Depois de os investidores estrangeiros encerrarem o primeiro semestre de 2024 com a maior fuga de capital externo da bolsa brasileira desde 2020, a virada de calendário traz sinais mais animadores. Julho foi o primeiro mês do ano de ingresso de recursos vindos do exterior na B3. E agosto também segue no azul.
O dado mais recente, referente à última quarta-feira (7), inverteu o saldo mensal dessa categoria para o positivo. Após a retirada de pouco mais de R$ 500 milhões apenas no primeiro dia do mês, as sucessivas compras diárias de ações listadas levaram a um superávit parcial de R$ 675 milhões.
No dia seguinte, houve o ingresso de mais R$ 355 milhões, elevando o superávit mensal da categoria a R$ 1,02 bilhão até dia 8.
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Porém, no ano, essa conta segue no vermelho. No total, os gringos venderam de R$ 35,5 bilhões na renda variável nacional. Esses saques vão na contramão da entrada de quase R$ 45 bilhões em recursos externos no mercado acionário doméstico em todo o acumulado de 2023.
Os números (não) mentem
Porém, considerando-se a posição dos investidores não-residentes em Ibovespa no mercado futuro, os “gringos” não estão tão pessimistas com a bolsa local quanto os números sugerem.
Dados da B3 mostram que os estrangeiros iniciaram agosto “comprados” em índice futuro com cerca de 120 mil contratos em aberto – diferença entre contratos na compra e na venda. Ou seja, os estrangeiros estão apostando na alta do Ibovespa no horizonte à frente.
Em valores, essa posição representa aproximadamente R$ 16 bilhões, levando-se em conta a pontuação do contrato mais ativo de Ibovespa futuro, aos 132,9 mil pontos. Isso significa que os gringos assumiram uma estratégia que pode levar à alocação desse montante no mercado à vista, comprando ações.
“O que dá para dizer com essas operações é que os gringos não estão tão vendidos em bolsa assim”, comenta um operador sênior de renda variável de um banco de investimentos. Ou seja, a posição dos estrangeiros que apostam na queda do Ibovespa possui valores menores.
Seja como for, trata-se de uma sinalização importante. Isso porque os gringos movimentam, em média, 55% do volume financeiro negociado na B3.
Tecla SAP
Portanto, dos R$ 35,5 bilhões que os gringos venderam em ações da bolsa brasileira desde janeiro, quase a metade encontra-se “coberto” através de uma “trava” com operações de proteção (hedge) ou de carregamento (carry trade).
Aliás, também chama a atenção a posição comprada (aposta na valorização) dos estrangeiros em dólar, que soma R$ 11 bilhões. Segundo profissionais do mercado financeiro, a forte depreciação do real é positiva para as ações locais, pois torna os ativos domésticos cada vez mais baratos aos olhos dos estrangeiros.
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Seja como for, a pergunta é: o que os estrangeiros vão fazer com esses recursos? “Eu arriscaria dizendo que o mercado de ações brasileiro já atingiu o fundo do poço”, diz o diretor-gerente da mesa de negócios do Santander Brasil, Sandro Sobral. “Há uma chance de uma recuperação a partir de agora.”
Para ele, a proximidade do início dos cortes de juros pelo Federal Reserve, provavelmente em setembro, é a principal causa do aumento do apetite dos gringos por ações brasileiras. “O Brasil é, por qualquer métrica, barato. Por assimetria, tem-se quão ‘caros’ estão os mercados de ações globais”, diz.