O ano de 2024 foi muito positivo para os investimentos em renda fixa. O motivo é fácil de entender: devido à deterioração das expectativas de inflação, o Banco Central (BC) teve de cancelar um afrouxamento da política monetária e elevar a taxa Selic ao longo do ano.
Dois números contam bem essa história. O último Relatório Focus publicado pelo BC em 2023 indicava uma expectativa do mercado da Selic a 9,00% ao ano no fim de 2024. No entanto, os juros encerraram 2024 a 12,25%. E devem continuar subindo.
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Na última reunião do ano, em dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) já indicou mais duas altas de 1 ponto percentual (p.p.) nas reuniões de janeiro e de março, o que levaria a Selic para 14,25%.
Juros e inflação
Não por acaso, os juros renderam bem mais do que a inflação. Segundo um levantamento da consultoria Elos Ayta, a taxa dos Certificados de Depósito Interfinanceiro (CDI) rendeu 10,78% em 2024. Na ponta do lápis, isso representa juros reais de mais de 6%, pois a inflação medida pelo IPCA-15 no acumulado do ano foi de 4,71%.
O IPCA-15 não é o IPCA, a medida oficial da meta de inflação. No entanto, os dois índices são semelhantes, exceto pelo período de apuração. Assim, é bastante provável que a inflação de 2024 supere o teto da meta de 4,50%, justificando novas altas na Selic.
Por isso mesmo, na quinta-feira (2) a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), divulgou uma pesquisa informando que os bancos participantes da Federação esperam juros de 15% em meados deste ano, apesar de não descartarem a hipótese do início de uma queda das taxas no decorrer do segundo semestre.
Captação recorde
Em um cenário como esse, a renda fixa apresenta boas possibilidades para o investidor. De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a captação no mercado de capitais atingiu o valor recorde de R$ 677,3 bilhões de janeiro a novembro, superando em 44,8% o total de 2023.
Isso foi provocado por dois fatores. Um deles foi a estratégia dos bancos de restringir o crédito às maiores empresas e preferir estruturar emissões de renda fixa no mercado de capitais. E o outro foi a demanda dos investidores por essas aplicações, seja diretamente, seja por meio de fundos.
Segundo a Anbima, as debêntures lideraram as emissões, com R$ 405,5 bilhões entre janeiro e novembro. Os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) movimentaram R$ 52,7 bilhões em novas emissões e os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) somaram R$ 36,6 bilhões. Os fundos de investimento em Direitos Creditórios (FIDC) captaram R$ 64,4 bilhões, um recorde para o período.
Quais as perspectivas para este ano? Ainda que a inflação confirme as projeções mais pessimistas e fique ao redor de 5%, a projeção de 14,25% para a Selic indica juros reais de cerca de 9% ao ano, uma taxa bastante atrativa. Assim, 2025 promete ser um período de fortes captações para as aplicações de renda fixa.