Após ter recuado 12,4% e cravado a maior queda em pontos desde a “segunda-feira negra” de 19 de outubro de 1987, a Bolsa de Tóquio recuperou quase todas as suas perdas nos dois pregões seguintes. Na terça-feira (6) o índice Nikkei 225, principal indicador do mercado acionário japonês, subiu 10,2%.
Foi a maior alta em percentual desde outubro de 2008 e o maior ganho em pontos da história do índice. Na quarta-feira, nova alta de 1,2%. Com isso, a valorização acumulada em dois dias foi de 11,5%. Um desempenho impressionante, mas ainda assim insuficiente para compensar as perdas da segunda-feira. E, mais importante do que isso: qual o limite dessa recuperação?
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Outros pregões também foram voláteis. Nesta quarta-feira (7), o índice Dow Jones, em Nova York, fechou com uma baixa de 0,60%, depois de ter subindo 0,76% no dia anterior, vindo de uma queda de 2,6% no início da semana. Já o Ibovespa caiu menos na segunda-feira (5), com -0,46%, e subiu nos dois pregões seguintes.
Apesar de o país asiático estar distante em termos geográficos, economicamente ele não está assim tão longe. “O Japão é um grande fornecedor de capital para países emergentes, entre eles o Brasil”, diz João Vitor Araujo Saccardo, head de alocação em renda variável da empresa de assessoria Convexa. “Por isso, qualquer movimentação nos juros japoneses afeta os mercados globais.”
BCs e os dados
O motivo da turbulência recente foi uma decisão do Banco do Japão (BoJ), o banco central japonês, que elevou os juros no dia 31 de julho pela segunda vez em 17 anos.
Isso indica que os problemas acabaram? Calma. Segundo Saccardo, a recuperação foi devido a declarações do vice-presidente do BoJ, Shinichi Uchida, de que os juros não iriam subir se os mercados seguissem instáveis. No entanto, as declarações de Uchida não descartaram a hipótese de uma alta dos juros, apenas adiam essa possibilidade.
E não influenciam a principal causa da volatilidade, que é a falta de concordância dos investidores sobre as perspectivas econômicas. O desalinhamento de expectativas provoca solavancos nas cotações de ações, moedas, commodities e taxas de juros.
É o que vem ocorrendo desde o fim da semana passada, quando foram divulgados dados de emprego nos Estados Unidos (payroll) muito piores do que o esperado. O temor de que a economia americana esteja mergulhando em uma recessão, em vez de estar apenas desacelerando, levou os investidores a especular sobre uma possível reviravolta na política monetária dos Estado Unidos.
O Federal Reserve (Fed), o banco central americano, mantém há mais de um ano a taxa de juros no patamar mais alto em 23 anos.
Até antes da divulgação dos dados do payroll, a expectativa era de dois cortes de 0,25 ponto percentual nos juros até o fim do ano, uma baixa de 0,50 ponto percentual. Agora, com os dados mais recentes, as projeções mais arrojadas são de um corte de 1,25 ponto percentual até dezembro, com reduções nas três reuniões do BC americano agendadas para este ano.
Daí a importância do número de pedidos iniciais de seguro-desemprego, os EUA divulgam toda quinta-feira – inclusive nesta (8). A projeção é de 241 mil solicitações, uma leve queda ante os 249 mil pedidos da semana passada. Resultados muito diferentes do esperado poderão destravar novos movimentos de volatilidade nos mercados globais. A conferir.