
No domingo (3), o presidente Donald Trump afirmou que supervisionará a criação de uma reserva estratégica de criptomoedas, composta por Bitcoin, Ethereum, XRP, Solana e Cardano. Segundo ele, essa seria uma forma de “garantir que os EUA sejam a Capital Global das Criptomoedas”, repetindo suas promessas de campanha de se tornar o presidente mais pró-cripto da história.
No entanto, o anúncio enfrentou um nível incomum de ceticismo entre grandes nomes do setor de cripto e tecnologia, com muitas críticas focadas na decisão de incluir ativos além do Bitcoin no fundo, além da questão sobre se a compra de criptomoedas pelo governo ultrapassa os limites tradicionais do ele seria dentro de um livre mercado.
Brian Armstrong, CEO da Coinbase e americano mais rico do setor de cripto, com um patrimônio de US$ 9,6 bilhões (R$ 56,45 bilhões), escreveu no X que a “melhor opção” para a reserva seria que “apenas o Bitcoin” fosse o “sucessor do ouro” para o governo. Joe Lonsdale, bilionário cofundador da Palantir, uma empresa de defesa focada em inteligência artificial e um defensor declarado de Trump, foi ainda mais crítico. Em resposta à postagem de Trump, comentou que é um esquema de “cripto bros” e que não é o “papel adequado e baseado em princípios do governo” financiar uma reserva de criptomoedas.
Houve também uma resistência significativa por parte de aliados de David Sacks, nomeado por Trump como seu “czar das criptomoedas”. Jason Calacanis, coapresentador de Sacks no podcast “All-In”, do Vale do Silício, classificou a medida como o “Trump Pump” e uma prova de um “esquema insano de enriquecimento”. Já Jeff Park, estrategista do gestor de fundos de índice de cripto Bitwise — no qual a empresa de venture capital de Sacks foi uma das primeiras investidoras —, chamou a inclusão de moedas, além do Bitcoin de um “grande erro político de Trump”.
O que pensa o mercado cripto
O anúncio de Trump fez os preços dispararem inicialmente para os cinco ativos digitais que ele mencionou, com destaque para o Bitcoin, que subiu mais de 10%, de aproximadamente US$ 85 mil (R$ 499,8 mil) para mais de US$ 95.000 (R$ 558,6 mil). No entanto, a criptomoeda caiu novamente para menos de US$ 86 mil (R$ 505.680) no fim da tarde, à medida que os mercados financeiros recuaram após as novas promessas tarifárias de Trump.
Segundo dados da CoinGecko, entre o pico registrado no domingo e o menor valor observado na segunda-feira, o mercado global do ativo sofreu uma queda de 11%, o que corresponde a US$ 340 bilhões (R$ 2 trilhões).
Apesar da forte reação do mercado, o anúncio de Trump recebeu uma resposta mista da comunidade cripto. Na segunda-feira, analistas da Bernstein, uma das mais respeitadas instituições que cobrem o setor de ativos digitais, destacaram em nota que ainda existem várias “questões materiais não resolvidas” sobre a reserva. Entre elas, como os fundos serão alocados entre os tokens, se Trump tem a autoridade legal necessária para estabelecer a reserva e, o mais importante, como o governo irá financiá-la.
Segundo os analistas liderados por Gautam Chhugani, a compra de ativos digitais que não sejam Bitcoin, usando recursos do Federal Reserve ou do Tesouro, será uma “venda difícil”. Além disso, eles acreditam que a justificativa para manter tokens que não sejam Bitcoin “ainda não está clara”. Mesmo assim, o grupo, que mantém uma visão otimista sobre o mercado, afirmou que “os céticos podem torcer o nariz o quanto quiserem, mas é difícil ignorar” e manteve sua projeção de US$ 200 mil (R$ 1,176 milhão) para o preço do Bitcoin.
Mudou de opinião?
Usuários das redes sociais resgataram uma publicação de 2021 de David Sacks que aparentemente criticava a ideia de o governo federal criar uma reserva de criptomoedas. Na época, Sacks escreveu: “o problema do governo como alocador de capital é que o dinheiro vai para interesses especiais que possuem poder de lobby, mas não de inovação.”
A QCP Capital, baseada em Singapura, foi uma das principais vozes críticas ao anúncio de Trump. Em uma nota publicada na segunda, a empresa atribuiu o momento da revelação da reserva cripto à recente queda nos ativos de risco, como ações e criptomoedas. “O cálculo político foi claro — Trump precisava de uma vitória antes que seus índices de aprovação começassem a cair, um indicador que ele provavelmente leva muito a sério”, escreveu a empresa.
O setor de criptomoedas investiu cerca de US$ 135 milhões (R$ 793,8 milhões) na eleição de 2024 por meio do super comitê de ação política Fairshake e seus afiliados. Grande parte desse financiamento veio de doações de aproximadamente US$ 45 milhões (R$ 264,6 milhões) da Coinbase e da Ripple Labs, controladora do XRP, além de mais de US$ 20 milhões (R$ 117,6 milhões) da firma de capital de risco Andreessen Horowitz. Bilionários como Brian Armstrong, Marc Andreessen e os fundadores da Gemini Cameron e Tyler Winklevoss também doaram pelo menos US$ 1 milhão (R$ 5,88 milhões) cada para o comitê. Andreessen e os irmãos Winklevoss estão entre os mais notáveis bilionários que contribuíram para a campanha de Trump.