As intensas chuvas no Rio Grande do Sul colocaram o Brasil no epicentro de uma imensa tragédia ambiental e humanitária, com dezenas de mortos e desaparecidos, além de milhares de pessoas feridas e deslocadas de suas casas, de seus trabalhos e de tudo o que conheciam como vida cotidiana.
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Para além das perdas materiais imensas, para os habitantes do Rio Grande do Sul há um custo emocional incalculável e, obviamente, o momento atual requer que nosso foco seja a solidariedade e todo acolhimento possível.
Além disso, enquanto país, temos que nos preparar, emocional e economicamente, para um longo período de rescaldo, pois a reconstrução das cidades e das vidas de seus habitantes ainda vai levar bastante tempo e demandar esforços de todos nós.
Impactos econômicos da tragédia climática
Ainda é cedo para conseguirmos dimensionar as implicações econômicas. O setor agrícola e indústrias de variados segmentos enfrentarão, por algum tempo, desafios operacionais de toda ordem, como a dificuldade em obter matérias-primas, o custo de armazenamento e logística, entre outros, impondo, consequentemente, dificuldades a toda cadeia de abastecimento nacional.
Além disso, o Rio Grande do Sul é um estado importantíssimo no comércio exterior do Brasil, tendo alcançado em 2023, a marca de US$ 22,3 bilhões em exportações para países como China, União Europeia, Estados Unidos, Argentina, Vietnã, México, Paraguai e Uruguai. As perdas vão atingir o comércio exterior em alguma medida.
Devastação, tristeza e prejuízos a apurar
Os primeiros estudos sobre os impactos econômico-financeiros já começam a surgir e precisamos estar cientes de que o período de reconstrução do RS será bastante desafiador para o país.
Apenas a título de exemplo, listo abaixo alguns danos colaterais da tragédia. Estudos elaborados pelo S&P Global, Itaú Unibanco, entre outras instituições, estimam:
- risco de perda de aproximadamente 4% da produção nacional de soja;
- impactos no plantio de grãos da safra 2024-2025, cujo início ocorreria no terceiro trimestre deste ano;
dificuldades com o escoamento de parte da safra agrícola já colhida; - transporte e armazenamento de grãos, ração animal e subprodutos agrícolas mais caros durante o período de reconstrução, causando gargalos relevantes nos transportes por ferrovias, rotas alternativas e portos, podendo ter reflexos inclusive sobre as exportações;
- pastagens prejudicadas pelos alagamentos, impactando a produção de leite;
- rebanhos e criadouros de aves dizimados pelas enchentes devem tornar mais altos os custos logísticos desse segmento;
- fechamento temporário de parte do setor de serviços interferindo no setor de empregos e na arrecadação do Estado.
Estes são apenas alguns dos impactos. O prognóstico quanto à dimensão ainda é superficial, já que muitas áreas seguem debaixo d’água e há previsão de mais chuvas no estado.
Variados níveis de impacto a avaliar
Há outros setores cujos efeitos diretos ou indiretos das cheias ainda seguem em estudos, como infraestrutura, siderurgia, telecomunicações, elétrico, varejo, etc.
O setor bancário, por exemplo, que possui empréstimos concedidos a empresas do Rio Grande do Sul, certamente terá de lidar com renegociações, especialmente nos empréstimos agrícolas, além de enfrentar menor volume de depósitos e maior volume de saques de pessoas físicas e pequenas empresas, que necessitarão de suas reservas durante o processo de reconstrução.
Tudo isso influencia o crédito ao consumidor, a provisão dos bancos para inadimplência e, conforme o cenário, os resultados dos próprios bancos.
Recomeçar, um desafio que iremos vencer
Compreender os efeitos dos alagamentos sobre a economia é fundamental para saber triar as informações relevantes às tomadas de decisão financeira daqui por diante. E não pense que ao expressar essa preocupação, eu queira colocar os interesses econômicos acima da tragédia humanitária, óbvio que não. Contudo, é importante compreender que são assuntos indissociáveis.
Os caminhos que viabilizarão a reconstrução das cidades, envolvem planejamento e disciplina financeira em todos os níveis. Desde o pequeno investidor, que contribui como pessoa física, doando pequenos e providenciais recursos, até os grandes players do mercado, a quem cabe a responsabilidade de gerir melhor do que nunca os recursos sob sua responsabilidade.
Enfim, os danos materiais são imensos e nada se compara à dor e trauma que os moradores do Rio Grande do Sul estão vivendo. O socorro às necessidades humanitárias deve ser a prioridade absoluta, então continue ajudando como puder. Há muito a reconstruir e eu sei que iremos conseguir.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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