
A gigante da inteligência artificial Nvidia se tornou, nesta semana, a mais recente empresa a se envolver na guerra comercial global do presidente Donald Trump, embora analistas de Wall Street afirmem que o cenário está longe de ser desastroso para a fabricante de chips.
A Nvidia informou, na noite de terça-feira (15), que espera um impacto de US$ 5,5 bilhões (R$ 32 bilhões) neste trimestre devido às novas e severas restrições impostas pelos Estados Unidos à exportação dos seus chips de IA H20 para a China — limites que, segundo o analista Vivek Arya, do Bank of America, podem representar uma redução de até 10% nos lucros da empresa neste ano.
As ações da Nvidia caíram 7% na quarta-feira (16), o que eliminou quase US$ 200 bilhões (R$ 1,16 trilhão) em valor de mercado. As perdas da Nvidia — a empresa mais valiosa do mundo depois da Apple e da Microsoft — puxaram para baixo o mercado de ações como um todo: o S&P 500 e o Nasdaq caíram 1,2% e 1,9%, respectivamente. O impacto também atingiu outras fabricantes de semicondutores: os papéis da Intel e da TSMC recuaram 3%, enquanto as ações da Advanced Micro Devices despencaram 6% após a empresa divulgar prejuízos semelhantes ligados às restrições de exportação para a China.
Desde o dia da eleição presidencial, as ações da Nvidia já recuaram 25%, desempenho muito pior que a queda de 8% do S&P, desconsiderando os dividendos. A Nvidia foi a empresa com melhor desempenho do índice S&P tanto em 2023 quanto em 2024, impulsionada pelos lucros gerados pela revolução da IA generativa.
Este é mais um sinal de um ambiente operacional instável para as empresas de tecnologia americanas. O analista Ross Seymore, do Deutsche Bank, observou que “a volatilidade contínua e a consequente incerteza em torno da guerra comercial entre os EUA e a China” têm feito com que investidores oscilem entre esperanças de isenções e reconciliações e temores de uma escalada do conflito.
A restrição ao chip H20 surge menos de duas semanas depois que o CEO da Nvidia, Jensen Huang, teria jantado com Trump no resort Mar-a-Lago do ex-presidente. Trump já declarou publicamente que suas conversas com líderes empresariais influenciam suas decisões políticas. Na segunda-feira, ele disse que “ajudou” o CEO da Apple, Tim Cook, ao isentar os smartphones de grande parte dos danos provocados pelas tarifas contra a China.
A Nvidia domina o mercado no desenvolvimento da tecnologia de semicondutores necessária para alimentar aplicações de IA generativa, como o ChatGPT da OpenAI e o sistema de direção autônoma da Tesla.
Catástrofe?
As restrições ao chip H20 são um “risco indesejado, mas de certa forma esperado e administrável” para a Nvidia, explicou Arya, ecoando a visão de outros analistas que interpretam a medida como distante de um cenário catastrófico, apesar do impacto expressivo nas acções.
Isso “não é algo enorme no contexto geral”, escreveu o analista Stacy Rasgon, da Bernstein, destacando que, no ano passado, a China representou a menor fatia da receita da Nvidia em mais de uma década — 13%. Já os analistas Kevin Cassidy e Kevin Garrigan, da Rosenblatt, previram, em nota aos clientes na quarta-feira, que a Nvidia pode “compensar a maior parte dessa perda de receita” com as vendas de suas mais recentes unidades de processamento gráfico (GPUs) fora do país asiático.
Segundo Timothy Arcuri, analista do UBS, há um importante “lado positivo” nessa que é “efetivamente uma proibição” da exportação da cobiçada tecnologia de IA da Nvidia para a China: isso pode ser uma “concessão” da empresa do Vale do Silício para levar a Casa Branca a “praticamente enterrar” os regulamentos mais severos propostos pelo governo Biden para a tecnologia de inteligência artificial.
Rasgon criticou duramente a proibição imposta pela Casa Branca aos chips da Nvidia, afirmando que ela “faz pouco sentido”, já que “na prática entrega o mercado chinês de IA para a Huawei”.