O domínio das ações do grupo Magnificent 7 (Nvidia, Apple, Microsoft, Amazon.com, Alphabet, Tesla e Meta Platforms) diminuiu durante a segunda metade do ano, dando lugar às outras ações do grupo “Não Tão Magníficas 493”, ou seja, as demais ações do índice S&P 500, que assumiram a liderança. As Magnificent 7 representaram 62% do retorno total do S&P 500 em 2023, 59% durante a primeira metade de 2024, mas apenas 9,2% durante o terceiro trimestre de 2024.
Essa mudança é saudável e construtiva para a continuação do atual mercado de alta, que já dura mais de dois anos, acumulando um retorno de 74,2% até 29 de novembro de 2024. Para colocar isso em perspectiva, antes do mercado de alta atual, de acordo com dados da Yardeni Research e do Yahoo! Finance, tiveram 12 mercados de alta desde 1946, com uma duração média de 5,3 anos e um retorno acumulado médio de 177,5%.
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A liderança no mercado de ações não foi a única transição que ocorreu em 2024. As eleições nos Estados Unidos resultaram em uma mudança na Casa Branca e no Senado, com os republicanos agora controlando os três pilares do governo federal, já que também mantiveram o controle da Câmara dos Representantes. O Federal Reserve também passou de um ambiente focado no combate à inflação, com taxas de juros mais altas, para os estágios iniciais de uma campanha de redução de taxas que pode durar alguns anos. Eles iniciaram com um corte de 100 pontos-base (1%) nas taxas de juros nos últimos meses de 2024.
De acordo com a última divulgação do gráfico de projeções econômicas, conhecido como “Dot Plot”, em dezembro de 2024, o Fed prevê mais 50 pontos-base (0,50%) de cortes nas taxas em 2025 e outros 50 pontos-base (0,50%) em 2026. A autoridade monetária também projeta que a inflação, medida pelo índice de Preços de Gastos com Consumo Pessoal (Core PCE), deverá cair para 2,5% em 2025 e, posteriormente, para 2,2% em 2026.
Para especialistas, o cenário sugere que os próximos quatro anos serão diferentes dos últimos quatro anos, e que a próxima década será ainda mais divergente da anterior. No curto prazo, a perspectiva de taxas de juros e inflação mais baixas, combinada com o esperado crescimento econômico e estabilidade sob uma administração Trump com o apoio do Congresso, oferece um movimento favorável para oportunidades de crescimento tanto em ações quanto em renda fixa.
10 investimento para 2025
1. Expansão do mercado e crescimento dos lucros:
Para que a amplitude do mercado continue a expandir, o crescimento dos lucros também precisa ampliar. Felizmente, ambas as expansões começaram na segunda metade de 2024, e acredito que esse momentum será mantido ao longo de 2025. De acordo com a FactSet, a taxa de crescimento dos lucros operacionais por ação para o índice geral S&P 500 está projetada em 15%. Como resultado, considerar uma diversificação além das ações de grandes empresas norte-americanas, mas sem abandoná-las, é uma estratégia que vale a pena para o novo ano. As candidatas à expansão incluem ações de empresas norte-americanas de médio porte, de pequeno porte e ativos internacionais que oferecem dividendos atraentes, têm um histórico de desempenho consistente e estão bem posicionados para retornos no futuro.
2. O investimento em inteligência artificial:
Segundo a Faist, em 11 de junho de 2024, o mercado global de IA deve alcançar US$ 1,81 trilhão (R$ 11,22 trilhões) até 2030, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 36,6%. No entanto, investidores e empresas precisam ser pacientes com seus investimentos nessa tecnologia, pois muitos não verão retorno no curto prazo.
A revolução da IA é um caminho longo, cheio de obstáculos, que produzirá vencedores e perdedores. Por isso, em vez de apenas tentar identificar a próxima Nvidia ou empresa de chips/semicondutores promissora, os investidores devem considerar oportunidades em todo o ecossistema de IA, que inclui data centers, software, hardware e chips/semicondutores. Em particular, os data centers e necessidade de soluções de energia tornaram-se componentes críticos do ecossistema de IA.
3. Investimento em defesa e segurança:
As necessidades de defesa e segurança nacional dos Estados Unidos estão focadas na reposição de estoques, modernizações e atualizações, abordando lacunas na prontidão naval, aprimorando sistemas de defesa antimísseis destacados por conflitos recentes e integrando tecnologias de ponta, como drones, para enfrentar ameaças globais em evolução.
