Com a promessa do lançamento do DREX, a moeda digital do Banco Central do Brasil, para o final de 2024 e início de 2025, o Brasil entra oficialmente na era dos dinheiros virtuais emitidos por bancos centrais, conhecidos como CBDCs (Central Bank Digital Currencies).
O ativo, também chamado de real digital, já está em fase de testes e promete impulsionar uma transformação significativa nas finanças em todo o Brasil. Mas, afinal, o que isso significa para o dia a dia dos brasileiros?
O DREX e seus impactos
A moeda digital do Banco Central do Brasil é projetada para ser uma versão virtual do Real. Seu lançamento visa diversificar o ecossistema financeiro do país, permitindo transações digitais seguras e regulamentadas.
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Em linhas gerais, tudo o que pode ser passível de troca ou compra poderá ser transacionado via DREX. Para Vinicius Moura, economista, planejador financeiro e sócio da Matriz Capital, essa moeda digital pode aumentar a conveniência para os usuários e permitir transações em locais onde o acesso ao sistema bancário é limitado.
É que uma das principais vantagens do DREX é que ele exclui o banco da transação. Sem intermediários, a transferência é feita de usuário para usuário.
Qual é a diferença para o Pix e para o dinheiro eletrônico?
A principal diferença do DREX para a moeda física que usamos hoje é que ele será exclusivamente digital. Enquanto o Real pode ser usado tanto em notas quanto em transações virtuais, como o Pix, o DREX existirá apenas no mundo online. “Esse formato simplificará as ações ao permitir pagamentos digitais diretos, facilitando transferências entre pessoas e empresas”, explica o coordenador do MBA em gestão financeira da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira .
Uma das vantagens da utilização desse novo formato é a redução dos custos das transações bancárias ao eliminar intermediários, que elevam o valor das operações financeiras. Atualmente, de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) , algumas instituições já cobram taxa de 0,99% a 1,45% do valor do Pix . “Na prática, o uso do DREX permite transferências diretas entre partes com garantias do Banco Central, o que pode diminuir as tarifas associadas a movimentações bancárias, beneficiando tanto empresas quanto consumidores no longo prazo”, explica o planejador.
Além disso, com o DREX, as ações serão realizadas em tempo real. Atualmente, algumas operações ainda envolvem espera, mas com a nova moeda virtual isso será eliminado, tanto para recebimentos quanto para envios. A mudança exigirá que os bancos sejam ainda mais ágeis para atender às expectativas cada vez mais altas dos clientes.
Uma das principais metas do Banco Central com o DREX é facilitar a inclusão financeira, principalmente da população de baixa renda. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), 5,9 milhões de pessoas não tiveram acesso à internet em 2023. Ou seja, parte da população ainda não possui nem o acesso a dispositivos como smartphones e computadores, essenciais para utilizar o sistema. “É fundamental que as autoridades e as instituições financeiras trabalhem juntas para oferecerem soluções”, afirma o coordenador da FGV.
Por outro lado, o novo formato pode sim popularizar os serviços financeiros digitais, já que oferece uma maneira 100% virtual de transacionar dinheiro sem a necessidade de uma conta bancária convencional.
“Como uma moeda digital com o respaldo do Banco Central, ele tem o potencial de atrair indivíduos que hoje encontram dificuldades para acessar o sistema bancário, simplificando o processo de pagamento de forma segura e prática”, afirma o planejador. Também, a digitalização trazida pelo real digital permite que produtos financeiros sejam oferecidos de maneira mais ampla, gerando um ecossistema mais dinâmico para as operações.
Outra utilidade que o DREX pode ter é tornar o investimento em Tesouro Direto mais acessível. Com a moeda digital, será possível adquirir títulos públicos de forma mais simples, sem a necessidade de intermediários como bancos ou corretoras. Dessa forma, a liquidez das operações com Tesouro Direto pode aumentar, além da possibilidade de realizar transações instantâneas e 24 horas por dia, 7 dias por semana. O DREX também permitirá o fracionamento de títulos públicos, tornando possível investir em menores quantias.
DREX e o planejamento financeiro
O planejador financeiro e especialista em mercado de capitais, Idean Alves acredita que o DREX pode ajudar no controle financeiro das famílias. “A nova moeda digital vai ajudar a consolidar informações financeiras e de créditos. Com isso, as famílias serão obrigadas a olhar com mais atenção para o planejamento das finanças”, diz.
Consequentemente, um monitoramento financeiro mais prático, pode levar ao uso mais consciente do cartão de crédito, que pode ser menos usado graças às operações via Pix ou DREX. “Isso, nos aproxima da realidade norte-americana que foca no pagamento à vista, usando o crédito de forma mais pontual”, explica o especialista.
No entanto, apesar dos benefícios e das facilidades, o planejador ressalta que por mais que o sistema seja mais seguro, nada é 100% à prova de golpe. “É preciso ter atenção nas transações, para que a facilidade não se transforme em fragilidade na segurança de dados e transações”, afirma Alves.
A questão da privacidade e do controle governamental sobre as transações financeiras levantam algumas preocupações. Tanto os especialistas quanto o coordenador da FGV destacam a possibilidade do governo utilizar o DREX para monitorar de forma mais detalhada a economia das famílias e empresas.
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A chegada do DREX promete ser tão natural quanto a do Pix. A interface do real digital será intuitiva e semelhante aos aplicativos que já utilizamos, tornando o aprendizado fácil. Por isso, não há necessidade de grandes preparativos por parte da população.