Com a alta taxa de juros vista no Brasil e nos Estados Unidos, as startups passaram por um período de “inverno”, que trouxe poucas oportunidades de investimento para o setor. Porém, a situação parece estar começando a mudar. De acordo com o relatório divulgado pelo Distrito, as startups da América Latina levantaram US$ 505 milhões em maio, valor 160% superior ao visto no mesmo período de 2023.
Dos aportes registrados em maio, 43 foram realizados em startups em fase inicial, também conhecidas como early stage. E 14 rodadas foram destinadas a empresas na fase pré-seed, enquanto seis ocorreram com companhias mais avançadas, as chamadas late stage.
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“O ato de empreender no Brasil se transformou em algo muito mais atraente nos últimos anos. Isso ocorre em meio ao amadurecimento do ecossistema de inovação e de financiamento de startups, que avançaram em todas as suas classes e estágios, desde o investimento anjo até os estágios mais maduros”, afirma Richard Zeiger, sócio da MSW Capital, empresa de Venture Capital que atua com foco em investimentos de estágios ‘seed’ e Série A.
Segundo o especialista, mesmo com o momento ainda delicado da economia, o Brasil tem muitos recursos disponíveis para investimentos em startups, principalmente para aquelas que estão começando, e esses recursos devem ser distribuídos nos próximos meses e anos.
Em sua visão, diferentemente do passado, os investidores estão à procura de companhias que tenham foco no breakeven, ou seja, na lucratividade. Antes a preferência era por iniciativas que oferecessem um crescimento desenfreado, mas esse cenário mudou. “O excesso de liquidez gerado pela entrada de grandes players internacionais no Brasil e a mentalidade de investidores mais clássicos fizeram com que, por muito tempo, o crescimento acelerado fosse priorizado em detrimento da busca por lucratividade”, explica Zeiger. “Essa mentalidade está mudando.”
Com essa perspectiva, a Forbes conversou com dois fundadores de startups early stage que levantaram recursos em busca de recomendações para os novos empreendedores. São eles: Martín Lemos, CEO e cofundador da Nemu, empresa brasileira que realiza campanhas de marketing online e levantou R$ 1,3 milhão em menos de um ano de existência. E Otávio Miranda, cofundador da Gabriel, startup anticrime que recebeu um aporte de R$ 10 milhões em sua primeira rodada, com menos de um ano de vida. Hoje, a companhia já levantou R$ 111 milhões.
Para Lemos, os investidores nas startups buscam algumas características específicas. O crescimento continua sendo o fator crucial. “Uma startup é, em essência, crescimento. É tudo que ela é, uma expectativa de crescimento exponencial ao longo do tempo. Logo, crescimento é o que investidores procuram, e que consiga se sustentar ao longo do tempo”, diz.
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Depois desse potencial, os investidores olham para o time que lidera essa companhia e promete a levar ao sucesso. O terceiro atributo necessário é estar em um mercado que suporte esse crescimento.
“Na prática, é necessário provar que a startup irá crescer muito, demonstrado pelos sinais de tração e crescimento; que a startup é dirigida por fundadores competentes e que o problema é muito forte para uma fatia grande no mercado”, afirma o CEO da Nemu.
Miranda, da Gabriel, explica como pôs em prática essa teoria. “Nós captamos tão cedo por alguns motivos. O primeiro é que tivemos uma grande identificação com nossos sócios do Cannary, que foi um fundo que fez aporte. Naquela época não tínhamos nenhum produto, era só uma ideia do que gostaríamos de fazer e a certeza de que o mercado de segurança pública era grande”, afirma o executivo. “O segundo motivo é que trabalhamos como empreendedores dentro desse fundo, onde fomos amadurecendo a nossa tese em conjunto com quem eventualmente investiria na gente.”
Zeiger, da MSW Capital, corrobora as opiniões. “Como investidor, o que entendemos ser mais importante é o time de fundadores. Idealmente é importante que a startup tenha na sua origem um fundador com perfil técnico (CTO) e outro com perfil para negócios (CEO)”, diz. “Empreender é uma jornada muito complexa e de constante aprendizado. Por maiores que sejam o conhecimento técnico e as possibilidades do mercado em que se pretende atuar, o empreendedor tem que ter sede de aprender, muita resiliência e vontade de vencer.”
Pensando em quem quer captar dinheiro de forma ágil, Miranda, da Gabriel, faz suas recomendações. “Pense em que tipo de empresa você quer construir, com relação a tamanho, e depois como você vai conseguir pagar a conta para ela chegar a essa expectativa. ” Esse tipo de conta, geralmente, não é feita por fundadores de empresas no seu estágio inicial, o que gera muitos problemas posteriores”, afirma. “Isso acontece porque não existem recursos a todo o momento caindo do céu.”
“Existem empresas deficientes, com produtos bem sucedidos, que vão crescendo com facilidade. Existem empresas na outra ponta muito pesadas, muito caras, que você não tem um fim do jogo tão claro em relação a qualquer tamanho verdadeiro que esse negócio pode chegar”, complementa.
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Para Lemos, da Nemu, saber vender e construir uma rede de contatos é essencial. “Aprender a vender a sua ideia é extremamente importante, e acredito ser uma das principais habilidades em um fundador. Não apenas vender para o cliente, mas vender a visão da empresa para parceiros e colaboradores. Conseguir apresentar entusiasmo e provar porque a empresa irá se destacar no mercado com uma solução inovadora e uma proposta de valor muito melhor que as soluções atuais”, diz.
“O segundo ponto tem relação à rede de contatos. Porque existem dois fatores em jogo: o que você fala e quem te indica. Ambos são muito importantes. Se a indicação for forte, mas você não conseguir gerar interesse, não adianta nada. Mas sem referências, você se torna mais um, e fica ainda mais difícil de ter credibilidade”, complementa ele. “Construir uma rede de contatos é difícil, mas não é impossível.”
Para Miranda tudo depende de um “sim”. “Cada fundador que capta dinheiro precisa de apenas uma instituição que diga sim. Para chegar nesse sim, o mais importante é trabalhar com volume, que exige capacidade de entender que o outro lado da mesa escuta em diversos lugares distintos dessa história, seja um banco brasileiro, um banco estrangeiro, um fundo brasileiro, um fundo estrangeiro, uma empresa brasileira, uma empresa estrangeira, por aí vai.”