Recentemente, o presidente Biden anunciou uma nova regra da Agência de Proteção Ambiental (EPA) que exigirá a substituição de quase todos os canos de chumbo nos EUA dentro de 10 anos, como parte de um esforço para melhorar a qualidade da água potável. A JM Eagle, sediada em Los Angeles, pode ser uma das maiores beneficiadas, já que é uma das maiores fabricantes de canos plásticos do mundo.
O CEO e proprietário da JM Eagle, Walter Wang, de 59 anos, estreou este ano na lista Forbes 400 dos americanos mais ricos (nº 374), com um patrimônio líquido estimado em US$ 3,6 bilhões (R$ 20,48 bilhões). A maior parte de sua fortuna vem de sua participação na JM Eagle, que tem uma receita estimada em US$ 2,3 bilhões (R$ 13,09 bilhões) e emprega 2 mil pessoas em três países. A Forbes avalia, de forma conservadora, que o valor de mercado da companhia é de cerca de US$ 2,8 bilhões (R$ 15,93 bilhões). Wang também tem uma participação majoritária na PTM, uma fabricante de canos plásticos no México.
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Atualmente, a JM Eagle possui cerca de 10% do mercado de fabricação de plásticos e canos nos EUA. Segundo um relatório de julho da empresa de pesquisa IBISWorld, essa é a maior concentração de mercado para uma única empresa (apenas 3% de suas vendas ocorrem fora da América do Norte; 90% são nos EUA). Wang destaca que a empresa se sobressai em um mercado de commodities, onde a competição é baseada no preço, ao oferecer uma solução completa para diversos tipos de aplicações, incluindo tubos dos plásticos mais comuns – cloreto de polivinila (PVC) e polietileno (PE) – produzidos em 22 fábricas na América do Norte.
Os produtos da JM Eagle transportam água, gás e eletricidade por vários estados e municípios. Eles são utilizados em locais como o Parque Nacional Joshua Tree, na Califórnia; Disneyland; a reserva indígena Fort Peck, no nordeste de Montana; a gigafábrica da Tesla em Austin, Texas; e o Parque Nacional do Grand Canyon.
Quem é Walter Wang?
Após se formar na UC Berkeley, Wang começou sua carreira como operador de máquinas em uma das fábricas de seu pai. Forbes conversou recentemente com ele em seu apartamento em Manhattan, onde as janelas panorâmicas oferecem uma vista do horizonte de Nova Jersey. Ele costuma dedicar de três a quatro horas por dia a cotações para clientes, como parte de seu compromisso em conhecer o mercado melhor do que qualquer outra pessoa. “Como proprietário, você precisa colocar a mão na massa”, disse ele.
Apesar do tamanho da empresa, Wang ainda a considera um negócio familiar, mas não uma herança. Filho do bilionário taiwanês Wang Yung-ching (conhecido como Y.C. Wang), Walter pegou emprestado US$ 300 milhões (R$ 1,7 bilhões) de bancos e US$ 30 milhões (R$ 170 milhões) de Y.C. para comprar a JM Eagle de seu pai em 2005. Desde então, multiplicou o valor do negócio mais de sete vezes.
Wang mudou-se de Taiwan para Berkeley, Califórnia, aos nove anos, acompanhado da mãe. Sua irmã mais velha é Cher Wang, fundadora da gigante de smartphones HTC Corporation, que já foi a pessoa mais rica de Taiwan. Na época da mudança, Cher estudava na Universidade da Califórnia. Eles viviam em uma casa de US$ 50.000 (R$ 284 mil), adquirida com as economias da mãe e recursos reservados para os dotes das irmãs, com uma mesada de US$ 800 (R$ 4.552) enviada pelo pai bilionário.
Walter sempre sonhou em assumir a Formosa Plastics – a empresa de seu pai, hoje avaliada em quase US$ 10 bilhões (R$ 56 bilhões). Y.C., filho de um produtor de chá e educado apenas até o ensino primário, transformou a Formosa em uma das maiores petroquímicas da Ásia. Walter descreveu o sentimento de responsabilidade em seguir os passos do pai: “Escolhi trabalhar para ele porque sou filho. Tenho essa obrigação. Você sabe como é na cultura asiática – ele meio que esperava que eu fosse para a empresa”.
Y.C. faleceu em 2008, aos 91 anos, sem deixar testamento. Wang, no entanto, está preparado para evitar esse problema com seus próprios filhos. Há cinco anos, ele começou a levá-los às fábricas e a discutir uma constituição familiar e questões relacionadas à herança, rompendo com a tradição asiática de evitar conversas sobre sucessão. “Devemos exigir um acordo pré-nupcial? Como lidar com parentes na empresa? Essas são questões que debatemos”, explica Wang.
Segunda vida e desafios
Depois de adquirir a JM Eagle, Wang foi diagnosticado com câncer nasofaríngeo em estágio 4, apenas quatro dias após a assinatura do contrato em 2005. Com previsão de um ano de vida, ele se submeteu a tratamentos intensivos em Hong Kong. Desesperado, Wang e sua esposa Shirley também recorreram a práticas alternativas, como orações e glossolalia (falar em línguas). “Quando você encara a morte, tenta quase qualquer coisa”, disse ele.
Recuperado, ele voltou aos EUA em 2006, pronto para liderar a empresa. No entanto, enfrentou desafios legais logo em seguida: a JM Eagle foi alvo de uma ação judicial em 2006 com denúncias de que falsificava a qualidade dos canos vendidos. A ação se arrastou por 14 anos, envolvendo 42 cidades e distritos de água. Embora um júri federal tenha considerado a empresa culpada em 2013, a sentença foi anulada em 2020 por falta de provas concretas de defeitos nos produtos.
Outro processo surgiu em agosto deste ano, desta vez envolvendo alegações de cartelização de preços durante a pandemia. “O privilégio de litígio permite que qualquer pessoa faça acusações sem risco de difamação, independentemente da veracidade”, declarou Wang por e-mail. A Westlake, outra fabricante envolvida, não comentou o caso, e a OPIS, publicação mencionada no processo, não respondeu aos pedidos de comentário.
Apesar dos desafios, Wang e Shirley continuam otimistas em relação aos negócios nos EUA. Shirley, que também é cofundadora e CEO da Plastpro, afirma: “Se você quer começar algo, pode começar do zero aqui”.
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Em 2016, após acompanhar a crise hídrica em Flint, Michigan, Wang se ofereceu para substituir gratuitamente os canos de chumbo da cidade por tubos de PVC. No entanto, Flint recusou a oferta, optando por canos de cobre, cujo custo superou US$ 140 milhões (R$ 796 milhões). A cidade vizinha, Burton, economizou US$ 2,2 milhões (R$ 12,52 milhões) usando os tubos da JM Eagle. A então prefeita de Flint, Karen Weaver, expressou preocupações sobre a durabilidade dos canos plásticos em climas adversos.