Hoje o dólar, enfim, cedeu. Mas foi preciso um esforço hercúleo para tanto.
No Congresso, o pacote fiscal avançou — ainda que tenha sido desidratado ao abrir brechas para gastos maiores do que os previstos —, e Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo negaram ver um ataque especulativo do mercado e cobraram cuidado com o fiscal. Isso ajuda, mas foi a injeção de dólares feita pelo Banco Central que levou a moeda americana a reagir.
Hoje, o BC quebrou um recorde ao anunciar um leilão de US$ 5 bilhões em uma tacada só. E essa foi a segunda intervenção do dia. A primeira foi a venda de US$ 3 bilhões, que havia sido anunciado após a divisa bater R$ 6,30.
O resultado foi um recuo de 2,29%, cotado a R$ 6,1243. Com isso, o Real apagou quase metade da alta de 5% registrada nos últimos dias. A bolsa também interrompeu a sua sequência de quedas — o Ibovespa subiu 0,34%, aos 121.187 pontos.
Em Brasília, o texto que restringe o acesso ao abono salarial, projeto que faz parte do pacote fiscal, foi aprovado e reduziu a chance de que o recesso parlamentar chegue antes do fim da tramitação.
O leilão do BC
No leilão, o BC aceitou 10 propostas, com um diferencial de corte de -0,035000, entre às 10h35 e 10h40.
Ontem, a moeda americana fechou próximo da casa dos R$ 6,30 — patamar batido nesta manhã. Os fatores de influência foram o risco fiscal, o leilão mal sucedido do Tesouro Nacional (o que aumentou a crise de credibilidade) e a sinalização de que o Federal Reserve deve cortar menos juros em 2025.
Dentre leilões tradicionais (feitos para suprir a demanda mais elevada por dólares no fim do ano) e intervenções extraordinárias, o BC injetou cerca de US$ 20,75 bilhões no sistema financeiro desde a última quinta-feira — com pouco sucesso na tarefa de segurar a escalada da moeda.
Galípolo e RCN em cena
O atual e o futuro presidente do Banco Central serviram como bombeiros para o mercado.
Galípolo e Roberto Campos Neto participaram da coletiva do Relatório Trimestral de Inflação, divulgado nesta manhã. Eles enfatizaram que a autoridade monetária tem ferramentas para atingir a meta de inflação e mostraram não acreditar que o real esteja sofrendo um ataque especulativo. Eles também afirmaram que as intervenções no câmbio servem para coibir disfuncionalidades e não defender um patamar ideal.
A declaração foi vista como benéfica pelo mercado, que vê pouco espaço para que o BC seja passivo com relação a deslizes fiscais do governo.