Começar a investir no exterior pode ser uma estratégia muito eficiente na diversificação de sua carteira e na construção de um portfólio resiliente. Contudo, isso precisa vir acompanhado de um bom plano de gestão de riscos.
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A economia vem passando por grandes transformações macroeconômicas, evidenciadas pela recente queda nas taxas de juros dos títulos do tesouro americano de 10 anos, de 5% ao ano em outubro de 2023 para 3,84% em setembro de 2024.
Essa mudança de cenário impacta diretamente as estratégias de investimento, e se você é um investidor em busca de diversificação internacional, recomendo muita atenção aos movimentos que estão ocorrendo no mercado antes de tomar suas decisões.
O que avaliar no cenário global
O cenário econômico global em setembro de 2024 segue evidenciando uma postura cautelosa por parte dos principais bancos centrais, vide a abordagem moderada na política monetária do Federal Reserve (FED), o banco central dos Estados Unidos.
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Embora a inflação ainda seja um ponto de atenção, os sinais de estabilização, com o Índice de Preços ao Consumidor (Consumer Price Index, CPI) registrando taxa anual de 2,4% em agosto, próximo à meta de 2% estabelecida pelo FED, permitirão o início da flexibilização na política monetária já na próxima reunião que ocorrerá nos dias 17 e 18 de setembro.
Na Europa, com a inflação na zona do euro desacelerando para 2,2% em agosto, o Banco Central Europeu (BCE), vem adotando uma postura cautelosa na condução da política monetária. Ele vem mantendo as taxas de juros em níveis que não criem pressão excessiva sobre o crédito e sobre os gastos, evitando decisões que possam desestabilizar a economia.
Na Ásia, o Banco do Japão realizou em julho um ajuste na sua política de YCC, permitindo que os rendimentos dos títulos de 10 anos flutuassem mais livremente, com a banda de flutuação sendo ampliada para até ±1,0% em torno da meta de 0%. Esta decisão foi tomada em resposta às pressões inflacionárias crescentes e à necessidade de permitir uma maior flexibilidade no mercado de títulos.
Apesar disso, no mês passado, com o aumento da volatilidade nos mercados globais e a pressão sobre os rendimentos dos títulos, o BoJ intensificou suas compras de JGBs (Japanese Government Bonds, títulos de dívida do governo japonês) para garantir que os rendimentos não ultrapassassem a nova banda de flutuação. Este movimento foi um sinal de que, apesar da maior flexibilidade, o BoJ continua comprometido em evitar movimentos desordenados nos mercados de renda fixa.
Perspectivas do mercado financeiro
Obviamente não seria possível aprofundar em poucas linhas a análise de todos os fatores que permeiam a flexibilização cautelosa de políticas monetárias globais, mas, eu quis trazer um breve recorte, porque considero importante que você saiba o que pesquisar e estudar antes de começar a investir fora do Brasil.
A diversificação em mercados internacionais é muito saudável, desde que você saiba o que está fazendo, pois há variáveis bastante complexas a analisar para identificar quais são as oportunidades em ativos internacionais que se adequam às suas necessidades.
O que avaliar antes de investir no mercado internacional
- Renda Fixa: A queda nas taxas de juros dos títulos de longo prazo nos EUA torna os títulos pós-fixados menos atrativos, principalmente para quem busca segurança e retornos previsíveis. Já os títulos prefixados comprados com as altas taxas que tivemos nos últimos meses, devem ser beneficiados com o efeito da marcação a mercado.
- Ações: o mercado de ações se favorece em um cenário de juros mais baixos, especialmente em setores que se beneficiam de crédito barato e de crescimento econômico. Os melhores exemplos são varejo e segmentos mais tradicionais, como bancos e infraestrutura. Eles ficaram para trás após a alta das empresas de tecnologia, que foram puxadas pelo surgimento da inteligência artificial. No entanto, a volatilidade permanece como um risco importante a considerar, dadas as incertezas geopolíticas e econômicas globais.
- Mercados Emergentes: a redução do diferencial de juros entre economias desenvolvidas e emergentes pode resultar em fluxos de capital para mercados emergentes, oferecendo potencial de valorização para esses ativos. No entanto, os riscos associados a esses mercados, como instabilidade política e flutuações cambiais, não podem ser ignorados.
Riscos e Oportunidades nos Investimentos
Se há algo que nunca muda, independente do ciclo, é o fato de o mercado sempre ter riscos e oportunidades. O que muda é o lado para onde pende a economia. Então, a primeira coisa que você precisa fazer é entender onde estão os riscos de cada cenário e o quanto você pode ou não se expor a eles.
Estando ciente disso, fica mais fácil compreender o que é de fato uma oportunidade para você. E o grifo aqui é proposital, pois o tamanho do risco que se pode correr é algo muito individual. Depende do tamanho do seu patrimônio, dos objetivos estabelecidos, do tempo que você tem pela frente, entre outras coisas.
Riscos:
- Geopolíticos: Conflitos em andamento, como as tensões entre China e Taiwan e a guerra na Ucrânia, continuam a ser fontes significativas de incerteza, podendo impactar negativamente os mercados.
- Inflação: Apesar de sinais de controle, a inflação pode voltar a ser um problema se houver choques inesperados, como aumentos nos preços de commodities ou novas interrupções na cadeia de suprimentos.
- Valorização excessiva de ativos: Com juros baixos, há sempre o risco de formação de bolhas em determinados segmentos do mercado, como imóveis ou ações de tecnologia.
Oportunidades:
- ETFs de baixa volatilidade: Investir em fundos de índice de baixa volatilidade pode ser uma estratégia prudente para mitigar riscos enquanto ainda se beneficia de ganhos no mercado acionário.
- Títulos de curto prazo: Optar por títulos de curto prazo pode ser uma maneira de garantir retornos estáveis sem a exposição aos riscos associados à marcação a mercado.
- Real Estate Investment Trusts (REITs): Com a queda das taxas de juros, os REITs se tornam opções atraentes, uma vez que imóveis tendem a valorizar em ambientes de crédito acessível.
Investir no exterior requer cautela
Investir no exterior oferece inúmeras oportunidades, mas exige cautela e preparo. É fundamental que você se mantenha informado sobre as condições macroeconômicas globais, entendendo como as decisões dos principais bancos centrais do mundo podem impactar seus investimentos.
Além disso, a diversificação bem planejada e uma abordagem cuidadosa em relação aos riscos são essenciais para garantir que suas escolhas estejam alinhadas com seus objetivos. Como eu sempre digo, para ter êxito em suas finanças, o conhecimento sempre será o seu maior aliado.
Eduardo Mira é investidor profissional, analista CNPI, pós graduado em pedagogia empresarial, coordenador do MBA em Planejamento Financeiro e Análise de Investimentos da Anhanguera Educacional, sócio do Clube FII e sócio fundador da holding financeira MR4 Participações.
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