“O dinheiro para os iates acabou”, afirma um gerente de entretenimento veterano sobre os acordos que os principais produtores de TV recebem atualmente. Há cinco anos, no auge da chamada “guerra do streaming”, estúdios e empresas de tecnologia, impulsionados por baixas taxas de juros e o otimismo em Wall Street, estavam travados em uma corrida frenética por crescimento de assinantes — aparentemente a qualquer custo.
O número de programas roteirizados na TV aberta e no streaming durante este período superou a casa dos 500 pela primeira vez na história. Para aqueles criadores cujo conteúdo alcançava a popularidade “de massa”, os valores dos contratos eram recheados de zeros. Pelo menos uma dúzia de showrunners assinou contratos de nove dígitos durante essa fase, e outros tantos garantiram mais de US$ 50 milhões (R$ 280 milhões) em contratos de quatro ou cinco anos.
Para os vencedores do Emmy de 2024, que acontece neste domingo (15), serão os troféus dourados, e não os pagamentos exorbitantes, que representarão o grande prêmio no final do tapete vermelho.
Leia também
Ainda assim, há alguns produtores-criadores (os chamados “showrunners”) cujos ganhos desafiam a lógica. A geração mais antiga deles possui uma porcentagem dos mais de US$ 100 milhões (R$ 560 milhões) em lucros gerados anualmente por mega-hits como “Os Simpsons” e “The Big Bang Theory”.
Ganhos de mais de R$ 500 milhões
Entre os showrunners mais bem pagos da TV em 2024, cinco faturaram mais de US$ 100 milhões (R$ 557 milhões) nos últimos 12 meses. Isso mesmo após pagar comissões a agentes, empresários e advogados. Matt Stone e Trey Parker, de “South Park”, Tyler Perry, o superprodutor da BET, Dick Wolf, de “Law & Order”, James L. Brooks e Matt Groening, de “Os Simpsons”, e Chuck Lorre, de “The Big Bang Theory”, são responsáveis por mais da metade dos US$ 1,2 bilhão (R$ 6,52 bilhões) arrecadados pelos 20 principais showrunners.
A disparidade seria ainda maior com a inclusão dos produtores de Friends, Kevin Bright, Marta Kauffman e David Crane, mas a elegibilidade foi restrita a showrunners que tiveram um programa novo no ar no último ano.
Como a participação nos lucros tradicionais e a sindicalização foram praticamente eliminadas na era do streaming, e o número de episódios produzidos por série diminuiu drasticamente, há pouco potencial para o sucesso astronômico que as gerações anteriores de produtores desfrutaram.
Para justificar seu valor contínuo para estúdios e plataformas, os showrunners de hoje se tornaram algo próximo a chefes de pequenos estúdios, supervisionando um universo de séries e projetos para uma plataforma.
Produtores tão lucrativos como Taylor Sheridan, de “Yellowstone”, ou Ryan Murphy, de “American Horror Story”, ainda conseguem garantir grandes quantias. Eles são como “padrinhos”, generosamente pagos em qualquer projeto com o qual estejam associados, independentemente do nível de envolvimento. É por isso que, entre os 20 principais showrunners, apenas três têm menos de 50 anos — Michael Schur (48), de “Parks and Recreation”, Lisa Joy (47) e Jonathan Nolan (48), ambos de “Westworld” —, enquanto cinco têm mais de 70.
Para a nova geração de showrunners, que está amadurecendo nesse novo ambiente televisivo e muitas vezes ainda está em sua primeira série de sucesso, os acordos gerais raramente ultrapassam US$ 10 milhões (R$ 56 milhões), com as taxas por episódio descontadas desse total. Esse novo grupo, geralmente mais diverso em termos de raça, gênero e orientação sexual, tem poucas chances de alcançar o patamar mais alto de ganhos em um futuro próximo.
Ainda assim, as fortunas mudam rapidamente em Hollywood, e o Emmy deste fim de semana representa um grande passo para transformar esses novos talentos em superprodutores do futuro. A seguir estão os showrunners que lideram o caminho.
Os 10 produtores de séries de TV mais bem pagos de 2024
-
Getty Images 10. Greg Berlanti, de Arrow e The Flash
US$ 40 milhões (R$ 224 milhões)
Berlanti, de 52 anos, vendeu sua participação nos lucros passados e futuros de seu catálogo de TV em um acordo com a Warner Bros. em 2018 — uma estratégia que, dizem os rumores, teria sido motivada pelo desejo de superar o ganho de Ryan Murphy na Netflix, o que ele conseguiu, ganhando mais de US$ 300 milhões (R$ 1,6 bilhão). Na época, Berlanti estava batendo recordes de séries no ar ao mesmo tempo — 18 durante a temporada de 2019 —, a maioria das quais produzida como parte do universo de quadrinhos da DC para a The CW, incluindo “Arrow” e “The Flash”. Apesar de a rede ter cancelado a maior parte de sua programação original no ano passado, Berlanti continua ocupado com um contrato com a Netflix, que resultou no filme “Atlas”, protagonizado por Jennifer Lopez, em maio. Ele também dirigiu o drama espacial apoiado pela Apple, “Fly Me To The Moon”, que fracassou nas bilheterias em julho.
