
A crescente guerra comercial entre Estados Unidos e China tem reconfigurado o panorama global de trocas econômicas – e, nesse contexto, o Brasil surge podendo levar vantagem. O cenário, de acordo com análises do Deutsche Bank, mostra que o Brasil se encontra em uma posição favorável para expandir suas exportações.
Atualmente, a China é o maior parceiro comercial do Brasil. O estudo mostra que só no ano passado, o país asiático absorveu 28% das exportações brasileiras, um salto em relação aos cerca de 3% em 2001. Esse fluxo intenso resultou em um superávit de US$ 30,7 bilhões (R$ 175,86 bilhões) para o Brasil em 2024.
Oportunidades
Apesar da turbulência nas relações comerciais entre as duas maiores economias do mundo, a situação pode abrir espaço para demandas adicionais de exportação para o Brasil, ainda que acompanhado por uma maior volatilidade na procura global.
Segundo o relatório, com tarifas comparativamente baixas por parte dos EUA, o Brasil se torna uma alternativa atraente para países que enfrentam altas taxas impostas tanto pelos Estados Unidos quanto pela China.
De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior do Brasil (Secex), durante o primeiro trimestre de 2025, o país oriental já comprou 16,5 milhões de toneladas da soja brasileira. A expectativa dos especialistas é que esse volume aumente ainda mais entre abril e maio pela sazonalidade do calendário agrícola.
No dia 9 de abril, Pequim retaliou as taxas de Trump e aumentou os impostos de importação para os Estados Unidos para 84%. Seguindo o movimento, no mesmo dia, a Casa Branca elevou as tarifas para 145% – pausando as sobretaxas dos demais países por 90 dias. Por fim, em 11 de abril, a China aumentou suas taxas retaliatórias para 125%.
Ponto fraco
Mesmo que o Brasil tenha vantagem em relação às exportações, a China, por outro lado, representa 24% das importações para o Brasil. Isso, para a análise do Deutsche Bank, expõe uma assimetria na balança comercial, com o Brasil exportando majoritariamente commodities de baixo valor agregado – soja, petróleo bruto, minério de ferro, açúcar bruto e milho – e importando quase que exclusivamente bens manufaturados e bens de capital – tecnologia, máquinas e produtos químicos.
Além dessa dinâmica limitar o potencial de industrialização brasileira e aumentar a vulnerabilidade às oscilações externas, como variações nos preços dos produtos ou crises geopolíticas, a dependência pode se tornar um alvo da política dos EUA, dadas as incertezas nas decisões de Trump.
O relatório indica que a relação comercial entre Estados Unidos e Brasil se mostra mais equilibrada. Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil em bens e o principal em serviços. Em 2024, o Brasil registrou um déficit de US$ 283 milhões (R$ 1,6 bilhões) com os EUA, considerado praticamente um equilíbrio dado o volume de comércio superior a US$ 80 bilhões (R$ 458,26 bilhões), segundo o estudo do banco.
De acordo com a análise pelo Roadmap to Brazil’s Trade, o quase equilíbrio comercial com os EUA poupou o Brasil de medidas mais agressivas por parte da administração americana. O relatório também prevê que as tarifas de 25% sobre aço e alumínio devem ter um impacto limitado na macroeconomia brasileira, representando menos de 0,30% do PIB.