Jahm Najafi, 61, é um investidor de private equity e filantropo com base em Phoenix. Nascido no Irã, Najafi imigrou para os EUA com seu irmão mais velho, Francis, em 1975, quando tinha 12 anos. Ele se formou em ciência política e economia na Universidade da Califórnia, Berkeley, e depois fez mestrado em economia empresarial em Harvard, em 1986.
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Iniciou sua carreira em Wall Street, na Salomon Brothers, antes de se juntar ao irmão em 1990 para ajudar na gestão da Pivotal Group, uma empresa de investimentos imobiliários.Em 2002, Najafi decidiu seguir carreira solo e lançou a Najafi Companies, uma empresa para gerenciar o seu próprio capital.
Seu investimento mais lucrativo foi em 2003, quando aplicou US$ 100 milhões (R$ 570 milhões) na Network Solutions, uma registradora de domínios, e a vendeu por US$ 800 milhões (R$ 4,56 bilhões) apenas quatro anos depois. Em 2009, Najafi adquiriu uma participação de 10% no Phoenix Suns por cerca de US$ 43 milhões (R$ 245,1 milhões). Hoje, essa participação hoje vale aproximadamente US$ 400 milhões (R$ 2,28 bilhões).
Ao longo dos anos, Najafi investiu em uma variedade de setores, incluindo entretenimento, bens de consumo e outras franquias esportivas, como a equipe de Fórmula 1 McLaren. Com um patrimônio estimado em US$ 1,4 bilhão (R$ 7,98 bilhões), Najafi assinou no ano passado o Giving Pledge, um compromisso de doar pelo menos metade de sua fortuna durante sua vida ou após sua morte.
Confira destaques de uma rara entrevista do bilionário feita pela Forbes:
Forbes: Observando o cenário macroeconômico atual, quais são alguns dos maiores riscos que os investidores estão enfrentando no momento?
Najafi: Os riscos são geopolíticos: relações EUA-China, Ucrânia, Israel. Este é provavelmente o ambiente mais incerto desde a Segunda Guerra Mundial, tanto do ponto de vista geopolítico quanto político interno, tanto na Europa quanto nos EUA. O que realmente ajudou a nossa economia global a crescer significativamente desde a Segunda Guerra Mundial foi o liberalismo e o comércio, que permitiram que muitas pessoas ao redor do mundo saíssem da pobreza e se tornassem grandes consumidores de produtos americanos. Então, as políticas liberais e de comércio são uma preocupação particular.
Forbes: E quanto às oportunidades? Há alguma ideia ou tema de investimento que você considere especialmente relevante para os investidores hoje?
Najafi: Continuo acreditando em encontrar áreas geográficas ou indústrias que estão passando por tempos difíceis, e identificar produtos e serviços que não podem ser substituídos pela tecnologia ou inteligência artificial. Não investimos em novas ideias porque não temos o entendimento ou a expertise. Não investimos em IA e nunca investimos em cripto. Não colocamos dinheiro em coisas que eu não possa explicar facilmente a outras pessoas.
De uma perspectiva geográfica, se estivesse disposto a correr certos riscos, consideraria a Ucrânia um lugar muito fascinante. Ela precisará ser reconstruída. Trilhões de dólares serão investidos lá no pós-guerra. É uma nação e um povo resilientes. Não serão derrotados. É uma localização fascinante do ponto de vista da infraestrutura, mas também em termos de imóveis e capital humano. Em tecnologia, eles estão entre os melhores do mundo.
Domesticamente, não acredito que imóveis e escritórios vão desaparecer. O que está acontecendo é que estamos passando muito tempo no Zoom, não interagimos tanto socialmente como antes, e, como resultado, o lado experiencial da economia está decolando. As pessoas estão dispostas a pagar um valor adicional por eventos especializados e experiências desse tipo. Atualmente, estamos focados em esportes com eventos de múltiplos dias, como o X Games, no qual investimos em 2022.
Forbes: Como você começou no mundo dos investimentos?
Jahm Najafi: Minha carreira de investimentos começou em 1990, quando deixei a Salomon e voltei para Phoenix. Comecei a olhar para oportunidades de investimento em imóveis logo após o governo federal criar a Resolution Trust Corporation para assumir uma série de instituições de poupança e empréstimo que faliram no final dos anos 1980. Me juntei ao meu irmão mais velho, Francis, para formar um pequeno grupo de investimentos. Ele era o sócio majoritário e eu o minoritário.
Achamos que era o momento certo para começarmos a olhar para ativos do RTC, porque a economia subjacente do setor imobiliário ainda era positiva. Entre 1990 e 1993, adquiríamos propriedades e, em seguida, buscávamos capital para comprá-las. Em 1993, conseguimos atrair três fundos de pensão para o nosso projeto. Expandimos significativamente o negócio até 2002, quando saí para abrir minha própria empresa de investimentos, a Najafi Companies, pois queria pensar em investimentos com um horizonte de tempo muito mais longo do que é típico em um fundo de private equity. Decidi não levantar capital de terceiros e investir apenas o meu próprio capital.
Forbes: Quais foram alguns dos seus primeiros investimentos como investidor independente?
Najafi: O primeiro investimento que fiz foi relativamente pequeno, em uma empresa de suplementos nutricionais. Acabamos vendendo alguns anos depois, dobrando o investimento inicial.
O segundo investimento que analisamos foi um cabo submarino no Pacífico. Ele foi construído nos anos 1990 por cerca de US$ 850 milhões (R$ 4,85 bilhões) e entrou em falência. Estávamos analisando a compra por cerca de 10 centavos por dólar; o valor acordado era de cerca de US$ 66 milhões (R$ 376,2 milhões), mas, devido aos requisitos regulatórios e processos de aprovação em diferentes jurisdições locais e nacionais, levaria seis meses.
