Thomas Gayner adora contar a história. Era 1983. Ele tinha acabado de se formar na Universidade da Virgínia e planejava voltar para casa, em Salem, Nova Jersey, para administrar um negócio de contabilidade com seu pai, Jack. Mas Jack morreu repentinamente e Tom acabou na Davenport & Co., uma corretora de valores de Richmond. Ele estava lá há pouco tempo quando leu um artigo sobre um investidor de Omaha. Foi uma inspiração tão grande que Gayner quis compartilhar seu entusiasmo com seu chefe. “Ei, Joe”, disse Gayner, “você já ouviu falar desse cara, Warren Buf-fay?” “É Buffett, seu idiota”, respondeu Joe, e expulsou Gayner de seu escritório.
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Quarenta anos depois, Gayner, 62 anos, construiu uma carreira impressionante rezando no altar de Buffett. Embora ele ainda se considere um idiota por não ter comprado ações da Berkshire Hathaway em 1984, quando elas eram vendidas a US$ 1.275 (atualmente são negociadas por US$ 612,5 mil, ou R$ 3,14 milhões), seu estudo sobre Buffett o levou, em 1986, a investir em uma empresa familiar pouco conhecida, uma seguradora chamada Markel.
Gayner achava que Markel poderia fazer por Richmond o que a Berkshire fez por Omaha. A Davenport ajudou no IPO de US$ 30 milhões do Markel Group em 1986, e Gayner tornou-se amigo de Steve Markel, neto do fundador da empresa. Steve, agora presidente, abraçou a ideia pouco ortodoxa de utilizar os lucros do IPO para investir em ações negociadas em bolsa e em participações em empresas privadas. Ainda hoje, a maioria das seguradoras é avessa ao risco e mantém suas reservas na renda fixa.
Em 1990, Gayner deixou a Davenport para liderar o investimento em ações na Markel. Sua primeira compra foram ações da Berkshire Hathaway, já valendo US$ 5.750 por ação. Nos 34 anos seguintes, Gayner comprou muito mais. As ações da empresa de Buffett representam agora mais de US$ 1 bilhão do total de ganhos não realizados de US$ 7 bilhões na carteira de ações do Grupo Markel. A seguradora tem US$ 57 bilhões em ativos e obteve uma receita de US$ 15,8 bilhões em prêmios em 2023 hoje vale US$ 21 bilhões, acima dos US$ 60 milhões quando Gayner ingressou em tempo integral.
Porém a Markel só decolou em 2005, quando uma proposta para comprar a AMF Systems, uma empresa de fornecimento de equipamentos de panificação com sede em Richmond, praticamente caiu no colo de Gayner. Ele já estava na Markel há 15 anos, “com o modelo da Berkshire sempre em mente”, quando Ken Newsome, amigo da igreja e CEO da AMF, o abordou porque os investidores em private equity que tinham o controle queriam vender a empresa. “O capital privado não se preocupa com a alma de uma empresa”, diz Newsome.
Gayner estudou os livros da AMF e concluiu que era “uma boa empresa com um balanço patrimonial ruim”. Markel, na sua primeira aquisição, comprou 80% da AMF por cerca de US$ 14 milhões, pagou a sua dívida e prometeu manter a empresa “para sempre”. Newsome diz que a receita da AMF aumentou oito vezes desde então.
Hoje, o Markel Group tem “três motores”, diz Gayner: subscrição de seguros, investimento em ações e aquisição do controle em empresas fechadas, por meio de uma subsidiária chamada Markel Ventures.
À maneira de Buffett, Markel publica anualmente uma carta aos acionistas. Depois que a empresa registrou bons resultados em 2021, a carta apresentava a letra de “Something So Right” de Paul Simon. A taxa composta de crescimento anual da Berkshire Hathaway ao longo de 58 anos é de 19,8%. Após 38 anos como empresa pública, o retorno anual de Markel é de 15%. “O problema com vocês é que estão se esforçando demais para ser a Berkshire”, Gayner ouviu uma vez de um analista de ações. “Quem você gostaria que fôssemos?” ele respondeu.
O fluxo de caixa, incluindo US$ 30 bilhões no chamado float, proveniente dos motores de Markel, permite a Gayner trabalhar com o que chama de capital permanente. “Estou jogando um jogo diferente do da maioria das pessoas em investimentos”, diz ele. “A capacidade de investir com um horizonte de longo prazo e não se preocupar com preocupações diárias de liquidez é uma vantagem.”
A AMF atendeu aos quatro critérios de aquisição de Markel: uma equipe de gestão com talento e integridade; opções de reinvestimento; retorno sobre o capital que não depende de dívidas; e um preço justo. “Não tire vantagem de ninguém, mesmo que possa”, diz Gayner. “É um bom carma – e uma boa maneira de conseguir referências futuras.”
Desde 2005, a Markel Ventures gastou US$ 3,7 bilhões em aquisições. No ano passado, sua receita subiu 5%, para US$ 5 bilhões, e o fluxo de caixa (Ebidta) foi de US$ 628 milhões, um aumento de 24%. Ela possui participações em 19 empresas, incluindo a Brahmin, uma designer de bolsas de luxo com sede em Boston; a Buckner Heavy Lift Cranes da Carolina do Norte e a Costa Farms, uma produtora de plantas ornamentais.
A aquisição mais recente de Gayner, em dezembro de 2021, foi de US$ 274 milhões por 51% da Metromont, fabricante de concreto pré-moldado usado para fazer estacionamentos e outros edifícios. Negócios tediosos e sólidos, todos. Buffett aprovaria. (A Berkshire, na verdade, era recentemente proprietária das ações da Markel.)
Gayner reclama que os investidores subestimam Markel porque isso não é convencional. Hoje em dia, o seu motor mais fraco é a subscrição de seguros. O analista da Morningstar, Brett Horn, diz que Markel não tem cobrado o suficiente, mas aplaude a escolha de ações de Gayner, que superou o S&P 500 nos últimos dez anos. Além das ações da Berkshire, as grandes participações da Markel incluem a Alphabet, a Amazon e a Deere & Co. A Markel aumentou o seu valor por ação numa média de 11% ao ano durante 20 anos.
Tal como o Oráculo de Omaha, Gayner favorece as recompras. Nos últimos dois anos, Markel gastou US$ 700 milhões na recompra de ações e autorizou até US$ 750 milhões para 2024. “Ao ritmo atual de recompra, em 15 anos teremos recomprado metade das ações em circulação e, em 30 anos, todas elas”, brinca Gayner, cuja participação pessoal na Markel é de US$ 89 milhões. “E daqui a 30 anos, ainda serei mais jovem do que Buffett é agora.”