
Os bancos centrais da Europa contrastaram fortemente com as autoridades norte-americanas nesta quinta-feira (8), cortando as taxas de juros ou sinalizando que mais afrouxamento monetário está por vir, mesmo com o Federal Reserve se mantendo firme na postura de espera e deixando investidores em dúvida sobre seu próximo passo.
A maioria dos maiores bancos centrais do mundo tem cortado os custos dos empréstimos neste ano devido à desaceleração da inflação, divergindo do Fed, normalmente o criador global de tendências, já que os Estados Unidos podem agora estar enfrentando um aumento da inflação devido às consequências de uma guerra comercial global.
As tarifas atingirão desproporcionalmente os EUA, uma vez que as novas tarifas, junto do forte enfraquecimento do dólar, encarecem os produtos importados. Em contrapartida, o resto do mundo poderá enfrentar uma inflação menor devido a um comércio mais fraco, moedas mais fortes e custos de energia mais baixos.
O Banco da Inglaterra reduziu a taxa de juros em 25 pontos-base nesta quinta e indicou que haverá mais afrouxamento, enquanto o banco central da Suécia e o banco central da Noruega disseram que é provável que haja cortes de juros, com os três citando as tarifas como uma ameaça ao crescimento.
O Banco Central Europeu, que só se reúne no início de junho, também vem preparando os mercados para seu oitavo corte de juros em 13 meses, argumentando que a inflação agora está essencialmente dentro da meta e que as tarifas prejudicarão o crescimento.
Por outro lado, o Fed alertou na quarta-feira que a turbulência pode aumentar tanto a inflação quanto o desemprego, forças opostas que exigem respostas políticas diferentes, um sinal de que o mundo pode estar enfrentando uma longa espera por orientações mais claras.
“Não há nenhum custo real para nossa espera neste momento”, disse o chair do Fed, Jerome Powell. “Deve haver algum aumento na inflação, deve haver algum aumento no desemprego. Isso exige respostas diferentes.”
O Banco da Inglaterra, por outro lado, não viu motivos para esperar, pois cortou sua taxa para 4,25% e até debateu uma medida maior, alertando que as tarifas aumentaram a incerteza e provavelmente reduzirão o crescimento global.
“As últimas semanas mostraram como a economia global pode ser imprevisível. É por isso que precisamos nos ater a uma abordagem gradual e cuidadosa para novos cortes de juros”, disse o presidente do banco central britânico, Andrew Bailey.
Os bancos centrais da Noruega e da Suécia mantiveram as taxas inalteradas por enquanto, mas ambos fizeram referências explícitas a um possível afrouxamento da política monetária que está por vir.
“A incerteza resultante da nova política comercial dos EUA pode pressionar para baixo a inflação na Europa”, disse o banco central sueco. “As expectativas de inflação de curto prazo aumentaram nos Estados Unidos, enquanto caíram na zona do euro.”
A maioria dos bancos centrais, no entanto, enfatizou que o choque comercial está além do que eles normalmente estão acostumados e que não possuem as ferramentas para lidar com uma situação de rápida mudança que afeta principalmente a oferta, e não a demanda.
A turbulência poderia arrastar os EUA para uma recessão, mas isso seria mais parecido com a pandemia, com a exceção de que ela é amplamente conduzida por autoridades do governo.
O verdadeiro problema para os bancos centrais é que qualquer decisão que eles tomem agora afeta a economia em um horizonte de 12 a 18 meses. Porém, as decisões políticas são muito mais rápidas e os bancos têm pouca visibilidade sobre o que está por vir.
Portanto, sua principal tarefa por enquanto é manter a confiança do mercado financeiro e evitar que qualquer impacto inflacionário das tarifas seja incorporado.