
Nascido em Staten Island, Nova York, Marc Lore estudou negócios e economia na Bucknell e passou seis anos em três bancos antes de decidir largar tudo para abrir uma empresa. O empreendedor, que já se aventurou em tudo, de e-commerce a cartões de beisebol, agora tem um patrimônio estimado em US$ 2,8 bilhões (R$ 16,04 bilhões), segundo a Forbes.
Ele e dois amigos de infância criaram a Pit, um marketplace online de troca de cartões colecionáveis, que venderam em 2001 por US$ 6 milhões (R$ 34,38 milhões). Depois de se tornar pai, Lore abandonou Wharton para cofundar a Diapers.com, vendida para a Amazon em 2010 por US$ 500 milhões (R$ 2,87 bilhões) em dinheiro vivo, antes de ser supostamente fechada em 2017. Em seguida, veio a Jet.com, uma versão do Costco para e-commerce, comprada pelo Walmart por US$ 3,3 bilhões (R$ 18,91 bilhões) em 2016 e encerrada em 2020; Lore permaneceu na empresa para comandar a divisão online do gigante do varejo até 2021.
Ainda naquele ano, ele se uniu ao ex-astro do New York Yankees, Alex Rodriguez, em um acordo para comprar o Minnesota Timberwolves e o Minnesota Lynx, da WNBA, por US$ 1,5 bilhão (R$ 8,59 bilhões), que foram pagos em quatro parcelas até 2024. Lore e A-Rod completaram as duas primeiras rodadas, desembolsando US$ 550 milhões (R$ 3,15 bilhões) por aproximadamente 40% da equipe. A terceira parcela acabou indo para arbitragem devido a uma disputa sobre se a dupla cumpriu o prazo de março de 2024. A Forbes estima que o valor dos Wolves dobrou desde que o acordo foi firmado.
Reiventando seu modelo de negócio
A mais recente aposta de Lore? A Wonder, que se define como “um novo tipo de praça de alimentação”. Ele a fundou em 2018 e assumiu o cargo de CEO após deixar o Walmart. A ideia original era comprar receitas e marcas de restaurantes badalados. A Wonder pagava os chefs, incluindo Bobby Flay e José Andrés, que também faz parte do conselho da empresa, em dinheiro e participação acionária. Em seguida, a Wonder preparava as refeições em cozinhas centrais e as entregava em vans equipadas com fornos.
No início de 2023, pouco depois de levantar US$ 350 milhões (R$ 2 bilhões) em uma rodada de investimentos que avaliou a empresa em US$ 3,5 bilhões (R$ 20,06 bilhões), Lore trocou as 450 vans da Wonder por lojas físicas onde os clientes podiam fazer pedidos para retirada ou entrega, escolhendo entre um cardápio extenso com 30 opções exclusivas. Foi um movimento arriscado. A empresa rapidamente acumulou US$ 80 milhões (R$ 458 milhões) em prejuízos devido à mudança. “Tivemos que reduzir a receita a praticamente zero e recomeçar do zero”, diz Lore, que atualmente detém cerca de metade da empresa e já investiu US$ 300 milhões (R$ 1,72 bilhão) do próprio bolso, além de captar mais US$ 1,5 bilhão (R$ 8,59 bilhões).
A Wonder ainda prepara suas refeições em três cozinhas centrais, mas agora as envia para 37 unidades espalhadas por cinco estados. Segundo Lore, o grande diferencial do modelo é que as lojas não precisam ter cozinhas completas, apenas fornos de cozimento rápido para finalizar os pratos. Para os clientes, especialmente famílias, cada unidade oferece uma ampla variedade de opções, permitindo que, por exemplo, uma pessoa peça pad thai enquanto outra escolhe um hambúrguer. Para ampliar sua área de cobertura, a Wonder planeja abrir uma nova loja por semana, chegando a cerca de 100 unidades, principalmente em Nova York e Nova Jersey, até o fim do ano.
Embora a empresa ainda não seja lucrativa, uma fonte próxima à Wonder afirma que ela gera mais receita por unidade do que o Chipotle ou o Cava, duas empresas de capital aberto altamente valorizadas.
Expansão e desafios
A Wonder também está fazendo outros movimentos estratégicos. A startup adquiriu a empresa de kits de refeição Blue Apron em novembro de 2023 por US$ 100 milhões (R$ 573 milhões) e o aplicativo de entregas Grubhub em janeiro por US$ 650 milhões (R$ 3,72 bilhões), ambos com descontos de 90% em relação ao seu valor máximo de mercado. Porém, ainda não está claro como essas aquisições serão integradas ao negócio principal da Wonder. “Ele está tentando obter fontes adicionais de demanda, porque o mais difícil é conquistar e reter clientes”, especula Matt Newberg, que não tem ligação com a Wonder, mas acompanha a empresa de perto.
Em 2024, a Wonder faturou US$ 470 milhões (R$ 2,69 bilhões), segundo uma fonte familiarizada com as finanças da empresa, um salto em relação aos US$ 50 milhões (R$ 286 milhões) de 2023. O valor mais recente inclui as vendas da Blue Apron, que gerou US$ 400 milhões (R$ 2,29 bilhões) no ano anterior à aquisição pela Wonder, mas não inclui o Grubhub. Além disso, a empresa recebe receita de 29 clientes corporativos que fazem pedidos recorrentes de refeições em grande escala, incluindo um espaço de coworking, diversos prédios comerciais e até uma escola primária.
Além disso, a subsidiária Wonder Works vende equipamentos de cozinha, como fornos de cozimento rápido e sua metodologia de preparo para locais como cinemas, estádios esportivos e navios de cruzeiro, ajudando-os a preparar alimentos, principalmente pizzas, de forma mais rápida e econômica. “Esse também pode se tornar um negócio gigantesco”, afirma Stephen Toebes, ex-diretor de engenharia da Wonder.
Ainda assim, a Wonder está longe das previsões ambiciosas de Lore, que projeta US$ 2 bilhões (R$ 11,46 bilhões) em vendas este ano e uma abertura de capital avaliada em US$ 40 bilhões (R$ 229,2 bilhões) até 2028. Newberg é cético e acredita que Lore está expandindo a Wonder antes de consolidar um modelo de negócios sustentável. Para efeito de comparação, o Chipotle levou 30 anos para alcançar uma avaliação de mercado de US$ 30 bilhões (R$ 171,9 bilhões).
“Ele tem algo a provar e quer construir uma grande empresa de capital aberto”, diz Dave Munichiello, sócio-gerente do Google Ventures, que investiu mais de US$ 100 milhões (R$ 573 milhões) na Wonder. “Ele enxerga esse mercado como um espaço ainda inexplorado por um empreendedor tão destemido quanto ele.”