O ano de 2024 foi marcado pelas eleições presidenciais nos Estado Unidos e por uma forte deterioração fiscal no Brasil, com a taxa Selic saindo de 10,50% no meio do ano e indo a 12,25% em dezembro. No entanto, os eventos que mais impactaram o mercado financeiro tiveram origem no exterior.
Em um cenário de grande polarização política, a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, em 5 de novembro, gerou expectativas mistas sobre o impacto de sua gestão na economia global, incluindo o Brasil. Mesmo que as votações só tenham sido realizadas em novembro, Trump foi motivo de especulação durante todo o ano. Afinal, ao contrário dos demais países, a eleição americana interessa a todos, americanos ou não.
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Os Estados Unidos são o principal (ou o segundo maior) parceiro comercial do resto do mundo. Também são o maior mercado consumidor, a principal fonte de tecnologia e de capital e o principal poder militar.
O impacto de Trump nos investimentos foi muito além do rali das bolsas americanas em sua vitória. Ele esteve por trás das principais histórias do mercado financeiro no ano — a alta recorde das bolsas em Nova York, os recordes rompidos pela Nvidia e o bitcoin acima dos US$ 100 mil (R$ 600 mil).
Confira os principais fatos do ano:
Trump: a vitória que levou as bolsas americanas para máximas histórias
Depois de uma eleição polarizada e indecisa até o grande dia, a vitória de Donald Trump, em 5 de novembro, tem embalado as projeções do mercado.
A expectativa é que a política econômica de Trump seja marcada por forte protecionismo e pelo aumento dos gastos públicos, ampliando ainda mais o déficit dos EUA. Um dos pilares da campanha de Trump foi a ideia de “America First” ou “Estados Unidos em primeiro lugar”, que defende o aumento de tarifas para proteger empregos americanos, especialmente os de baixa qualificação.
Essa proposta de Trump, pode tanto desequilibrar as contas públicas quanto aumentar os custos da economia. Os especialistas preveem que a política deve elevar a inflação, provocando um repasse nos juros americanos. Isso fortalece o dólar, o que também é inflacionário para países emergentes como o Brasil. Trump também defende cortes nos impostos corporativos e tem se aproximado das grandes big techs.
Sua vitória gerou uma forte reação na bolsa americana — levando os índices a renovarem suas máximas históricas.
Wall Street projeta cortes de impostos, menor regulamentação e um presidente dos EUA com uma postura ativa no mercado de ações. A reeleição de Trump também desencadeou um rali nas chamadas “Trump trades”.
O Dow Jones ganhou mais de 1.250 pontos, enquanto o índice de referência se aproximou do nível de 6.000 pontos. A maioria dos setores do S&P 500 operava em alta, com destaque para o setor financeiro, que liderava os ganhos ao avançar 5,1% e alcançar um recorde histórico.
Consequentemente, além de ter sido uma semana de euforia para o mercado de ações, os bilionários ficaram ainda mais ricos. O CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk viu as ações da Tesla dispararem quase 30% , elevando o valor de mercado da empresa para mais de US$ 1 trilhão (R$ 6,08 bilhões). Esse movimento adicionou US$ 41 bilhões (R$ 233,7 bilhões) ao seu patrimônio líquido.
Com isso, Musk alcançou US$ 400 bilhões (R$ 2,4 trilhões) pela primeira vez na história. Segundo a estimativa da Forbes, ele encerrou a semana da vitória de Trump com um patrimônio líquido de US$ 304 bilhões (R$ 1,73 trilhão).
Nvidia: como a fabricante de chips se tornou a empresa mais valiosa do mundo
Com a eleição de Trump dando gás para as bolsas e o boom da inteligência artificial fazendo a Nvidia crescer o seu lucro em cerca de três dígitos trimestre a trimestre, a gigante de tecnologia tornou-se a primeira empresa de chips a superar um valor de mercado de US$ 3,65 trilhões (R$ 21,17 trilhões). Com essa alta, ela superou o recorde da Apple, que chegou a US$ 3,57 trilhões (R$ 20,66 trilhões).
