
As ações da Tesla estão sofrendo outra queda esta semana. Os papéis da montadora de veículos elétricos de Elon Musk enfrentam mais pressão de Wall Street. O envolvimento crescente de Musk com a Casa Branca e as dúvidas sobre a reputação global da marca, além de sua posição no crucial mercado chinês, têm gerado preocupações.
As cotações caíram cerca de 6% na semana, chegando a US$ 233 (R$ 1.317) na manhã da quarta-feira (19). O papel caminha para a nona semana consecutiva de perdas após um novo alerta de analistas de Wall Street sobre a empresa de Musk.
Com um patrimônio de US$ 321 bilhões (R$ 1,83 trilhão), Musk continua sendo a pessoa mais rica do mundo. No entanto, esse valor representa uma queda de mais de US$ 140 bilhões (R$ 798 bilhões) em relação ao pico de US$ 464 bilhões (R$ 2,65 trilhões) alcançado em dezembro, quando as ações da Tesla eram negociadas a US$ 480 (R$ 2.736) após um rali pós-eleitoral.
O analista Tom Narayan, do RBC Capital Markets, reduziu sua projeção de preço-alvo para as ações da Tesla em US$ 120 (R$ 684), para US$ 320 (R$ 1.824), mantendo a recomendação de desempenho superior para a empresa, mas ajustando as expectativas. Narayan apontou a concorrência cada vez mais intensa na China, mercado que representou 21% das vendas da Tesla em 2024. Ele prevê que montadoras chinesas irão dominar o setor de veículos autônomos no país, uma área que Musk tem enfatizado como o futuro da empresa.
A queda das ações foi impulsionada por uma nota de analistas do Mizuho, liderados por Vijay Rakesh, que reduziram o preço-alvo dos papéis da Tesla em US$ 85 (R$ 484), para US$ 430 (R$ 2.451). Os analistas também cortaram a previsão de entregas de veículos para 2025, de 2,3 milhões para 1,8 milhão, abaixo do consenso de 2 milhões de unidades. A projeção indica uma redução de 20%. Rakesh atribuiu os “problemas de vendas” da Tesla ao enfraquecimento da percepção da marca nos Estados Unidos e na União Europeia, ao agravamento da situação geopolítica e à concorrência cada vez mais desafiadora de montadoras chinesas de veículos elétricos.
O que aconteceu?
As ações da Tesla amargam uma queda acumulada de 38% neste ano, registrando o pior desempenho entre as 500 empresas listadas no S&P 500. O Mizuho e o RBC se juntaram a instituições como Goldman Sachs, JP Morgan e UBS na redução de suas projeções de entregas para a Tesla. “Temos dificuldade em encontrar algo semelhante na história da indústria automotiva, em que uma marca tenha perdido tanto valor tão rapidamente”, afirmaram analistas do JP Morgan na semana passada ao descrever a deterioração da percepção da Tesla.
O banco destacou especialmente mercados onde Musk se envolveu com a política de direita, como a Alemanha. Embora Musk seja um dos aliados mais próximos de Donald Trump, as tarifas agressivas impostas por Trump representam um grande obstáculo para a principal fonte de riqueza de Musk, a Tesla.
Em uma carta enviada ao Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos na última terça-feira (18), a Tesla pediu ao governo Trump que adote uma “abordagem faseada” para as tarifas, argumentando que seus veículos elétricos contêm “certas peças e componentes” que são “difíceis ou impossíveis de obter nos Estados Unidos.” Esse posicionamento contrasta com as frequentes mudanças nos prazos e alvos tarifários de Trump.
Uma pesquisa da CNN publicada na semana passada apontou que 53% dos entrevistados têm uma opinião negativa sobre Musk, enquanto 35% o veem de forma positiva e 11% não têm opinião formada.
As ações da Tesla ainda acumulam alta de 1% desde a última segunda-feira, quando sofreram sua pior queda em 4,5 anos, caindo 15% em meio a uma onda de vendas no mercado causada por temores econômicos relacionados às tarifas de Trump.
Concorrentes chineses
Duas concorrentes chinesas da Tesla no setor de veículos elétricos fizeram anúncios importantes esta semana, o que pode enfraquecer ainda mais a posição da montadora de Musk no país. A BYD revelou um novo sistema capaz de recarregar veículos em menos de um terço do tempo permitido pelos carregadores atuais da Tesla. Já a Zeekr anunciou que oferecerá gratuitamente seu sistema de direção autônoma na China.
O RBC prevê que a participação de mercado da Tesla no país cairá para 10%, metade da participação atual, e, consequentemente, reduziu sua avaliação para as unidades de direção totalmente autônoma e robotáxis da Tesla de US$ 1,26 trilhão (R$ 7,18 trilhões) para US$ 850 bilhões (R$ 4,84 trilhões).
Os analistas do Mizuho apontaram que, no mês passado, as vendas da Tesla nos Estados Unidos caíram 2% em relação ao mesmo período de 2024, enquanto o mercado geral de veículos elétricos no país cresceu 16%. Na China, as vendas da Tesla despencaram 49%, ao passo que as vendas de veículos elétricos no país aumentaram 85%. Já na Alemanha, as vendas da Tesla desabaram 76%, enquanto o mercado de veículos elétricos no país expandiu 31%.