Autoridades do Federal Reserve e seus correlatos estrangeiros da zona do euro (BCE), Reino Unido (BoE) e do Japão (BoJ), entre outros convidados ilustres, reúnem-se durante as férias no hemisfério norte na pequena cidade de Moran, no Wyoming (EUA). Porém, o encontro a partir desta quinta-feira (22) está longe de ser um acampamento de verão.
Trata-se de um dos principais eventos dos bancos centrais: o Simpósio de Política Econômica de Jackson Hole. Entre os dias 22 e 24 de agosto, autoridades monetárias do mundo estarão reunidas na vila de Jackson, situada em um vale conhecido como Jackson Hole, que fica nas cordilheiras do Condado de Teton.
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Mas não é por causa da paisagem bucólica que Jerome Powell, do Fed, se deslocou até a região oeste dos Estados Unidos. Ele deve aproveitar o tema principal do evento deste ano, sobre a “Eficiência e Transmissão da Política Monetária”, para dar pistas sobre a decisão de juros na próxima reunião do Fed, em setembro.
Quem também estará por lá é Roberto Campos Neto – talvez pela primeira e última vez. Ele faltou ao encontro em 2023, depois de ter participado remotamente em 2021 e enviado representante em 2022. O mandato dele como presidente do BC brasileiro se encerra em dezembro deste ano.
Fala, Powell
No entanto, quem se lembra da participação de Powell no mesmo evento nas duas edições anteriores já nem espera muitas novidades agora. “O simpósio de Jackson Hole devem fornecer menos orientação sobre o rumo das taxas de juros e se concentre mais nos instrumentos apropriados da política monetária”, disse David Kohl, economista-chefe do Julius Baer.
Para a equipe de equity do Bank of America, a coisa mais fácil para o presidente do Fed seria repetir sua mensagem na última reunião do Comitê, em julho. Porém, os analistas do BofA dizem não acreditar que Jackson Hole irá estimular grandes movimentos nos mercados neste ano como fez no passado.
Até porque desde que está à frente do Fed, Powell tem evitado de usar simpósio para telegrafar suas decisões futuras. Em 2022, ele discursou por menos de 10 minutos – em um dos pronunciamentos mais enxutos da história do evento – e não sinalizou que o Fed estava pronto para promover o mais rápido e agressivo ciclo de aperto monetário da história dos EUA.
No ano seguinte, o presidente do Fed tampouco indicou que manteria a taxa de juros norte-americana no maior nível desde 2001 por mais de um ano.
Daí porque o foco dos mercados está mesmo na reunião do Fed que acontece daqui a um mês. Será no chamado gráfico de pontos (dot plot) que estarão as previsões do comitê para a taxa terminal dos juros em 2024. A dúvida é se os integrantes vão pular o mês das eleições presidenciais. Ou seja, a possibilidade de corte em dezembro é quase certa.
Por que é importante
Seja como for, vale lembrar da importância em si do simpósio, cuja primeira edição ocorreu em 1978, originalmente em um local diferente, no Kansas City. Quatro anos depois, o evento foi para Jackson Hole e, desde então, costuma ser palco de mensagens importantes, em especial do Fed.
Essa tradição começou em 1989, com Alan Greenspan. A mais recente, porém, em 2012, foi quando o então presidente Ben Bernanke aproveitou o evento para anunciar a terceira rodada do programa de flexibilização quantitativa (QE, na sigla em inglês). Dois anos depois foi a vez de Mario Draghi, ex-presidente do BCE, fazer o mesmo, porém na zona do euro.
Além disso, os temas debatidos ganham relevância. Nos anos 1980, por exemplo, o simpósio previu uma alta histórica dos juros dos EUA, ainda durante a chamada “Era Volcker”. Já em 2007, alertou para problemas no setor imobiliário dos EUA, que desembocariam na crise do subprime no ano seguinte.
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Resta ver se em 2024 o evento em Jackson Hole irá resgatar o tradicional hábito de antecipar assuntos capazes de movimentar os mercados globais. Para tanto, é preciso estar atento ao barulho vindo do buraco do Jackson.
“Afinal, cortes nos juros para que fim em um cenário tão desafiador?”, indaga Michael Every, estrategista-global do Rabobank, referindo-se aos governos no Ocidente que estão derrubando tantas convenções políticas e econômicas.