A SpaceX pode agarrar o título de startup mais valiosa do mundo após ser avaliada em US$ 350 bilhões (R$ 2,1 trilhões). Em uma oferta secundária de ações prevista para ocorrer ainda este mês, os investidores esperam alcançar uma valorização superior aos US$ 210 bilhões (R$ 1,26 trilhão) alcançados no início de 2024.
Como uma empresa privada, a SpaceX não divulga publicamente seus detalhes financeiros. No entanto, os analistas do setor fizeram estimativas sobre seu crescimento de receita e lucros. Por exemplo, os modelos do Morgan Stanley indicam que uma avaliação de US$ 350 bilhões (R$ 2,1 trilhões) implicaria um índice preço/vendas de 23,6 e um índice preço/lucro de 308 para 2024. Com a trajetória de rápido crescimento da SpaceX, espera-se que esses índices caiam, com o preço/vendas projetado para 5,2 e o preço/lucro para 24 até 2030.
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A economia espacial deve crescer para US$ 1,8 trilhão (R$ 10,8 trilhões) até 2035 e, com outra rodada de captação de recursos, a SpaceX estará posicionada para capturar uma parte significativa dessa expansão. O sucesso da empresa é impulsionado por sua tecnologia, estratégia de integração vertical e fontes de receita diversificadas, destacando-se principalmente pelo seu serviço de internet via satélite, o Starlink. Mesmo assim, a companhia ainda precisa justificar sua elevada avaliação, que pode enfrentar mais restrições devido a questões regulatórias do que à falta de capital.
A crescente influência de Elon Musk em Washington apresenta oportunidades e riscos para a SpaceX. Seus laços estreitos com líderes políticos podem ajudar a garantir contratos favoráveis e uma maior flexibilidade regulatória, acelerando as ambições da companhia para a colonização de Marte e a expansão do Starlink. Esse otimismo pode ser um dos fatores por trás do aumento da avaliação. No entanto, a influência política de Musk e sua estimada participação de 42% no capital da empresa sujeitam-na a um maior escrutínio político e à aparência de um conflito de interesse, especialmente à medida que ele navega entre seu papel como contratante do governo e empresário privado.
Com uma robusta avaliação de US$ 350 bilhões (R$ 2,1 trilhões), a companhia consolida sua liderança na indústria espacial privada. A avaliação reflete o poder de sua integração vertical. A estratégia da empresa de controlar toda a cadeia de suprimentos, desde a produção de foguetes até os serviços de lançamento e a operação de satélites, e oferece à SpaceX uma vantagem competitiva significativa.
A avaliação recorde não é boa apenas para os funcionários da SpaceX e investidores existentes. É uma ótima notícia também para a indústria de private equity, que enfrentou dois anos de rodadas de captação de recursos abaixo das expectativas e previsões de crescimento não alcançadas.
Crescimento explosivo
O Starlink é um dos principais responsáveis pela valorização da SpaceX. A base de assinantes da tecnologia cresceu para quase 5 milhões de usuários em 114 países, representando um aumento de 100% no último ano. Essa rápida expansão é impulsionada pela capacidade do serviço de fornecer internet de alta velocidade para áreas remotas e mal atendidas.
Segundo um relatório da Quilty Space, o Starlink deverá gerar US$ 6,6 bilhões (R$ 39,6 bilhões) em receita de hardware e assinaturas em 2024, com um EBITDA de US$ 3,8 bilhões (R$ 22,8 bilhões) no mesmo ano. A expansão do serviço para mercados corporativos, como aviação e setor marítimo, diversifica ainda mais suas fontes de receita e desafia os concorrentes no mercado de satélites.
Além disso, a FCC (Comissão Federal de Comunicações dos EUA) aprovou o Starlink para operações diretas para celular (DTC) em 7.500 satélites de segunda geração, preparando o terreno para serviços DTC em escala comercial em colaboração com parceiros como a T-Mobile até o início de 2025. Com aproximadamente 6.690 satélites Starlink ativos atualmente em órbita, a SpaceX representa dois terços de todos os satélites operacionais no mundo.
Em expansão…
O setor de lançamentos da SpaceX também está em expansão. A empresa está a caminho de concluir 130 lançamentos em 2024, mais da metade de todos os lançamentos de foguetes globais. Sua nave de uso recorrente, o Falcon 9, que completou mais de 400 missões bem-sucedidas, continua sendo um ativo crucial. A capacidade da empresa de reduzir os custos de lançamento em 10 vezes nos últimos 20 anos tornou o espaço mais acessível e acelerou o lançamento de satélites, tanto para o Starlink quanto para os concorrentes da SpaceX.
Já o Starship é o veículo de lançamento de dois estágios, totalmente reutilizável e super pesado da SpaceX. Gwynne Shotwell, presidente e COO da SpaceX, acredita que o setor de lançamentos também tem um crescimento rápido pela frente. “Nem podemos imaginar o que o Starship vai fazer pela humanidade e pelas vidas humanas, e eu acho que essa será a parte mais valiosa da SpaceX”, disse Shotwell na Baron Investment Conference em 15 de novembro.
Também, o governo dos Estados Unidos é um dos maiores clientes de lançamentos da SpaceX, com o Departamento de Defesa e a NASA dependentes das capacidades da empresa. Recentemente, a SpaceX garantiu um contrato de US$ 733,5 milhões (R$ 4,4 bilhões) para executar nove missões de segurança nacional nos próximos dois anos, consolidando sua liderança no mercado. Essas missões incluem o lançamento de satélites de detecção de mísseis para a Space Development Agency e satélites de reconhecimento para o National Reconnaissance Office.
Apesar de seus sucessos, a SpaceX enfrenta desafios significativos enquanto equilibra inovação e regulação. O rápido crescimento da empresa expôs lacunas nos marcos legais existentes, levando a pedidos por uma atualização das leis espaciais para lidar com o ambiente em constante mudança. “Regule as indústrias, faça-as seguras, faça-as certas, mas é preciso ir muito mais rápido”, afirmou Shotwell.