadas no país. O Banco Central utiliza a taxa Selic como seu principal instrumento de política monetária no controle da inflação.
Com base na Selic, as instituições financeiras definem os juros a serem cobrados em empréstimos a pessoas físicas e jurídicas, financiamentos, no cheque especial, cartões de crédito, e em toda e qualquer modalidade de transação financeira onde haja concessão de crédito. Da mesma forma, as taxas de rentabilidade de inúmeros investimentos de renda fixa também têm por base a taxa Selic.
Sendo assim, o controle da taxa Selic envolve um equilíbrio de forças delicado e complexo, através do qual o Banco Central controla o volume de dinheiro em circulação na economia e, com isso, a inflação.
A Selic alta encarece o crédito e inibe o consumo, desaquecendo a atividade econômica, enquanto a Selic em queda favorece o investimento na economia real, na produção de bens e serviços, acelerando o crescimento econômico.
Como é definido o valor da taxa Selic
O valor da Selic é definido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, composto por 8 diretores do BC e, atualmente, presidido por Roberto Campos Neto.
O Copom realiza 8 reuniões ordinárias por ano, a cada 45 dias, a fim de analisar indicadores macroeconômicos e a conjuntura econômica nacional e mundial, avaliar a inflação do país em relação à meta, o câmbio, tendências políticas e econômicas de curto, médio e longo prazos, finanças públicas, etc.
As diretrizes da política monetária são definidas a partir dessas análises e, após dois dias de reunião, é divulgada a taxa Selic para o próximo período.
O Banco Central também divulga em seu site toda segunda-feira, as projeções para a Selic, através do Boletim Focus. Essas projeções são resultado das expectativas do mercado, coletadas semanalmente junto a 140 instituições financeiras.
O que muda no mercado quando a Selic cai ou sobe?
O movimento da Selic é determinante para o ritmo da atividade econômica, e compreender quais as principais consequências de sua alta ou queda, vai te ajudar a fazer um planejamento financeiro pessoal mais consistente.
Selic em ciclo de alta
- desaceleração da economia, queda dos níveis de emprego
- alta dos juros em empréstimos e financiamentos, aumento dos juros dos cartões de crédito e cheque especial
- redução do consumo impactando todo o ecossistema de produção de produtos e serviços
- empresas reportando prejuízos ou lucros abaixo do esperado, impactando valor das ações
- redução do fluxo de investimentos estrangeiros no mercado interno, com fuga de capitais e aumento do valor do dólar
Selic em ciclo de baixa
- crescimento da atividade econômica, melhora dos índices de emprego
- taxa de juros mais baixa, propiciando maior acesso ao crédito
- maior volume de dinheiro circulando na economia, mediante o aumento do consumo (maior liquidez)
- empresas apresentando melhores resultados, valorização das ações e aumento da atratividade da renda variável
- aumento do fluxo de investidores estrangeiros, trazendo dólares para o país.
Quais os investimentos ligados diretamente à Selic?
Existem investimentos cujo rendimento tem relação direta com a Selic, como o Tesouro Selic, que é um título público emitido pelo Tesouro Nacional a fim de captar junto a investidores os recursos necessários ao funcionamento do Estado., e que rende 100% da Taxa Selic.
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Além do Tesouro Selic, há inúmeros títulos privados cuja rentabilidade acompanha a variação da Selic: LCIs, LCAs e CDBs pós-fixados com base no CDI. Esses títulos são mais atrativos nos momentos de Selic em alta, contudo, o fato da taxa estar em ciclo de queda, não significa que você deva abrir mão totalmente desse tipo de ativo. Como sempre recomendo por aqui, a diversificação e o balanceamento é que irão assegurar a saúde financeira no longo prazo.
Ao fazer seus aportes é fundamental avaliar a taxa, as projeções e, principalmente, se a rentabilidade real, descontados impostos, taxas e inflação do período, é adequada aos seus objetivos financeiros.
A taxa Selic influencia a bolsa de valores?
Quando a Selic está em queda, o crédito fica mais barato para pessoas físicas e jurídicas. Com juros menores, o consumidor volta a comprar fazendo uso de crédito, e as empresas voltam a crescer, o que gera maiores resultados e valorização das ações.
Inversamente, a taxa Selic em alta normalmente desaquece o movimento da bolsa de valores, pois o investidor faz a comparação risco x retorno tomando por referência a rentabilidade da renda fixa, teoricamente, mais segura do que a renda variável.
Esse fluxo de investidores indo para a renda fixa faz com que haja mais dinheiro aplicado e menos dinheiro disponível na economia real, financiando as empresas para que produzam, ou seja, a atividade econômica cai, o resultado financeiro das empresas é menor, e com isso, suas ações tendem a desvalorizar.
Mas, obviamente, este é apenas um racional básico do mercado. A bolsa de valores tem inúmeras outras variáveis, além da elevação ou queda da Selic, que podem influenciar o seu resultado ao longo do tempo.
Por exemplo, produtores de bens de consumo e varejistas podem se beneficiar da queda da Selic, na medida em que a baixa propicie o reaquecimento da economia. Por outro lado, bancos credores de empresas, tendem a melhores resultados com a Selic em alta, já que seu spread aumenta neste cenário.
Há inúmeros segmentos econômicos na bolsa, cuja atividade vai ser impactada em maior ou menor grau pela taxa básica da economia, pelo câmbio e demais variáveis, conforme as particularidades do negócio e a expectativa do mercado como um todo quanto à fatores macroeconômicos de ordem local ou global.
Selic e IPCA estão interligados?
A relação entre esses dois indicadores é direta. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) resulta do cálculo periódico da inflação feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esse cálculo ocorre a partir do acompanhamento dos preços de uma cesta de produtos e serviços em grandes regiões metropolitanas.
Então, considerando que a taxa Selic controla a quantidade de dinheiro em circulação e os níveis de consumo, garantindo que a inflação fique próxima da meta definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), fica claro que os dois indicadores são interdependentes.
Ao escolher investimentos atrelados à Selic ou ao IPCA, você precisa avaliar as tendências macroeconômicas expressas pela política monetária. Dessa forma, se o seu investimento é para longo prazo, sua atenção à variação do IPCA deve ser maior do que à taxa Selic, reduzindo assim o seu risco de perda do poder de compra.
A inflação em queda tem levado o Banco Central a sucessivos cortes na taxa Selic. Ainda assim, aspectos macroeconômicos e geopolíticos globais, além da agenda política do governo podem acelerar ou retardar os sentimentos do mercado quanto ao ciclo de queda da Selic, por isso, sua referência principal deve ser sempre o objetivo e prazo do seu investimento, a fim de entender se as tendências do ciclo favorecem seu plano ou demandam que você faça ajustes nele.
Como investidor, seus desafios mais importantes são: manter uma carteira equilibrada conforme suas metas de curto, médio e longo prazo, mitigar perdas fazendo rebalanceamentos compatíveis com as projeções quanto à política monetária e, o mais importante, manter a disciplina dos aportes.
Lembre-se que ciclos econômicos vêm e vão, mas no longo prazo, o seu sucesso será definido pela constância com que aportou se favorecendo do poder dos juros compostos.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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