
Donald Trump deu início a uma guerra comercial global na semana passada, causando prejuízos para todo tipo de gente — inclusive para ele mesmo. Na última quarta-feira (2), quando Trump anunciou seu plano de tarifas amplas, a Forbes estimava sua fortuna em US$ 4,7 bilhões (R$ 27,58 bilhões). Menos de uma semana depois, esse número caiu para US$ 4,2 bilhões (R$ 24,65 bilhões), já que o valor de suas ações em bolsa e de seus ativos privados recuaram junto com o mercado de forma geral.
A maior perda do presidente dos EUA veio de seu ativo mais valioso, o Trump Media and Technology Group, que caiu 8% nos últimos três dias de negociação, atingindo seu menor valor desde outubro. A sua participação, que valia US$ 2,2 bilhões (R$ 12,92 bilhões) na quarta, agora está avaliada em US$ 2 bilhões (R$ 11,74 bilhões). Esse prejuízo de US$ 170 milhões (R$ 1 bilhão) é apenas o começo dos problemas.
Imóveis, campos de golfe e hotelaria
As propriedades comerciais de Trump também perderam valor — estima-se uma queda de US$ 90 milhões (R$ 528 milhões), considerando que tenham seguido a tendência das empresas imobiliárias de capital aberto. As ações da Vornado Realty Trust — empresa que é parceira de Trump em dois dos seus prédios mais valiosos, o 1290 Avenue of the Americas, em Nova York, e o 555 California Street, em São Francisco, — caíram 14% desde o anúncio até o fim da segunda-feira (7). Outra gigante do setor imobiliário nova-iorquino, a SL Green, teve uma queda de 15%.
O portfólio de imóveis comerciais de Trump, que inclui os edifícios da parceria com a Vornado, além da Trump Tower e do 40 Wall Street, agora vale cerca de US$ 570 milhões (R$ 3,34 bilhões), contra US$ 660 milhões (R$ 3,87 bilhões) na semana passada.
Os campos de golfe também estão perdendo valor. Muitas das bolas, tacos e camisas vendidas nas lojas desses clubes vêm de outros países. Mas o verdadeiro risco para o portfólio de Trump está no possível aperto financeiro. Membros dos clubes podem começar a cortar gastos com casamentos, jantares luxuosos ou até mesmo com a própria filiação. “Se você entra numa recessão, sua esposa olha pra você e pergunta: ‘o que a gente tá fazendo pagando essa fortuna nesse clube?’”, explica um executivo do setor.
Não existem empresas de capital aberto exatamente como os clubes de golfe de Trump, mas os concorrentes mais próximos já sinalizam problemas. Ações de empresas de lazer com preços altos, como a Vail Resorts e o Soho House, caíram mais de 15% desde a última quarta-feira. A Topgolf Callaway Brands, que fabrica tacos e administra centros de golfe, também recuou 15%. Se os campos de golfe de Trump tiverem queda semelhante, isso significaria uma perda adicional de US$ 70 milhões (R$ 411 milhões) no seu patrimônio.
Os ativos de hotelaria também não estão em melhor situação. O maior deles é o Trump National Doral, um resort com 643 quartos em Miami, onde a LIV Golf, ligada à Arábia Saudita, realizou recentemente um evento — com presença de Trump pouco depois do anúncio das tarifas. A porta-voz da Casa Branca, Taylor Rogers, afirmou que o presidente está focado no país, não nos próprios negócios. “O presidente Trump implementou tarifas contra países que vêm nos explorando há anos, para garantir que os americanos tenham um futuro melhor por gerações”, disse ela em nota. “Os ativos do presidente estão sob a responsabilidade de um fundo gerido por seus filhos, enquanto ele trabalha incansavelmente para conduzir o país à prosperidade econômica”, concluiu.
Além do Doral, Trump ainda é dono de centenas de unidades hoteleiras em prédios de Chicago e Las Vegas. Se esses ativos tiverem caído, digamos, 16%, ele teria perdido mais US$ 65 milhões (R$ 382 milhões). Já o setor menor de licenciamento e gestão pode ter encolhido mais US$ 15 milhões (R$ 88 milhões).
O mercado residencial também recuou de forma significativa. As ações de quatro empresas de capital aberto do setor de apartamentos caíram, em média, 13%. Trump possui dezenas de unidades em edifícios que ele mesmo desenvolveu anos atrás. Se esse portfólio também for reduzido, sua fortuna encolhe mais US$ 20 milhões (R$ 117 milhões). Seus ativos mais protegidos talvez sejam seus “troféus”, como a cobertura no topo da Trump Tower e Mar-a-Lago.
Dana Koch, corretor de imóveis de luxo em Palm Beach, diz que esses bens funcionam em um outro universo, diferente das ações em bolsa. “Esses imóveis são ainda mais escassos e exclusivos”, diz. Se esses troféus sofrerem uma queda de 5%, ou metade da queda do mercado geral, Trump perderia mais US$ 32 milhões (R$ 187 milhões).
Fortuna em criptomoedas
Ter dinheiro em caixa costuma oferecer alívio em momentos como esse. Segundo o último relatório financeiro divulgado por Trump, ele mantém uma carteira de títulos diversificados e algumas ações, incluindo uma participação de US$ 5 milhões a US$ 25 milhões (de R$ 29,3 milhões a R$ 146,7 milhões) na empresa de crédito privado Blue Owl Capital, que caiu 22% desde quarta-feira. Após esse relatório, em agosto, Trump recebeu dois pagamentos gigantescos vindos de empreendimentos com criptomoedas.
O primeiro foi o World Liberty Financial, projeto que prometia uma “revolução financeira” e transferiu quase US$ 400 milhões (R$ 2,34 bilhões) para Trump e sua família. Depois vieram as vendas da moeda digital $TRUMP, que provavelmente renderam ao menos mais US$ 175 milhões (R$ 1,02 bilhão), antes dos impostos.
O problema para Trump é que parte desse dinheiro pode ter sido guardada em criptomoedas — ativos notoriamente voláteis. Em fevereiro, Eric Trump elogiou publicamente a Ether, dizendo no X que era “um ótimo momento para comprar $ETH”. Desde então, a moeda caiu 45%, sendo 18% da queda após o anúncio das tarifas de Donald Trump. Se os ganhos líquidos estimados de Trump, de US$ 350 milhões (R$ 2,05 bilhões), caírem pela metade — o que seria compatível com a perda da Ether —, ele perderia mais US$ 32 milhões (R$ 187 milhões).
Somando tudo, os prejuízos de Trump com seus ativos privados superam os das ações em bolsa. A maior ameaça ao seu patrimônio não são as tarifas sobre produtos importados, já que suas empresas não vendem muitos bens físicos. O que pesa mais é a perda de confiança dos investidores ao redor do mundo. As pessoas agem por impulso — não por lógica — ao decidir se vão comprar ou se livrar de imóveis de luxo, clubes caros ou ações de empresas virais. Quanto mais incerteza Trump gera na economia global, maior tende a ser a queda da sua fortuna.