Após o anúncio do Federal Reserve (Fed), o mercado vive sob forte expectativa para o fim da chamada Super Quarta. Além do anúncio da instituição financeira americana, está previsto para a partir das 18h30, o do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil. A expectativa é que a Selic suba 1 ponto percentual, chegando a 13,25%. Nos Estados Unidos, foi decidido que a taxa básica permaneceria na faixa de 4,25% a 4,50%, como era largamente esperado. No entanto, não ficou quando novas reduções nos juros poderão ocorrer.
Apesar de ter oscilado em alta em diferentes momentos da sessão, o dólar fechou nesta quarta-feira (29) muito perto da estabilidade no Brasil, chegando à sua oitava sessão consecutiva no vermelho. Com leve baixa de 0,02%, a divisa foi cotada em R$ 5,8682. No entanto, ainda não superou a cotação registrada em 26 de novembro do ano passado, quando encerrou em R$ 5,8096. Por outro lado, a decisão do Fed fez o Ibovespa fechar em nova queda. No final do dia, o índice totalizou 123.432,12, um decréscimo de 0,50%, enquanto o pregão registrou volume financeiro de R$ 15 bilhões.
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Cautelosa e Imprevisível
Em seu comunicado, a instituição financeira americana retirou o trecho que dizia que a inflação “progrediu” em direção à meta de inflação de 2%, destacando apenas que o ritmo de aumento dos preços “continua elevado”. Após a divulgação, os rendimentos dos Treasuries aceleraram, em meio à percepção de que o comunicado do Fed foi hawkish (duro) em relação ao controle da inflação. A leitura de que os juros podem seguir mais elevados nos EUA, para segurar a inflação, também deu força ao dólar ante boa parte das divisas, incluindo o real. Mas até o fechamento, a moeda já havia se reaproximado da estabilidade.
Na visão do economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, o comitê do Fed seguiu o protocolo de não oferecer pistas sobre os próximos movimentos, mas foi enfático em ressaltar que o mercado de trabalho está forte e a inflação permanece acima da meta. “A leitura é que será mais difícil dar continuidade ao ciclo de afrouxamento monetário com relação à visão divulgada na reunião de dezembro”, acrescentou, em nota.
No que tange à queda do Ibovespa, a segunda consecutiva, em parte é explicada pela entrada de capital externo, com o saldo positivo em R$ 4,3 bilhões em 2025 até segunda-feira (27), quando a bolsa paulistana registrou seu primeiro recorde no ano.
Possíveis Motivações
Na visão da gestora de renda variável Isabel Lemos, da Fator Gestão, o movimento recente mais positivo do Ibovespa também pode ser visto como um ajuste à aversão a risco mais forte para o começo do governo de Donald Trump nos EUA. “Ele não chegou com aquele aumento de tarifa para a China que comentava (na campanha). Isso deu, de certa maneira, uma acalmada”, observou Lemos.
Para ela, apesar do alívio nos últimos pregões, o cenário para a bolsa brasileira continua “conturbado” e um dos componentes é o patamar dos juros no país. Mesmo destacando que há ações com níveis de preços atrativos, a gestora pontuou que o nível dos juros cria um ambiente “um pouco mais difícil” para quem busca aumentar a exposição em renda variável.
Na manhã desta quarta, o Banco Central (Bacen) realizou um leilão de linha (venda de moeda com compromisso de recompra no futuro) de US$ 2 bilhões (R$ 11,7 bilhões). Esta foi segunda intervenção no câmbio desde que Gabriel Galípolo assumiu a presidência da autarquia, em 1º de janeiro deste ano. A operação visava rolagem de um vencimento programado para 4 de fevereiro. Em sua operação diária, foram vendidos 15 mil contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 5 de março de 2025.
Destaques do Dia
– LOCALIZA ON perdeu 3,79%, pressionada pelo movimento de alta na curva de juros brasileira, que afetou outros papéis de empresas sensíveis à economia doméstica, entre eles MAGAZINE LUIZA ON, que recuou 2,51%, no segundo dia seguido de queda, após começar a semana marcando máximas em um mês. O índice do setor de consumo caiu 0,6%.
– BRASKEM PNA caiu 2,67%, em mais um dia de ajuste negativo, após forte valorização desde o começo do ano — até a segunda-feira, subia mais de 28%. O analista Conrado Vegner, do Safra, reiterou a recomendação neutra para a ação e reduziu o preço-alvo de 27 para R$ 18, citando recuperação mais lenta do que o esperado nos spreads petroquímicos.
– PETZ ON subiu 2,9%, descolando de outros varejistas em dia de alta nas taxas dos DIs. Após anunciar na segunda-feira que a XP passou a deter uma participação de 11,65% na empresa, a Petz disse na véspera que fundos controladores da Cobasi — que fechou acordo para fusão com a Petz — reduziram temporariamente sua participação na companhia para 8,3%.
– RD SAÚDE ON fechou em alta de 2,14%, no segundo dia de recuperação, após quatro sessões seguidas de queda, período em que as negociações tiveram como pano de fundo notícias envolvendo possibilidade de supermercados venderem medicamentos sem prescrição e definição do fator X referente ao reajuste de preços de medicamentos a ser aplicado em 2025/2026.
– PETROBRAS PN recuou 0,62%, em dia de queda dos preços do petróleo no mercado externo, onde o barril de Brent perdeu 1,17%.
– ITAÚ UNIBANCO PN fechou com variação negativa de 0,24%, enquanto BANCO DO BRASIL ON caiu 0,33%, BRADESCO PN encerrou em baixa de 1,03% e SANTANDER BRASIL UNIT cedeu 0,76%. Itaú, Bradesco e Santander divulgam balanço do quarto trimestre de 2024 na semana que vem, mas o foco estará nos prognósticos para 2025.
– VALE ON fechou em alta de 0,28%, tendo no radar dados na véspera mostrando queda de 4,6% na produção de minério de ferro no quarto trimestre ante o mesmo período de 2023, após a companhia decidir reduzir o volume de produtos de alta sílica para priorizar minérios que rendem maior margem.