
Confirmando as expectativas do mercado, o Federal Reserve (FED), o banco central americano, manteve os juros referenciais americanos inalterados na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano e também indicou que mais dois cortes são prováveis ainda neste ano.
Diante das preocupações sobre o impacto das tarifas em uma economia já desacelerada, a autoridade monetária atualizou suas projeções econômicas e de taxas para este ano, para 2026 e para 2027, além de alterar o ritmo de venda dos títulos públicos americanos em poder do FED.
Apesar do impacto incerto das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, assim como de uma política fiscal ambiciosa de cortes de impostos e desregulamentação, os dirigentes do FED ainda preveem um corte total de meio ponto percentual até 2025. O banco central dos EUA normalmente ajusta as taxas em incrementos de 0,25 ponto percentual, o que indicaria dois cortes este ano.
Em seu comunicado pós-reunião, o Federal Open Market Committee (FOMC), versão americana do Copom, destacou um nível elevado de incerteza no cenário atual. “A incerteza em relação às perspectivas econômicas aumentou”, afirmou o Fomc em seu comunicado pós-reunião. “O Comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato.” O Federal Reserve tem uma missão dupla de cumprir a meta de inflação, atualmente em 2% ao ano, e ao mesmo tempo manter o maior nível de emprego possível.
Crescimento menor
O comitê revisou para baixo sua projeção coletiva para o crescimento econômico e elevou sua expectativa de inflação. Agora, as autoridades preveem que a economia crescerá apenas 1,7% este ano, uma redução de 0,4 ponto percentual em relação à última projeção divulgada em dezembro.
Já para a inflação, espera-se que os preços subam 2,8% ao ano, um aumento de 0,3 ponto percentual em relação à estimativa anterior.
De acordo com o “dot plot” – gráfico que mostra as expectativas dos dirigentes do Fed para as taxas de juros –, a visão sobre os juros se tornou ligeiramente mais conservadora desde dezembro.
Na reunião anterior, apenas um membro do Comitê previa que não haveria cortes em 2025; agora, esse número subiu para quatro.
O gráfico mostrou que as projeções para os próximos anos permanecem inalteradas em relação a dezembro, com o equivalente a dois cortes esperados para 2026 e mais um em 2027, antes que a taxa dos Fed Funds se estabilize em um nível de longo prazo próximo de 3%.
Além da decisão sobre os juros, o Fed anunciou uma nova redução em seu programa de aperto quantitativo (“quantitative tightening” ou QT), no qual vem diminuindo gradualmente sua carteira de títulos.
O banco central agora permitirá que apenas US$ 5 bilhões (R$ 28,25 bilhões) em títulos do Tesouro vencidos sejam retirados de sua carteira a cada mês, reduzindo o teto anterior de US$ 25 bilhões (R$ 141,25 bilhões).
No entanto, manteve inalterado o limite de US$ 35 bilhões (R$ 197,75 bilhões) para títulos lastreados em hipotecas, um nível que raramente foi atingido desde o início do processo.
O governador do Fed, Christopher Waller, foi o único voto dissidente na decisão do comitê. No entanto, o comunicado indicou que Waller apoiava a manutenção das taxas, mas queria que o programa de QT continuasse sem alterações.
Bolsas instáveis
As medidas ocorrem em meio a um início de segundo mandato tumultuado para o presidente Donald Trump. O republicano tem causado volatilidade nos mercados financeiros com as tarifas já impostas sobre aço, alumínio e uma série de outros produtos importados pelos Estados Unidos. Além disso, o governo ameaça uma nova rodada de tarifas ainda mais agressivas, com uma revisão programada para ser divulgada em 2 de abril.
O clima de incerteza sobre o que está por vir tem abalado a confiança dos consumidores, que, em pesquisas recentes, elevaram suas expectativas de inflação devido às tarifas. Os gastos no varejo cresceram em fevereiro, mas menos do que o esperado, embora indicadores subjacentes mostrem que os consumidores ainda estão resistindo ao cenário político instável.
As bolsas subiram após a decisão. O índice americano S&P 500 avançou 0,7% e o índice Nasdaq, que concentra mais ações de empresas de tecnologia, sobe pouco mais de 1%.
Os mercados acionários têm demonstrado fragilidade desde a posse de Trump, com os principais índices entrando e saindo de territórios de correção, enquanto autoridades do governo alertam sobre uma possível transição da economia para um modelo menos dependente de estímulos estatais e mais focado no setor privado.
O CEO do Bank of America, Brian Moynihan, tentou minimizar o pessimismo recente em Wall Street. Mais cedo nesta quarta-feira, o executivo à frente do segundo maior banco dos EUA em ativos afirmou que os dados de transações com cartões mostram que os gastos seguem em um ritmo sólido, e que os economistas do BofA preveem um crescimento econômico de cerca de 2% este ano.
No entanto, alguns sinais de fragilidade já aparecem no mercado de trabalho. A criação de empregos fora do setor agrícola desacelerou mais do que o esperado em fevereiro, e uma medida ampliada de desemprego, que inclui trabalhadores desestimulados e subempregados, subiu meio ponto percentual no mês, atingindo seu maior nível desde outubro de 2021.