E durante esse período de seis meses, o valor aumentou significativamente, e o espólio de falência decidiu não vendê-lo para nós pelo preço mais baixo. Recebemos uma taxa de desistência, que foi de 10% do valor de compra.
Forbes: Um dos seus primeiros investimentos – um negócio chamado Network Solutions – se tornou um dos seus maiores sucessos. Como você identificou essa oportunidade e a executou?
Najafi: Uma das razões pelas quais decidi investir em telecomunicações e serviços de internet foi que vi dinâmicas semelhantes às que observei no setor imobiliário na década de 1980. Com a Lei de Telecomunicações de 1996, houve um fluxo significativo de capital que aumentou consideravelmente o mercado. Isso excedeu a demanda, e em 2000 e 2001 os preços começaram a cair, levando muitas empresas de telecomunicações e internet à falência. Achei que deveríamos focar nesse setor porque havia ativos subvalorizados. Procurar oportunidades únicas e novos parâmetros de precificação está presente em toda a minha carreira de investimentos.
A forma como encontramos a Network Solutions, que adquirimos em outubro de 2003, foi que, no final de 2002, havia mais de 100 empresas sendo negociadas publicamente a valores abaixo do que tinham em caixa. Decidi me concentrar em um negócio que pudesse entender com facilidade, e esse negócio foi a Register.com, uma registradora de domínios listada em bolsa. Ela tinha cerca de US$ 240 milhões em caixa, mas suas ações estavam sendo negociadas a US$ 2 cada.
Eu havia pesquisado e descoberto uma empresa local de rápido crescimento chamada GoDaddy, em Scottsdale. Liguei para o fundador, Bob Parsons, e disse: ‘Bob, estou fascinado com seu setor e seu negócio. Vamos fazer uma parceria’, e ele disse: ‘Ótima ideia, vamos fazer isso.’
Mas, infelizmente, outra empresa acabou comprando a Register.com.
Forbes: Você investiu em diferentes tipos de indústrias. Qual é sua abordagem para identificar oportunidades em setores com os quais você tem menos familiaridade?
Najafi: O trabalho mais importante que temos é fazer parceria com a equipe de gestão certa. Posso estudar um setor por anos e ainda assim não terei o nível de expertise da equipe de gestão. Nossa abordagem é encontrar a equipe certa, fazer as perguntas corretas, pensar em questões estratégicas e deixá-los fazer o trabalho.
Nossa contribuição é nosso conhecimento sobre o mercado em geral, nossa habilidade em pensar nos negócios de forma diferente.
Minha visão é que um cliente satisfeito é sempre a forma de marketing mais barata. É preciso garantir que cada cliente esteja satisfeito e que o produto que oferecemos realmente agregue valor à sua vida. É por isso que não investimos em certos setores. Não invisto em negócios dos quais não posso falar com meus filhos de forma honesta. Não investimos em empresas de empréstimos consignados ou em jogos e apostas, por exemplo, independentemente do quanto possam render.
Forbes: Conte-nos mais sobre sua filosofia de investimento ao identificar parâmetros de preços incomuns. O que você quer dizer com isso?
Najafi: Eu diria que se trata mais de identificar deslocalizações econômicas ou específicas da indústria. Isso ocorreu primeiro no início dos anos 1990 nos mercados imobiliários, o que realmente criou o conhecimento e a disciplina para pensar nos negócios como um investimento ao longo de um período de 5 a 10 anos. Você precisa considerar tanto o risco de baixa quanto a oportunidade de alta; os mercados se recuperam, desde que o negócio subjacente seja fundamental. O uso de edifícios nunca desapareceu durante o colapso imobiliário dos anos 1990. A demanda por serviços de telecomunicações e internet não desapareceu durante a crise dos anos 2000. Houve uma enorme oferta excessiva de capital nessas indústrias que sobrecarregou a demanda, levando a uma queda de preços.
A mesma coisa aconteceu em 2008 e 2009 durante a crise habitacional. Assim, em 2009, decidimos comprar uma construtora, a Trend Homes. Quando você enfrenta essas crises sistêmicas, o que você faz é comprar negócios que ainda são fundamentalmente sólidos.
Forbes: Se você pudesse dar um conselho ao seu eu de 20 anos sobre investimentos, qual seria?
Najafi: Faça poucas decisões definitivas. Permita-se cometer muitos pequenos erros que não sejam fatais e aprenda com eles. Quando você se deparar com um desvio, siga em frente. Saiba que você tem a capacidade de pensar criticamente sobre as coisas dia após dia. Mude conforme você aprende mais, porque a vida é uma lição de aprendizado e aquisição de experiência ao longo do tempo. Quanto mais experiências de aprendizado você permitir a si mesmo, mais bem-sucedido você acabará sendo mais tarde na vida.
Forbes: Você tem alguma recomendação de livro que sugere que investidores leiam?
Najafi: Uma coisa que valorizo é ser real e autêntico comigo mesmo, e é por isso que realmente gostei do livro “Richer, Wiser, Happier: How the World’s Greatest Investors Win in Markets and Life“, de William Green. Foi um livro fabuloso porque realmente se tratava de ser autêntico — de ser real e verdadeiro e levar uma vida satisfatória.
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O outro livro que li no início da minha carreira foi “One Up On Wall Street“, de Peter Lynch. Ele ficou comigo porque um dos seus conselhos era: “Eu dou a mim mesmo 10 decisões por ano.” Então, agora, se eu tomar uma decisão de comprar ou vender algo, sempre risco uma decisão da minha própria lista de 10. Portanto, as decisões que tomo precisam ser realmente boas.