Na manhã desta terça-feira (04) o Banco Central (BC) divulgou a Ata da 268ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada nos dias 28 e 29 de janeiro. De certa forma, a Ata não trouxe surpresas. Confirmou o estabelecido na Reunião anterior, de dezembro de 2024: elevou a taxa referencial Selic em 1,0 ponto percentual para 13,25% ao ano e se comprometeu com uma elevação semelhante na reunião de março.
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O texto manteve o diagnóstico sobre a inflação consistentemente acima da meta e se deteve mais detalhadamente sobre a dificuldade de prever os próximos movimentos da economia. Apesar de informar que “[o]s dados mais recentes oferecem sinais incipientes de que alguma moderação do crescimento (…) possa estar se iniciando, em particular no setor de bens e em setores mais sensíveis a crédito”, o texto avalia que “alguns elementos sugerem parcimônia nas conclusões. Os dados ainda são de alta frequência, e as dificuldades com sazonalidade (…) demandam maior cautela na análise”.
Desequilíbrio fiscal
Apesar de usar uma linguagem um pouco mais diplomática, a Ata mantém a percepção do BC de que o desequilíbrio fiscal é um problema. “O Comitê manteve a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas e (…) a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas”, diz o texto. Que não minimizou a importância de as expectativas de inflação estarem ancoradas. “[A] percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida seguiu impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”, informa o texto.
A conclusão se manteve em linha com as reuniões anteriores. “O (…) esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação”.
Novas altas na Selic
Segundo Mário Mesquita, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central e economista-chefe do Itaú Unibanco, a ata apresentou “um tom mais duro do que o Comunicado”. Segundo Mesquita, o texto destaca a preocupação com a deterioração das expectativas de inflação. As autoridades alertam para um possível aumento da taxa neutra, devido a uma política fiscal e parafiscal ainda mais expansionista.
“Apesar de o tom geral da Ata ser mais duro, o texto indica que o Comitê acompanhará a evolução da atividade econômica, do repasse cambial e das expectativas. Isso pode, ou não, refletir uma ordem de prioridades”, diz ele. Segundo Mesquita, o banco projeta que, após o aumento de 100 pontos-base sinalizado para março, haja mais duas elevações, de 75 pontos-base cada, encerrando o ciclo em 15,75% ao ano.
Cenário internacional incerto
A principal diferença é que os riscos de baixa da inflação perderam força. No entanto, o Comitê diz estar preocupado com uma possível desaceleração doméstica mais intensa, agravada por condições financeiras mais restritivas. A conclusão é que o cenário externo se tornou mais incerto, aumentando a probabilidade de choques inflacionários em ambas as direções.
Como interpretar isso? Segundo Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o BC está cumprindo seu papel de maneira adequada. “A meta de inflação é de 3% e o IPCA está muito acima do limite máximo de tolerância”, diz Gamboa. Para tornar o quadro ainda mais adverso, há uma pressão consistente do câmbio devido às incertezas fiscais brasileiras e também por novas incertezas externas pelas novas políticas e diretrizes do governo Trump.