Também, no dia 4 do mesmo mês, tornou-se a maior empresa do mundo, superando a Apple, fabricante do iPhone, marcando mais uma conquista para o gigante. A capitalização de mercado da Nvidia atingiu US$ 3,4 trilhões (R$ 19,63 trilhões) na manhã do dia 4, superando a Apple (US$ 3,35 trilhões – R$ 19,34 trilhões) como a empresa pública mais valiosa do planeta.
Trump ajudou, mas não é o único responsável por isso. A empresa produz cerca de 75% dos aceleradores de IA do mundo, a tecnologia de semicondutores que alimenta aplicativos de IA generativa como o chatbot ChatGPT da OpenAI. Com a demanda aquecida e sem sinais de que há uma saturação no mercado, a Nvidia pode ir ainda mais longe.
O lucro líquido da Nvidia aumentou de US$ 2,3 bilhões (R$ 13,28 bilhões) no primeiro semestre de 2022 para US$ 31,5 bilhões (R$ 181,83 bilhões) no primeiro semestre de 2024, e seu preço das ações subiu 850% nos últimos dois anos.
Até novembro, as ações da Nvidia acumularam uma alta de 12%, e o valor da empresa triplicou em 2024. Em 20 de novembro a empresa divulgou seu balanço trimestral e os valores ficaram acima da expectativa de mercado.
A receita atingiu os US$ 35,08 bilhões (R$ 202,51 bilhões) ante US$ 33,16 de previsões de analistas, 17% superior ao período de três meses anterior e 94% acima do mesmo intervalo do ano passado. Outro fator que a impulsionou foi o destaque como a grande vencedora de Wall Street em tecnologia , superando empresas como Microsoft e Alphabet na corrida para expandir a capacidade de computação em inteligência artificial.
No ano, os papéis da companhia acumulam alta de 170%.
Bitcoin: de patinho feio aos US$ 100 mil
Outro segmento beneficiado foram as criptomoedas. O valor do Bitcoin, a maior e mais conhecida moeda digital do mundo, mais do que dobrou em 2024. As criptos dispararam desde a vitória de Trump, pois os traders apostam que o apoio prometido pelo presidente eleito aos ativos digitais levaria a um regime regulatório menos restritivo.
O presidente eleito declarou que tem como missão transformar os Estados Unidos na “capital mundial das criptomoedas” e garantiu que manteria “100% de todos os bitcoins que o governo dos EUA possui ou vier a adquirir”. Essa postura é uma mudança significativa, já que, no governo anterior, Trump chamava as criptomoedas de “fraude” e “desastre iminente.”
As cotações subiram mais de 36% desde o dia das eleições, quando o bitcoin valia US$ 75,6 mil (R$ 453,6 mil). O preço da moeda digital aumentou 133,41% desde o início do ano, quando estava avaliado em US$ 44,2 mil (R$ 265,2 mil). E então, a moeda digital bateu a marca dos US$ 100 mil — considerado um patamar psicológico importante.
Além disso, outro fator aumentou ainda mais a confiança do mercado, uma reportagem do Financial Times apontou que a empresa de mídia social de Donald Trump, Trump Media and Technology Group, que opera o Truth Social, estava em negociações para comprar a empresa de comércio de cripto Bakkt, apoiada pela Intercontinental Exchange, proprietária da NYSE.
Com isso, em 20 de novembro, o Bitcoin subiu para um novo recorde acima de US$ 94 mil (R$535,8 mil).
Para estimular ainda mais as cotações, o anúncio de Paul Atkins para presidir a Securities and Exchange Commission (SEC), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) americana, foi motivo de ainda mais euforia para o mercado. O escolhido é uma indicação do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. Em novembro, o atual presidente da SEC, Gary Gensler, anunciou que deixará o cargo em janeiro.
A sua saída foi um alívio para o setor de criptomoedas, já que sua gestão foi marcada por ações de fiscalização contra empresas de criptoativos, incluindo grandes exchanges.