O Federal Reserve (Fed) deve promover o primeiro corte nos juros dos Estados Unidos desde a pandemia de covid-19 na próxima quarta-feira (18). O último grande indicador econômico saiu a uma semana da reunião deste mês e praticamente consolidou a queda de 0,25 ponto percentual (pp).
A taxa está no intervalo entre 5,00% e 5,25% há mais de um ano. Entre maio de 2022 e junho de 2023, o Fed realizou o mais rápido e intenso ciclo de aperto monetário na história dos EUA, vindo de um patamar próximo a zero.
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Em março de 2020, em uma reunião de emergência para avaliar os impactos econômico-financeiros da disseminação do novo coronavírus, o Fed golpeou o juro norte-americano. Em um só lance, a taxa desabou da faixa de 1,50% a 1,75% para entre 0,25% e zero.
Nesse vaivém da política monetária dos EUA em um curto espaço de tempo, o atual custo de empréstimo no país está no maior nível desde 2001. Afinal, por que o rumo dos juros é tão importante?
Vamos por partes
Do ponto de vista do mercado financeiro, a resposta é simples. “O título público dos EUA é o ativo pelo qual se entende que tem o menor risco. Então, quando esse papel paga mais de 5% ao ano, é preciso entender que tudo o que tem mais risco deve render mais do que isso”, explica Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos.
Assim, quando os EUA têm juros mais elevados, as moedas perdem valor – em especial, a de países emergentes, como o real brasileiro. Da mesma forma, a renda variável enfrenta mais dificuldade para subir diante da concorrência desleal com a renda fixa oferecendo taxas mais altas.
Isso ocorre porque o preço dos demais ativos de risco no mundo é definido a partir de quanto rendem os bônus soberanos norte-americanos, chamados de Treasuries. “Ou seja, se o título deixar de render até 5,5% ao ano, são os outros ativos que vão pagar [mais]”, emenda o especialista.
Por outro lado, cortes nos juros dos EUA melhoram a perspectiva de retorno dos ativos de risco mundo afora. “A redução da taxa americana diminui a atratividade dos ativos dos por lá. Com isso, os investidores buscam alternativas mais lucrativas em outros mercados, o que cria uma oportunidade para o Brasil”, explica Bruna Pacheco, sócia da GT Capital.
Em outras palavras, a situação da taxa de juros dos EUA “tem tudo a ver” com o rumo do mercado em todo o mundo. Ou melhor: “A política monetária dos EUA é chave para determinar a liquidez dos mercados globais”, resume Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo.
Portanto, esse vaivém da política monetária norte0americana afeta diretamente o cenário econômico global, incluindo o Brasil, lembra Gabriel Lago, planejador financeiro e sócio-fundador da The Hill Capital.
E o motivo é simples: “os EUA são a maior economia do mundo e muitas decisões financeiras em outros países, inclusive no Brasil, são influenciadas pelas ações do Fed”, acrescenta Bruna Allemann, chefe de investimentos internacionais da Nomos.
E eu com isso?
Foi o ex-ministro Delfim Netto, morto em agosto, quem disse que “a parte mais sensível do ser humano é o bolso”. Daí, então, a pergunta que fica é: o que o “ser humano” tem a ver com um corte de juros nos EUA pelo Fed?
No caso, a questão central é entender por que está se cortando. Cerca de quatro anos e meio atrás, a redução drástica e emergencial nos juros ocorreu devido ao evento totalmente imprevisível da pandemia da covid-19.
Foi o último grande episódio de impacto com potencial transformador do cenário econômico mundial. Na época, os EUA e outras grandes economias do Ocidente, como o Brasil, entraram em recessão técnica, registrando dois trimestres consecutivos de queda no Produto Interno Bruto (PIB).
Porém, se é apenas uma acomodação da economia dos EUA e global – como parece ser o cenário atual – a consequência pode ser exatamente o oposto. Ou seja, pode haver o ingresso de mais recursos externos para países mais arriscados. Como resultado, cai o custo de financiamento da economia, ajudando-a a crescer mais.
Isso ocorre porque quando o Fed inicia o ciclo de cortes, boa parte dos investidores estrangeiros começam a procurar por ativos em mercados mais atrativos para alocação do capital. “E é dessa maneira que o Brasil entra no jogo”, diz Guilherme Sousa, Economista da Ativa Investimentos.
Para Lago, da The Hill Capital, a queda dos juros nos EUA pode trazer tanto oportunidades quanto desafios ao investidor brasileiro. “É uma situação que requer uma estratégia de investimento bem calibrada para aproveitar as chances sem ignorar os riscos envolvidos”, diz.
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Já em se tratando do “bolso” do brasileiro, o que interessa é que a queda do juros dos EUA tende a valorizar o real ante o dólar. Como resultado, há menor pressão sobre a inflação. De quebra, os produtos importados ficam mais baratos e as viagens internacionais, mais acessíveis. Nas entrelinhas, o recado do Fed para você seria: prepare as malas!