-
Chris Pizzello/AP 9. JJ Abrams, de Presumed Innocent e Batman: Caped Crusader
US$ 47 milhões (R$ 263 milhões)
Quando a Warner Bros. assinou um mega contrato de cinco anos no valor de US$ 250 milhões (R$ 1,4 bilhão) com a Bad Robot de Abrams em 2019, imaginou um universo interconectado de séries baseadas em quadrinhos da DC e a série de ficção científica Demimonde — nenhuma das quais se concretizou. Ainda assim, Abrams, de 58 anos, supervisionou o sucesso “Presumed Innocent” na Apple TV+ e “Batman: Caped Crusader”, a animação da Amazon, no último ano, o que foi suficiente para garantir uma renovação com a Warner por um valor menor. Abrams também continua recebendo cheques consideráveis por seu trabalho nas franquias de filmes Star Wars e Missão Impossível.
-
8. Larry David, de Seinfeld
US$ 48 milhões (US$ 268 milhões)
Para alguém que construiu uma carreira reclamando do trabalho, o comediante de 77 anos continua incrivelmente ativo. David escreveu e estrelou a 12ª e (provavelmente) última temporada de “Curb Your Enthusiasm” e anunciou uma turnê de 10 cidades com “conversas informais” com diferentes moderadores, incluindo o ex-jogador de futebol americano Peyton Manning. E o programa original de “Seinfeld” ainda é tão popular quanto sempre na Netflix, onde gera cerca US$ 100 milhões por ano apenas com os direitos exclusivos de streaming. Em outras palavras, foi um ano bastante bom.
-
Evan Agostini/Invision/AP 7. Shonda Rhimes, de Bridgerton, Grey’s Anatomy, Scandal e How To Get Away With Murder
US$ 58 milhões (US$ 380 milhões)
A quarta temporada do drama de época de Rhimes, “Bridgerton”, quebrou recordes de audiência na Netflix no verão americano, validando um mega contrato em andamento com a plataforma, estruturado com bônus e incentivos que a recompensam pelo sucesso. E seu portfólio anterior na ABC, que inclui “Scandal” e “How To Get Away With Murder”, ainda está forte, com a 21ª temporada de “Grey’s Anatomy” estreando no final deste mês.
-
Anúncio publicitário -
Chris Pizzello/AP 6. Seth MacFarlane, de Family Guy e American Dad
US$ 76 milhões (R$ 425 milhões)
MacFarlane se aproveita tanto dos novos quanto dos velhos contratos de TV, continuando a desfrutar de grandes lucros da Fox por escrever, dublar e produzir mais de 400 episódios de “Family Guy” e 300 episódios de “American Dad”. Ele também fechou um contrato geral com a Universal Television em 2020, no valor de US$ 40 milhões (R$ 224 milhões) por ano, para desenvolver novos projetos, incluindo uma reinterpretação de sua franquia de filmes “Ted” como uma série de oito episódios para o Peacock.
-
Willy Sanjuan/Invision/AP 5. Chuck Lorre, de Two And A Half Men, The Big Bang Theory e Young Sheldon
US$ 110 milhões (R$ 616 milhões)
Lorre se beneficia de acordos feitos durante o auge da TV, com suas séries “Two And A Half Men”, “The Big Bang Theory” e “Young Sheldon” continuamente gerando grandes lucros. Apenas um ponto percentual da participação nos lucros de Big Bang rendeu até US$ 5 milhões (R$ 28 milhões) no último ano, dependendo dos termos do contrato, e Lorre tem mais do que isso. Embora Young Sheldon e sua série de romance na CBS, “Bob Hearts Abishola”, tenham chegado ao fim no último ano, Lorre continua prolífico para a Warner Bros., estreando a série “Bookie” com 10 episódios no Max no último outono, e um segundo spin-off de Big Bang, “George & Mandy’s First Marriage”, que chega à CBS em outubro.
