É difícil colocar o bilionário Elie Horn em uma única definição. Ele foi o arquiteto responsável pela incorporadora Cyrela (CYRE3), maior empresa de construção civil em valor de mercado – valia R$ 7,07 bilhões na sexta-feira (28). Também é um dos principais patrocinadores do movimento Bem Maior. E foi o primeiro brasileiro a associar-se ao movimento americano The Giving Pledge.
Fundado por Warren Buffett e por Melinda French Gates e Bill Gates, o Giving Pledge estimula indivíduos e famílias com grandes fortunas a doar a maior parte de seu patrimônio para a caridade. Agora, prestes a completar 80 anos, Horn estreia em uma nova carreira, a de escritor. Ele acabou de lançar “Tijolos do Bem – reflexões do fundador da Cyrela”, com edição da educadora Sarita Mucinic Sarue e lançado pela editora e livraria Sêfer.
Com prefácio do banqueiro e também bilionário Roberto Setubal, o livro conta a vida do discreto Horn (que até pouco tempo atrás era avesso a entrevistas e fotógrafos) e a trajetória da Cyrela. Para o autor, porém, essas não são as partes mais importantes. “O livro trata de fazer o bem”, disse ele à Forbes. “O bem é a essência da vida, se não fizemos o bem, nossa vida não tem sentido.”
Para além de uma biografia, o livro conta a história da jornada espiritual de Horn. Nascido em Aleppo, na Síria, em julho de 1944, o empresário era filho caçula de um comerciante de tecidos, judeu sefaradita ortodoxo. Quando tinha nove anos, seu pai faliu, uma experiência que o marcou profundamente. Boa parte do sucesso da Cyrela, décadas depois, deveu-se ao controle rígido do caixa e ao conservadorismo financeiro na gestão. Após uma breve passagem pela Itália, a família se estabeleceu no Brasil, onde chegou em 1955.
Horn começou a trabalhar muito jovem para ajudar a família. Aos 20 anos associou-se a um dos irmão vendendo produtos químicos. Mais tarde, a dupla iniciou uma corretora de imóveis, marcando a entrada do bilionário no setor. Sua estratégia era comprar e vender rápido, sincronizando o fluxo de caixa para que pagamentos e recebimentos ocorressem simultaneamente.
Espiritualidade e filantropia
Em seu livro, Horn afirma que começou a praticar a caridade na juventude, e que essa era uma tradição familiar. Ainda em Aleppo, sua avó materna mantinha um orfanato. E seu pai se comprometeu a doar 100% do patrimônio após a morte. Esses exemplos convenceram o empresário a fazer algo parecido. “Quando completei 40 anos, resolvi doar 60% do meu patrimônio para a caridade”, diz ele.
O assunto foi longamente discutido em família, envolvendo a esposa Suzy e os três filho – dois deles, Efraim e Rafael são copresidentes da Cyrela. “Meus filhos me convenceram a fazer isso durante a minha vida”, afirma o bilionário. “O processo de doação não terminou ainda.” A disposição para a filantropia o fez rever sua tradicional aversão à exposição pública. “Eu detesto aparecer e falar em público, mas se é para fazer o bem eu concordo”, diz ele. “É uma maneira de convencer outras pessoas a fazer a mesma coisa.”
Horn diz que, nos últimos anos, os empresários e bilionários brasileiros têm estado mais sensíveis à causa da filantropia. “Converso com muita gente”, diz ele. Em abril, ele disse ter conversado com um grande empresário a quem pediu para doar sistematicamente 1% dos lucros da empresa para a caridade. O interlocutor tinha algumas dúvidas, mas Horn o convenceu a beneficiar uma entidade em que confiasse. “É mais fácil convencer as pessoas a doar dinheiro para quem conhecem”, diz Horn. “Se eu pedisse para ele doar dinheiro para mim, ele desconfiaria.”
O bilionário diz ser favorável à proposta de tributar as grandes fortunas, desde que o dinheiro seja de fato empregado em causas sociais. “O problema desse imposto é o gerenciamento desse dinheiro, que vai ficar na mão dos governos”, diz Horn.
Ele reconhece que doar não é fácil. “Colocar a mão no bolso dói”, afirma. “Para evitar isso, eu me acostumei com o seguinte raciocínio: uma vez que eu decido doar um dinheiro, ele não é mais meu, eu sou apenas o administrador.” Isso, garante ele, tornou todo o processo mais fácil. Horn diz não se arrepender. “O dinheiro compra passagens para qualquer lugar deste mundo”, diz ele. “Fazer o bem compra passagens para o outro mundo.”
Serviço:
“Tijolos do Bem”, Editora e Livraria Sefer, São Paulo, 2024
190 páginas, R$ 60