Com isso, os investimentos em defesa nos EUA devem aumentar na próxima década, totalizando US$ 1,1 trilhão (R$ 6,82 trilhões) em 2034. Isso representa um aumento de mais de 20% em relação a 2023 e de 263% em relação ao ano 2000, segundo o Statista Research Department. Por isso, as empresas que desempenham papéis em áreas de aprimoramento militar, avanço em sistemas de defesa antimísseis e inovação em tecnologias autônomas têm potencial de se beneficiar desse aumento de gastos.
4. Fed adota ritmo gradual para reduções de juros:
De acordo com o gráfico de projeções econômicas do Fed, o Dot Plot, o banco central prevê cortes adicionais de 50 pontos-base (0,50%) em 2025 e outros 50 pontos-base (0,50%) em 2026. Isso vem na esteira dos 100 pontos-base (1%) de cortes realizados nos meses finais de 2024. Além disso estão alinhados com a expectativa de taxa neutra de longo prazo da autoridade monetária, em torno de 3,0%.
Dessa forma, o Fed adotará um ritmo mais gradual de flexibilização em 2025 e 2026, sem cortes superiores a 25 pontos-base (0,25%) de cada vez, até que a taxa-alvo dos Fed Funds se aproxime da expectativa neutra de longo prazo de 3%. No entanto, isso pode não ser alcançado até o final de 2026, já que há muitas incertezas relacionadas ao mercado de trabalho, inflação, possíveis tarifas e as políticas a serem implementadas pela nova administração.
Independentemente do ritmo dessa campanha de cortes, está claro que as taxas de juros serão mais baixas em 2025 e nos próximos dois anos. Como resultado, investir em áreas do mercado que tendem a se beneficiar de um ambiente de juros em declínio é algo a se considerar. Esses investimentos podem incluir, mas não se limitam a, certos setores de ações, como saúde, tecnologia da informação, bens de consumo básico, serviços financeiros, serviços de comunicação e bens de consumo discricionário, além de títulos de diferentes qualidades de crédito, com maior peso para os de grau de investimento.
5. Empresas farmacêuticas recorrendo a biotechs de pequeno porte:
As grandes empresas farmacêuticas enfrentam desafios, desde suas margens de lucro sendo pressionadas pela tentativa de Washington, D.C., de reduzir os preços dos medicamentos e até na queda das receitas de grandes medicamentos que perderam a patente, abrindo espaço para concorrência com genéricos mais baratos.
Com isso, uma solução para esse dilema de receita pode estar nas tecnologias de saúde desenvolvidas por empresas biotecnológicas de pequeno porte. Essas inovações, muitas vezes impulsionadas por avanços em inteligência artificial, incluem terapias genéticas, terapêuticas baseadas em RNA, tratamentos de oncologia de precisão, como as terapias celulares CAR-T, e avanços em medicamentos para obesidade, como os GLP-1. Em 2024, de acordo com a BioPharma Drive, em 26 de novembro, tiveram 36 transações de fusões e aquisições (M&A) no setor de biotecnologia, totalizando pouco mais de US$ 45 bilhões (R$ 279 bilhões). O valor é abaixo das expectativas para o ano, pois muitas negociações envolveram empresas menores. No entanto, o prêmio médio pago nas 36 transações foi de 83%.
Olhando para 2025, alguns analistas estão otimistas de que o valor das transações de M&A relacionadas a biotecnologia irão aumentar. A PwC, em seu relatório “Pharmaceutical and Life Sciences: U.S. Deals 2025 Outlook”, prevê que movimentos entre US$ 5 bilhões e US$ 15 bilhões (R$ 31 bilhões a R$ 93 bilhões) manterão uma atividade robusta, embora reconheça fatores geopolíticos que podem gerar desafios.
Os investidores devem identificar biotechs de pequeno porte com medicamentos inovadores no pipeline de aprovação da FDA, que sejam atraentes para grandes empresas farmacêuticas interessadas em incorporar essas soluções a suas plataformas. As empresas biotecnológicas com terapias baseadas em RNA ou imunologia avançada tem apelo para aquisições no cenário atual, de acordo com a Biopharma Boardroom. Dessa maneira procurar empresas com medicamentos em Fase II ou III no processo de aprovação da FDA é uma boa alternativa para identificar oportunidades de investimento.
