A indústria no Brasil frustrou as expectativas e registrou retração de 0,3% em fevereiro, marcando o segundo mês seguido no vermelho e acendendo sinal de alerta.
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Nos dois primeiros meses do ano o setor acumula perdas de 1,8%, o que elimina parte do saldo positivo de 2,7% visto de agosto a dezembro, informou nesta quarta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A indústria ainda está 1,1% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020, e 17,7% abaixo do nível recorde da série, alcançado em maio de 2011.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a produção teve avanço de 5,0%, sétima leitura positiva seguida.
Os resultados foram bem piores do que as expectativas levantadas em pesquisa da Reuters com economistas, de alta de 0,3% na base mensal e de 5,6% na anual.
“Essas duas quedas ligam o sinal de alerta para a indústria. Há uma perda de ritmo de produção, mas com a peculiaridade de que são duas quedas mais concentradas (em poucos ramos)”, destacou André Macedo, gerente da pesquisa no IBGE.
“A melhora da conjuntura e do mercado doméstico ainda não foi suficiente para manter a indústria em um nível positivo”, completou.
Analistas consideram que a indústria deve crescer neste ano, ainda que a passos lentos, com retomada gradual principalmente em segmentos dependentes das condições de crédito, favorecida pela queda dos juros.
O Banco Central decidiu no mês passado fazer nova redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 10,75% ao ano, mas encurtou sua indicação sobre cortes futuros ao citar uma ampliação de incertezas, afirmando que sua diretoria antevê corte na mesma intensidade apenas na próxima reunião, em maio.
“Nossa perspectiva é de uma indústria relativamente positiva neste ano. Entre os fatores que colocam um viés altista estão: recuperação do setor manufatureiro global, balança comercial robusta … e políticas de estímulos à atividade econômica por parte do governo”, disse Igor Cadilhac é economista do PicPay.
O IBGE destacou que, em fevereiro, 10 dos 25 ramos industriais pesquisados mostraram redução na produção em relação ao mês anterior.
As principais influências negativas foram exercidas por produtos químicos (-3,5%), indústrias extrativas (-0,9%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-6,0%).
“Se no ano passado a indústria extrativa teve um papel central para o crescimento do setor no geral, para este ano, a tendência é que haja uma retomada de outros segmentos, … muito em função da queda da Selic e das melhores condições de crédito”, avaliou Rafael Perez, economista da Suno Research.
Na outra ponta, veículos automotores, reboques e carrocerias (6,5%) e celulose, papel e produtos de papel (5,8%) apresentaram aumento na produção em fevereiro.
“As questões conjunturais estão presentes, como queda dos juros, redução da inadimplência, melhora no mercado de trabalho, e isso tudo aparece em veículos automotivos, que dependem muito de crédito e juros”, disse Macedo.
Entre as categorias econômicas, somente Bens Intermediários apresentaram queda, de 1,2%. A fabricação de Bens de Capital aumentou 1,8% no mês e a de Bens de Consumo cresceu 1,3%.