O banco Santander Brasil (SANB11) inaugurou a sessão de divulgação de balanços do sistema financeiro mostrando uma forte evolução nos resultados. O lucro líquido foi de R$ 3,855 bilhões no quarto trimestre de 2024, alta de 74,9% na comparação com o mesmo período de 2023. A alta foi de 5,2% em relação ao terceiro trimestre de 2024.
No acumulado do ano, o lucro foi de R$ 13,872 bilhões, alta de 47,8% em relação a 2023. O retorno sobre o patrimônio líquido da instituição subiu 5,3 pontos percentuais em 12 meses, atingindo 17,6%.
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O mercado gostou dos resultados. No início da tarde as units eram negociadas com alta de 6,6%, segunda maior alta do Ibovespa, atrás apenas da Embraer (EMBR11), com valorização de 12,2%. Na máxima da manhã, as units do Santander chegaram a subir 7%.
Mario Leão, CEO do Santander, afirmou que o resultado decorreu de uma “gestão disciplinada”. O banco concentrou a melhora dos resultados em linhas específicas como empréstimos consignados, cuja carteira avançou 5,2% ante 2023, para R$ 71,1 bilhões, e cartões de crédito, com avanço de 16,3% para R$ 57,7 bilhões.
Já os empréstimos para grandes empresas encolheram 3,0% para R$ 135,3 bilhões. A carteira total ampliada de empréstimos avançou 6,4% para R$ 682,7 bilhões. Leão afirmou que 2024 foi o ano da consolidação de uma transformação estratégica iniciada há três anos. “O banco desenhou e executou muita coisa dessa estratégia em 2024, e agora começamos a ver os resultados”, disse ele.
Crescimento menor
Segundo o CEO, o banco terminou 2024 e começou 2025 com uma percepção mais conservadora do crescimento. “Não temos uma perspectiva tão positiva do crescimento do crédito para este ano”, disse ele. “No entanto, nosso trabalho recente foi reorientar o banco para que isso não afetasse tanto os resultados.”
Por definição da matriz, o Santander não fornece previsões (“guidance”) para o crescimento dos empréstimos, nem para outros indicadores financeiros. Leão afirmou, porém, que o avanço em 2025 pode ser “alguns pontos percentuais menor” do que a estimativa dos analistas, de um avanço de 9% na carteira de empréstimos. O executivo disse procurar desvincular as percepções de crescimento dos ativos e de melhora da rentabilidade. Segundo ele, é preciso “desindexar” o crescimento do banco do crescimento das carteiras de empréstimo.
Atenção à inadimplência
Segundo Leão, o banco está “atento” ao comportamento da inadimplência dos empréstimos em 2025. O CEO afirmou que a elevação dos juros e das expectativas de inflação tornam o cenário macro mais desafiador, especialmente nos empréstimos concedidos à pessoa física. “A inflação sempre afeta a capacidade de pagamento dos empréstimos”, diz ele.
Do total dos R$ 682,7 bilhões em empréstimos, cerca de 45% são pós-fixados. Ou seja, o custo para o tomador aumenta à medida que a taxa referencial Selic aumenta. Mesmo assim, Leão afirma que o banco não teme uma piora na inadimplência como ocorreu entre 2021 e 2023. “O banco está tomando medidas alimentadas por essa percepção de aumento do risco.” Entre elas, privilegiar empréstimos de menor risco e para clientes com perfil de crédito mais seguro, tanto na pessoa física quanto na pequena e média empresa (PME).
Consignado para o setor privado
O executivo disse estar otimista com a possibilidade de o governo federal permitir a concessão de empréstimos consignados para trabalhadores da iniciativa privada. Segundo Leão, o total dos empréstimos consignados concedidos a trabalhadores do setor privado são de cerca de R$ 40 bilhões, o que representa 6% da carteira total, estimada em R$ 665 bilhões. “A maior parte desses empréstimos vai para servidores públicos e para aposentados e pensionistas do INSS, a participação dos empréstimos para o setor privado é pequena”, diz ele. “E mesmo nesse caso a oferta é muito concentrada: só nós do Santander temos R$ 12 bilhões, quase um terço do total.”
A proposta do governo de centralizar as informações na plataforma eSocial e permitir o acesso dos bancos aos trabalhadores da iniciativa privada deve destravar os empréstimos. Leão disse acreditar que a carteira do consignado pode chegar a R$ 200 bilhões em alguns anos. “Se for bem implementado, esse produto pode destravar acesso a crédito para muitos públicos que atualmente não tem acesso a financiamentos”, disse ele. “A pizza vai aumentar e teremos mais gente comendo pedaços dessa pizza.”