6. Títulos municipais americanos prontos para se destacar:
A renda isenta de impostos é sempre atraente para investidores, especialmente aqueles com impostos mais altos. No início do ano, os balanços dos governos locais e estaduais estão sólidos, e a perspectiva positiva para o emprego e a economia em 2025 deve favorecer a arrecadação tributária de muitos municípios. Com isso, os rendimentos dos títulos municipais devem permanecer atraentes para investidores em 2025.
As taxas de juros de curto prazo mais baixas também devem beneficiar fundos fechados (CEF) que empregam alavancagem, muitos dos quais ainda estão sendo negociados com desconto em relação a seus valores patrimoniais líquidos (NAVs).
7. Recuperação no setor financeiro:
Alguns dos fatores que levaram à crise dos bancos regionais e seus efeitos posteriores se dissiparam, com a redução das taxas de juros de curto prazo, o aumento dos preços dos títulos do Tesouro dos EUA e menos regulamentação após a eleição de Donald Trump. O analista da Piper Sandler, Mark Fitzgibbon, espera uma atividade robusta na área de fusões e aquisições (M&A) no setor bancário em 2025 e 2026, com aprovações rápidas e processos mais claros sob a administração Trump. Além disso, os bancos regionais se recuperaram na segunda metade de 2024, e o mercado acredita que esse movimento continuará no próximo ano.
8. Ativos preferenciais se beneficiam com melhora na área financeira e taxas mais baixas:
As ações preferenciais representam a participação em uma empresa e possuem características tanto de ações quanto de títulos. Geralmente, pagam uma renda fixa, têm um valor nominal, possuem classificação de crédito e são negociadas em grandes bolsas. Também costumam oferecer um dividendo declarado mais alto do que as ações ordinárias e até mesmo os títulos da mesma empresa.
As preferenciais sofreram um retrocesso após a crise dos bancos regionais em março de 2023, especialmente porque os bancos são os maiores emissores dessas ações, e o risco de contágio preocupava os investidores. No entanto, muitos dos fatores que levaram à crise bancária já se dissiparam, criando pontos de entrada atraentes para várias preferenciais que ainda não se recuperaram totalmente, com potencial de retorno total nos próximos meses.
9. Fontes de energia para potencializar retornos:
De acordo com a Reuters, em 29 de maio de 2024, os data centers devem consumir até 9% de toda a eletricidade gerada nos EUA até o final da década, mais que dobrando o consumo atual. Com a rede elétrica americana antiquada e pouco confiável, os data centers, que são o sistema nervoso do ecossistema de IA, precisarão buscar fontes alternativas de energia, como gás natural e energia nuclear, para atender às suas crescentes demandas.
Segundo a S&P Global Ratings, o aumento da procura energética dos data centers dos EUA levará a um consumo adicional de gás natural de 3 a 6 bilhões de pés cúbicos por dia até 2030. Já para a energia nuclear, a Goldman Sachs acredita que estamos no início de uma “renascença nuclear”, com pequena participação de reatores modulares (SMRs) e grandes usinas nucleares. As empresas que oferecerem produtos ou serviços nessas áreas devem se beneficiar da demanda crescente por energia em 2025.
10. Espere mais volatilidade de curto prazo, mas não abandone as ações:
Em 2024, até 2 de dezembro, houve apenas 16 dias em que o índice S&P 500 se moveu mais de 1,5% em um único dia de negociação – sendo que 7 desses 16 dias foram movimentos positivos. Isso representa apenas 3% dos dias de negociação com movimentos negativos acima de 1,5%, um nível historicamente baixo de volatilidade, que provavelmente não se repetirá em 2025.
O S&P 500 também registrou 54 máximas históricas em 2024, indicando avaliações elevadas e a possibilidade de correções menores. Essas correções podem atrair capital para aproveitar pontos de entrada mais atrativos. A possibilidade de maior volatilidade em 2025 não significa que os investidores devem tentar cronometrar o mercado, já que isso, na maioria das vezes, resulta em perdas. Em vez disso, uma abordagem mais equilibrada, com estratégias como peso igualitário, opções cobertas ou ações defensivas, pode ser apropriada para os portfólios.