O cenário atual do mercado de luxo revela um contraste marcante entre a desaceleração nos mercados globais e o crescimento robusto no Brasil. Marcas icônicas como Chanel, Prada, Louis Vuitton e Dior estão enfrentando desafios significativos na Europa e nos Estados Unidos, com quedas nas ações e receitas abaixo das expectativas, enquanto aguardam uma recuperação mais forte na China, que historicamente responde por uma grande parte de seu consumo.
No entanto, o Brasil desponta como um mercado promissor para o setor. Com um crescimento médio de 18% ao ano, muito acima da média global de 10%, o mercado de luxo brasileiro movimentou R$ 74 bilhões em 2022, com uma expectativa de atingir R$ 130 bilhões até 2030, segundo dados da Brain & Company. Esse avanço é impulsionado por um crescente apetite por produtos exclusivos e de alta qualidade, especialmente em moda e acessórios pessoais, que representam a porta de entrada para novos consumidores de luxo no país.
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Jean-Noël Kapferer, um renomado especialista em marcas, define que o luxo deve ser representado por atributos como exclusividade, tradição, raridade e uma relação especial com o tempo. Esses ideais são divididos em nove categorias, que incluem desde moda e joias até iates e hotéis. No Brasil, o ponto de entrada para muitos novos consumidores de luxo é justamente o setor de moda e acessórios pessoais.
A popularidade das redes sociais, como TikTok e Instagram, tem desempenhado um papel crucial nesse fenômeno, dando visibilidade às marcas e facilitando o acesso a um público antes distante do universo do luxo. Influenciadores digitais têm sido fundamentais nessa conexão, ao exibir produtos de luxo para milhões de seguidores e estimular o desejo de consumo.
“Muitos consumidores brasileiros veem seu influenciador favorito usando um acessório de luxo, o que os incentiva a explorar esse universo, frequentemente começando pelo mercado de segunda mão”, afirma Katherine Braun, coordenadora da pós-graduação em Negócios e Marketing de Luxo Contemporâneo da ESPM.
A cultura do brechó e revenda de luxo vem ganhando força no país, com um aumento significativo no número de estabelecimentos nos últimos anos. Entre 2010 e 2015, o número de brechós cresceu 210%, segundo dados do Sebrae. Esse mercado de resale de luxo é impulsionado por fatores como sustentabilidade, exclusividade e preços mais acessíveis.
A professora Rosana de Moraes, da FIA Business School, observa que o Brasil está em um momento de transição em relação ao consumo de luxo. O conceito de “quiet luxury” – um estilo mais discreto e sem logos visíveis – está ganhando popularidade, com consumidores valorizando marcas que compartilham seus propósitos, como o consumo consciente e sustentável.
Desaceleração global do mercado de luxo
Em contraste com o crescimento no Brasil, o mercado global de luxo enfrenta um momento desafiador. Nos últimos seis meses, marcas como LVMH, Kering e Prada viram suas ações sofrerem quedas expressivas. A LVMH, que controla nomes como Louis Vuitton e Fendi, teve uma queda de 20% em suas ações, enquanto a Kering – dona de marcas como Gucci e Balenciaga – viu suas ações desvalorizarem em 30%. A Prada teve um declínio mais moderado, de 6%.
A Kering reportou uma queda de 11% na receita do primeiro trimestre de 2024, com uma expectativa de retração de 30% nas vendas até o próximo semestre. A LVMH também enfrentou desafios, com uma receita de 41,7 bilhões de euros (aproximadamente R$ 250 bilhões), abaixo da previsão de mercado de 42,5 bilhões de euros.
A desaceleração econômica na China, que responde por cerca de 25% do consumo global de luxo, tem impactado fortemente essas marcas. No primeiro semestre de 2024, as vendas da LVMH na Ásia caíram 14%, refletindo essa realidade.
Essa desaceleração também afetou diretamente a fortuna de Bernard Arnault, fundador e CEO da LVMH. Em abril de 2023, Arnault se tornou o homem mais rico do mundo, mas desde então, viu seu patrimônio diminuir em US$ 22 bilhões (cerca de R$ 120 bilhões), caindo para a quinta posição no ranking da Forbes das pessoas mais ricas do mundo.