-
Filmmagic 4. Dick Wolf, de “Law & Order”
US$ 124 milhões (R$ 694 milhões)
O império de séries policiais de Wolf domina a grade de programação da TV aberta americana, com três séries da franquia “Chicago” ocupando as quartas-feiras da NBC e um trio de séries sobre o FBI fazendo o mesmo nas terças-feiras da CBS. Isso sem contar seu carro-chefe Law & Order e seu spin-off SVU, que já está chegando à 25ª temporada (um terceiro programa da franquia, “Organized Crime”, foi transferido para o Peacock). As temporadas encurtadas pela greve provavelmente prejudicaram Wolf mais do que qualquer outro showrunner, mas não sinta pena do rei da TV aberta, de 77 anos, e nomeado bilionário pela Forbes em janeiro.
-
Getty Images 3. James L. Brooks e Matt Groening, de Os Simpsons
US$ 135 milhões (R$ 756 milhões)
Com mais de 750 episódios ao longo de 35 anos e contando, a primeira família de Springfield, “Os Simpsons”, não dá sinais de desacelerar. O mesmo vale para o dinheiro, com Brooks e Groening (o co-criador Sam Simon faleceu em 2015) recebendo suas taxas de produtores executivos todos os anos, apesar do envolvimento mínimo na produção contínua da animação, agora em sua 36ª temporada. Ainda mais valiosa é a vasta biblioteca da série, que gerou mais de US$ 1 bilhão com o acordo de streaming com a Disney+ desde 2019. Enquanto isso, Futurama, o favorito cult de Groening, voltou ao Hulu para sua 12ª temporada em julho.
-
Filmmagic 2. Tyler Perry, de House of Pain e Sistas
US$ 136 milhões (R$ 761 milhões) líquido
“Ser proprietário muda tudo”, disse Perry à Forbes em 2020. No conforto de seu estúdio, nos arredores de Atlanta, o bilionário de 54 anos cria e detém os direitos de todo o seu conteúdo. Ele licencia suas produções para redes de TV e distribuidores como a BET, onde exibiu 10 programas no último ano (entre eles “House of Pain” e “Sistas”). Também lançou três filmes (dois na Amazon, um na Netflix) e, aos poucos, vem recuperando o controle dos direitos de seu acervo, incluindo a icônica franquia “Madea”, que gera milhões em lucros.
-
Getty Images 1. Matt Stone e Trey Parker, de South Park
US$ 162 milhões (R$ 907 milhões) líquido
A dupla por trás dos estudantes desbocados do Colorado ainda é referência na indústria graças ao abrangente contrato de seis anos no valor de US$ 935 milhões (R$ 5,6 bilhões) que assinaram com a ViacomCBS em 2021 pelos direitos contínuos de South Park. Em uma recente entrevista à Vanity Fair, Parker e Stone disseram que estão parando a produção do programa até depois das eleições presidenciais de 2024, mas seu musical de longa data, The Book of Mormon, continua forte no West End, a Broadway de Londres, e estreará na Austrália em 2025.
10. Greg Berlanti, de Arrow e The Flash
US$ 40 milhões (R$ 224 milhões)
Berlanti, de 52 anos, vendeu sua participação nos lucros passados e futuros de seu catálogo de TV em um acordo com a Warner Bros. em 2018 — uma estratégia que, dizem os rumores, teria sido motivada pelo desejo de superar o ganho de Ryan Murphy na Netflix, o que ele conseguiu, ganhando mais de US$ 300 milhões (R$ 1,6 bilhão). Na época, Berlanti estava batendo recordes de séries no ar ao mesmo tempo — 18 durante a temporada de 2019 —, a maioria das quais produzida como parte do universo de quadrinhos da DC para a The CW, incluindo “Arrow” e “The Flash”. Apesar de a rede ter cancelado a maior parte de sua programação original no ano passado, Berlanti continua ocupado com um contrato com a Netflix, que resultou no filme “Atlas”, protagonizado por Jennifer Lopez, em maio. Ele também dirigiu o drama espacial apoiado pela Apple, “Fly Me To The Moon”, que fracassou nas bilheterias em julho.
Confira a lista completa aqui.
Metodologia
As estimativas foram calculadas por meio de entrevistas com agentes, advogados, empresários, executivos e especialistas da indústria, além de fontes de dados como o IMDBPro. Os valores representam ganhos líquidos para o período de 1º de setembro de 2023 a 1º de setembro de 2024 — sem as taxas de representação (10% para agentes, 10% para gerentes e 5% para advogados) — de acordo com o padrão da indústria, a menos que informado de outra forma. Muitos showrunners não têm todos os três ou compensam seus representantes com lucros por obra.
Apenas showrunners que tiveram pelo menos um programa no ar durante os últimos 12 meses foram considerados, no entanto, os showrunners elegíveis foram creditados por toda a receita de projetos passados e presentes, incluindo tanto programas de TV quanto filmes.
Os rankings incluem apenas ganhos relacionados ao entretenimento — escrita, atuação, produção, direção, etc., e não quaisquer empreendimentos empreendedores ou outros.
-
Siga a Forbes no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida