O cantor de pop Jão, o trapper Matuê e a cantora de MPB Liniker, artistas aclamados principalmente pela geração do Spotify, lançaram recentemente seus trabalhos em discos de vinil. Esses artistas, reconhecidos pela geração Z, estão apostando no retorno dos toca-discos.
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Por trás dessa aposta, há números expressivos. Os especialistas reconheceram 2023 como o ano do retorno das mídias físicas: CDs, cassetes e vinis. De acordo com o relatório “Mercado Fonográfico Brasileiro”, as vendas de discos atingiram R$ 11 milhões, representando uma alta de 136,2% em comparação com 2022. A expectativa é que esse crescimento continue em 2024.
“Considerando o aumento da procura e consumo dos LPs, é possível entender que será um bom faturamento neste ano”, diz Cristina Leuzinger, Gerente de Agenciamento Artístico da Som Livre. “Observamos também uma mudança comportamental do consumidor, com a retomada da busca, diálogos e coleções de vinis”.
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O crescimento no Brasil não é por acaso; o país é o nono mercado fonográfico mais lucrativo do mundo. Em 2023, a indústria brasileira faturou R$ 2,8 bilhões, uma alta de 13,4% em comparação com 2022. As receitas de vendas físicas representaram apenas 0,6%, mas atingiram seu maior patamar desde 2018 com faturamento de R$ 16 milhões. Segundo o relatório, esse crescimento foi puxado pelas vendas de discos de vinil, que passaram a ser o formato mais comercializado.
Para Leandro Pexe, diretor executivo da Bolachão, loja de discos, e amante do vinil, o item ainda está longe do seu momento áureo, que aconteceu antes da chegada dos CDs, em 1979. Mas ele permanece sendo um item colecionável e, em sua maioria, produzido em quantidades limitadas para atender a demanda de um nicho.
“Não podemos negar a praticidade da música digital. Mas o vinil tem toda uma experiência no entorno”, diz Pexe. “Facilmente você se dispõe a ouvir e apreciar a música, e enquanto o som está rolando, tem uma capa num formato grande, com encarte que consta as letras e todas as informações da ficha técnica, músicos e participações presentes no disco. Todo esse ritual te abraça e te envolve. Sem contar no som cheio e claro que o vinil pode oferecer”.
O movimento do renascimento do vinil é visto também no exterior. No Reino Unido, o “bolachão” retornou ao indicador da cesta de inflação após 32 anos. Nos Estados Unidos foram vendidos 43 milhões de vinis em 2023, ultrapassando as dos CDs pelo segundo ano consecutivo. As vendas foram puxadas pelo sucesso do relançamento de “1989”, disco de Taylor Swift originalmente de 2014. O álbum vendeu 1 milhão de cópias, o dobro do segundo colocado – também de Taylor.
De olho nos números, o mercado tem se movimentado para alcançar os amantes de toca-discos. “O consumo vai de encontro ao resgate do vintage, dos anos 1990 e do produto físico. E com isso, a indústria também se movimenta para atender às novas necessidades do consumidor”, diz Leuzinger.
Luiz Kencis, CEO da Polyvox, empresa especializada em equipamentos de áudio, afirma que o crescente movimento da cultura retrô valoriza os vinis, que trazem uma sensação de nostalgia. “Os vinis voltaram para ficar. Mais do que uma tendência passageira, eles oferecem uma combinação única de qualidade sonora, experiência física e apelo nostálgico”.