Banho de água fria. É assim que o ano de 2024 pode ser descrito por economistas, analistas, gestores de patrimônio e, claro, investidores. O susto com o ano que está prestes a terminar foi tão grande que, para 2025, os especialistas até se limitam a fazer projeções para uma pontuação do Ibovespa nos próximos 12 meses.
Mas isso não significa que a palavra de ordem é sair de vez da renda variável. Oportunidades ainda existem, embora estejam mais limitadas — e estratégias que buscam ganhos no longo prazo ou renda passiva são as favoritas dos especialistas.
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Para esta matéria a Forbes Brasil conversou com Gilberto Nagai, Superintendente de Renda Variável da SulAmérica Investimentos, Frederico Nobre, chefe de análises da Warren Investimentos e Roberto Chagas, chefe de renda variável da Santander Asset Management.
A bonança que não veio
Ao fim de 2023, havia uma série de expectativas positivas para a bolsa brasileira no horizonte. Tudo apontava para um crescimento menor, mas inflação controlada e um “pouso suave” da política monetária — no Brasil e no exterior. Não foi isso que aconteceu.
A queda de quase 10% da bolsa em 2024 não estava na conta dos analistas. A forte crise de credibilidade fiscal das últimas semanas também não. Por um tempo, as expectativas se mostraram verdadeiras e a bolsa brasileira chegou a flertar com a casa dos 140 mil pontos. Tudo mudou em questão de semanas.
A Selic chegou a cair — indo de 11,75% em 31 de dezembro de 2023 para 10,50% em maio, mas ficou muito longe da marca de um dígito. A inflação persistente e uma economia aquecida fez com que o BC interrompesse o ciclo de corte. Uma crise de credibilidade fiscal deu uma guinada brusca nas expectativas do mercado e já há quem fale em uma Selic de 15% no ano que vem.
Para controlar os gastos públicos nos próximos anos, o mercado financeiro esperava um pacote fiscal capaz de manter o arcabouço fiscal intacto. O projeto do governo, no entanto, frustrou a Faria Lima — o resultado foi uma forte pressão na curva de juros e um dólar a R$ 6,30.
No cenário externo, novas frustrações. A grande expectativa era para as eleições americanas, mas houve sobressaltos ao longo de todo o ano. Ao invés da desaceleração econômica nos Estados Unidos, o que se viu foi uma inflação persistentemente acima da meta e, apesar do Federal Reserve ter realizado corte nos juros, eles começaram mais tarde do que o esperado e devem terminar mais cedo.
O resultado: um ambiente avesso à tomada de risco.
“Os economistas erraram em tudo. Hoje estamos discutindo uma alta de juros que não se sabe a magnitude em um cenário completamente diferente, onde a inflação está acima da meta, o câmbio estourou e o PIB cresceu mais do que o estrutural”, aponta Frederico Nobre, chefe de análises da Warren Investimentos.
Para 2025, ninguém quis arriscar um patamar para o Ibovespa.
O que esperar para 2025?
É em uma toada de grande pessimismo que a virada do ano chega para o mercado financeiro. O pacote fiscal foi aprovado pelo Congresso no apagar das luzes do ano parlamentar, mas acabou trazendo uma economia menor do que a projetada pelo governo (e contestada pelo mercado).
Em linhas gerais, a previsibilidade sobre o futuro segue prejudicada — e os dias de queda andam sendo a norma na B3. A renda fixa, com taxas que encostam nos 15% ao ano, herdam o capital que poderia estar na bolsa brasileira.
A tendência é que, pelo menos nos primeiros meses de 2025, o cenário permaneça muito parecido com o visto ao de 2024.
Roberto Chagas, chefe de renda variável da Santander Asset Management, acredita que o ano será desafiador, mas não necessariamente um ano ruim, o que não o deixa completamente pessimista com a renda variável.
“Ser desafiador não significa ser um ano bom ou ruim. Tem a ver com a baixa previsibilidade e eventos que podem mudar muito a direção de onde estamos indo”, explica Chagas.
Apesar da queda dos juros não ter acontecido como o esperado, especialistas apontam que o valor de mercado das empresas nunca esteve tão barato. Isso porque, apesar da turbulência no cenário macroeconômico, as empresas estão menos endividadas e mais rentáveis do que em qualquer outro momento da história — incluindo a crise de 2015, com grandes paralelos com o momento atual.
Onde investir?
Os especialistas consultados pela Forbes são unânimes: as oportunidades estão em empresas com grande capacidade de previsibilidade na geração de caixa pelos próximos anos e um estágio de maturidade já avançado, já que, assim, é possível ter um “conforto” na escolha independente do cenário.
Nesse caso, empresas muito dependentes de oferta de crédito ou com grande necessidade de investimentos são descartadas. Isso porque competir com a rentabilidade do CDI em tempos de Selic a 14% limita muito as opções disponíveis.
E se as apostas estão em grandes geradoras de caixa, estratégias com foco em dividendos também são bem vindas. Isso porque competir com a rentabilidade do CDI em tempos de Selic a 14% limita muito as opções disponíveis, mas uma boa estratégia de dividendos pode superar o benchmark em diversas janelas de tempo.
Para Chagas, do Santander, setores como o de bancos, seguros e elétrico são os favoritos para uma estratégia de renda passiva. Enquanto os dois primeiros são beneficiados pelo retorno financeiro da Selic, o setor elétrico tem contratos reajustados pela inflação e receita previsível.
Nobre, da Warren, também aponta uma preferência por empresas que possuem a sua receita dolarizada — em especial exportadoras de commodities. Apesar dos temores com a economia chinesa, principal país formador de preços de diversas commodities, ele acredita que o minério de ferro, por exemplo, não deve cair para patamares muito menores do que US$ 90 e que, ainda que esse seja o “piso”, seria suficiente para a geração de caixa das empresas brasileiras. Ou seja: os cenários mais negativos já foram precificados pelo mercado.
Com segurança e previsibilidade sendo o mote do ano, Gilberto Nagai, Superintendente de Renda Variável da SulAmérica Investimentos, lembra que tudo pode mudar tão rapidamente quanto o cenário visto ao fim de 2024 — abrindo oportunidades na renda variável.
“O Brasil, ele muda muito rápido. Todo esse cenário pode mudar como aconteceu no fim do ano. Esse é o cenário hoje, mas o Brasil pode melhorar muito rápido e os papéis estão muito estressados”, conclui.
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