![Marcelo Noronha, CEO do Bradesco: expectativas "pé no chão" para 2025 (Foto: divulgação)](https://forbes.com.br/wp-content/uploads/2023/11/marcelo-noronha-768x548.jpg)
Três dos cinco grandes bancos de varejo – Bradesco (BBDC4), Itaú Unibanco (ITUB4) e Santander Brasil (SANB11) – divulgaram seus dados referentes a 2024. O outro grande banco com ações em bolsa, o Banco do Brasil (BBAS3) agendou essa divulgação para o dia 19 de fevereiro. Uma análise dos números mostra dois fatos. O primeiro é que os resultados foram melhores do que os de 2023. O segundo é que, apesar disso, os CEOs desses bancos disseram estar cautelosos com as perspectivas para 2025.
O Bradesco lucrou R$ 19,6 bilhões em 2024, alta de 20% ante 2023. O Itaú Unibanco divulgou um lucro recorde de R$ 41,4 bilhões, alta de 18,2% frente a 2023. E ele obteve esses resultados reduzindo a inadimplência de sua carteira de empréstimos. Da mesma forma, o Santander lucrou R$ 13,87 bilhões, um avanço de 47,8% em relação ao resultado de 2023.
Apesar dos números positivos, os executivos dos bancos tiveram um discurso muito semelhante ao comentar os resultados de 2024: o cenário para 2025 inspira cuidados. Banqueiros usam instrumentos de precisão para medir as palavras. Ninguém disse “crise”, mas todos disseram “cautela”. Não se ouviu o termo “pessimismo”, mas sim “atenção”. E todos deixaram claro, de forma mais ou menos explícita, que será difícil repetir neste ano os resultados brilhantes de 2024 sem que haja uma melhora na situação econômica.
Números
O Santander Brasil foi o primeiro a informar os números, na quarta-feira (5). Além de comemorar a melhora nos resultados, Mario Leão, o CEO, disse esperar um cenário mais adverso para este ano. Forbes perguntou a ele se o banco estava pessimista para este ano. “Vou usar as palavras com cuidado: não estamos pessimistas, mas estamos atentos ao cenário”, afirmou.
Segundo o CEO, o banco terminou 2024 e começou 2025 com uma percepção mais conservadora do crescimento. “Não temos uma perspectiva tão positiva do crescimento do crédito para este ano”, disse ele. “No entanto, nosso trabalho recente foi reorientar o banco para que isso não afetasse tanto os resultados.”
Na quinta-feira (6), Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú Unibanco, também comentou os resultados em uma coletiva de imprensa. Além do resultado recorde, o banco também apresentou uma inadimplência recorde de baixa no ano passado, com os créditos problemáticos no Brasil recuando para 2,6% da carteira. Tudo que qualquer banqueiro gosta de apresentar aos acionistas. No entanto, Maluhy Filho afirmou que o banco está “preparado para qualquer cenário” neste ano. Traduzindo, o Itaú Unibanco não descarta a hipótese de um caminho mais acidentado do que o de 2024, que não foi tranquilo
Para encerrar, na sexta-feira (7) foi o dia do Bradesco anunciar seus números. O CEO, Marcelo Noronha, afirmou que o banco reduziu seu apetite de risco no último trimestre de 2024 devido à desvalorização mais acentuada do real em relação ao dólar e a uma perspectiva mais adversa para os juros.
No comunicado em que informou os resultados, o Bradesco informou que “a receita com serviços deve subir moderadamente. O custo de crédito deve se manter controlado. Já as despesas operacionais continuarão pressionadas, entre outros, pelos investimentos no plano de transformação. Em suma, esperamos que a nossa rentabilidade continue a aumentar de forma gradual e segura.” E Noronha definiu a estimativa para 2025 (“guidance”) como “pé no chão e conservadora”.
Alta da Selic
As razões para a cautela dos banqueiros são bem conhecidas e podem ser lidas periodicamente nos comunicados do Banco Central (BC). As expectativas de inflação estão desancoradas. A Selic começou o ano em 12,25%. Subiu 1,00 ponto percentual (p.p.) para 13,25% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de janeiro e deve avançar outro tanto no encontro de março.
As expectativas dos bancos são de que os juros referenciais subam até 15,75% antes do fim deste ano, e permaneçam nesse patamar elevado por um período longo. E isso afeta diretamente o cálculo de risco dos bancos.
No caso das contas públicas, cerca de metade dos títulos do governo em circulação é pós-fixada. Ou seja, a remuneração paga pelo Tesouro oscila de acordo com a variação da Selic. Em uma conta grosseira, cada ponto percentual de alta nos juros eleva a despesa do governo para servir a dívida em R$ 33 bilhões por ano.
Isso também ocorre com os empréstimos concedidos pelos bancos, com a diferença que o custo adicional sai do bolso do devedor. A maior parte dos financiamentos concedidos às pessoas físicas, como crédito imobiliário e empréstimos pessoais, tem juros prefixados. No entanto, os financiamentos para empresas, que correspondem a uma fatia entre 40% e 50% das carteiras de crédito dos bancos, são indexados ao CDI. Ou seja, seu custo de carregamento tende a acompanhar as variações da Selic.
Assim, quando o Banco Central eleva os juros, fica mais caro tomar dinheiro emprestado e pagar os empréstimos já contratados. O resultado é inadimplência, com contração do crédito e piora da atividade econômica. Não por acaso, os bancos optaram por reforçar as provisões e os índices de cobertura.
Juros e dólar imprevisíveis
Os bancos no Brasil são imensamente lucrativos. Isso não quer dizer que seus negócios não enfrentam solavancos. Os resultados de 2022 e de 2023 foram fracos devido ao período de recuperação da pandemia e aos problemas de crédito corporativo com a descoberta da fraude bilionária da Americanas (AMER3). O desempenho melhorou em 2024, mas isso não quer dizer que o ano está garantido.
O cenário está incerto. A imprevisibilidade do dólar é um bom exemplo disso. Ao comentar os resultados, os executivos dos grandes bancos admitiram que a volatilidade do dólar no fim de 2024 e no início de 2025 ficou acima do esperado. Recordando, a moeda americana iniciou janeiro a R$ 6,18 e fechou na terça-feira (11) a R$ 5,76, uma baixa de 6,8%.
Juros afetam as empresas, mas o câmbio tem uma influência direta e imediata sobre a inflação para o consumidor. Os preços de boa parte das commodities são indexados à moeda americana. Por isso, uma apreciação do real em relação ao dólar pode reduzir as expectativas de inflação e permitir que o BC seja menos rígido com a política monetária, diminuindo os riscos de 2025.
Assim, a cautela dos líderes do sistema financeiro serve para seus investimentos? Sim. A profissão de banqueiro exige uma avaliação o mais precisa possível dos riscos em potencial. Exige prever o pior e se preparar para ele, mesmo que o pior não ocorra.