
No dia 11 de março completaram cinco anos desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a covid-19 uma pandemia. Segundo dados da OMS, o vírus Sars-CoV-2, causador da doença, matou mais de 7 milhões de pessoas e superou o número de 777 milhões de infecções. Estima-se que a covid-19 manteve 2,6 bilhões de pessoas sob alguma forma de isolamento em nível global.
As consequências negativas dessa pandemia foram inúmeras. No entanto, a Zoom Video Communications (Z1OM34), plataforma de videochamadas, se deu bem nessa história.
Com o avanço da doença, empresas adotaram o home office, escolas migraram para o ensino remoto e reuniões presenciais foram substituídas por videoconferências. Ou seja, a demanda por videochamadas aumentou muito. E foi nesse cenário, que o Zoom ganhou lugar de destaque.
A plataforma, antes desconhecida por muitos, tornou-se indispensável, o que disparou suas ações na Bolsa de Valores. No entanto, passados cinco anos do início da pandemia, a realidade da empresa é bem diferente. O Zoom enfrenta dificuldades e vê seu valor de mercado despencar, principalmente com a volta do trabalho 100% presencial na maioria das companhias.
Da ascensão ao declínio
No primeiro trimestre de 2020, o Zoom fechou o período com lucro líquido de US$ 27 milhões (R$ 152,91 milhões), uma alta de 1.127% em relação ao valor de US$ 2,2 milhões (R$ 12,46 milhões) de 2019. A receita saltou 169%, para US$ 328,2 milhões (R$ 1.858,76 bilhões), contra US$ 122 milhões (R$ 690,95 milhões) no mesmo período do ano anterior. Calcula-se que, na época, as ações da companhia subiram mais de 400%, impulsionadas pela necessidade global de comunicação remota.
No auge, em outubro de 2020, os papéis do Zoom atingiram o recorde de US$ 559 (R$ 3.165,90). Além disso, o valor de mercado da empresa obteve um pico de US$ 161,65 bilhões (R$ 915,50 bilhões).
Para impulsionar ainda mais o crescimento, a plataforma ofereceu planos atraentes que serviram como porta de entrada para milhares de companhias. Uma vez habituadas ao serviço, muitas delas migraram para planos pagos, buscando recursos adicionais de segurança, gestão e funcionalidades mais completas. “Monetizar rápido exigiu assertividade e eles tiveram isso de sobra”, comenta Junior Borneli, CEO da StartSe, escola internacional de negócios.
“A crise da covid-19 gerou uma demanda por interações face a face. O uso cresceu rapidamente à medida que as pessoas integravam o Zoom em seu trabalho, aprendizado e vida pessoal”, disse Eric Yuan, presidente-executivo do Zoom, no relatório de resultados do período.
Essa disparada nas ações refletia a confiança dos investidores no futuro do trabalho remoto. Porém, com o fim dos lockdowns, o avanço da vacinação e a volta gradual das atividades presenciais, a demanda por videoconferências começou a cair. Atualmente, as ações da companhia são negociadas, em média, a US$ 75 (R$ 424,76). Desde seus recordes, os papéis perderam quase 90% em valor.
Segundo William Castro Alves, estrategista-chefe da corretora Avenue, a alta das ações foi causada porque os investidores consideraram permanente um cenário que se revelou transitório. “O mercado sempre é exagerado. Existia uma ideia de que iríamos manter o cenário, porém isso não aconteceu”, diz ele.
Borneli, CEO da StartSe, reforça o argumento.“O mercado errou muito com a precificação do Zoom”, afirma. “Ele não percebeu a inevitável saturação, a concorrência crescente e a migração parcial das pessoas de volta ao físico. Não entendeu a dinâmica real pós-pandemia.”
De acordo com o CEO, os especialistas avaliaram o Zoom como se o crescimento na pandemia fosse permanente, ignorando o caráter excepcional daquele momento histórico. “Depois a conta chegou e o mercado teve que corrigir isso”, diz Borneli.
Além disso, o aumento da concorrência foi um fator determinante para a queda dos ativos. Concorrentes como Teams e Google Meet também buscaram alternativas atrativas para conquistar o público, desacelerando o crescimento do Zoom.
A morte do remoto
A pandemia fez o número de participantes em reuniões virtuais crescer de 10 milhões para 200 milhões por dia. No entanto, com o fim da covid-19, as empresas começaram a retomar os escritórios, as escolas reabriram e as reuniões presenciais voltaram. De acordo com uma pesquisa da Catho, companhia de tecnologia, sobre tendências para 2025, 69% das empresas brasileiras pretendem manter o regime totalmente presencial neste ano.
Esse número representa um crescimento de 7,3 pontos percentuais ante 2024, reforçando uma mudança no mercado de trabalho nacional. Segundo especialistas, a principal justificativa para o rompimento com o home office é a produtividade e fortalecimento da cultura corporativa.
Com a volta do modelo físico, o Zoom fortaleceu soluções híbridas, criou ferramentas para reuniões presenciais conectadas e investiu em integrações com salas físicas e plataformas empresariais. Mas, para Borneli da StartSe, a virada estratégica foi buscar protagonismo em áreas adjacentes, como eventos virtuais e ferramentas específicas para equipes remotas.
“A empresa também está investindo muito em inteligência artificial, para que a plataforma seja mais eficiente. Ou seja, se a frequência de uso caiu, o Zoom tentou compensar, sendo indispensável para quem ainda depende dele”, afirma Borneli.
Para Alves da Avenue, o principal ponto positivo que se reflete até hoje é o fato do Zoom ter aproveitado o momento de auge para ser reconhecido e captar recursos. “Isso foi importante para a companhia, porque existia uma percepção de que ela poderia continuar crescendo”, explica Alves.