
As ações da gigante americana de streaming Netflix, com sede na Califórnia, caíram depois do anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que aplicaria uma tarifa pesada sobre filmes produzidos no exterior. A Netflix viu seus papéis se desvalorizarem em 4%, passando a valer US$ 1.113 (R$ 6,29 mil) cada. Essa pode ser a pior queda diária dos papéis da companhia desde 4 de abril deste ano.
Na noite de domingo (4), o presidente americano afirmou que aplicará uma tarifa de 100% sobre “qualquer e todo filme que entre em nosso país e que seja produzido em terras estrangeiras”, alegando que produções feitas fora dos Estados Unidos representam uma “ameaça à segurança nacional”.
Até então, as ações da empresa de streaming eram vistas por muitos como um porto seguro em comparação com outros papéis afetados pela instabilidade gerada pelas tarifas. Um relatório de analistas do Bank of America, após a divulgação dos resultados trimestrais da empresa foi intitulado “previsível em um mundo imprevisível”.
Até o fechamento do mercado na sexta-feira (2), as ações da Netflix acumulavam alta de 30% em 2025, desempenho muito superior ao das outras empresas do grupo de ações de tecnologia de alto crescimento conhecidas como “FAANG” — acrônimo que representa as cinco maiores empresas de tecnologia dos Estados Unidos: Meta (2%), Amazon (-13%), Apple (-18%) e Alphabet, controladora do Google (-13%).
Além da Netflix, outras empresas do setor também sofreram queda, após o anúncio de Trump. As ações da Disney recuaram 2%, da Warner Bros. Discovery — controladora da Max–, 3%. Já os papéis da Paramount Global sofreram desvalorização de 2% e da Comcast (controladora da Universal Pictures) com baixa de 1%, todas superando a queda inferior a 1% do índice de referência S&P 500.
Com a desvalorização, o valor de capitalização da Netflix sofreu um recuo de US$ 20,4 bilhões (R$ 115,2 bilhões). O montante é quase igual à avaliação total da Warner Bros. Discovery, que é de US$ 20,5 bilhões (R$ 115,8 bilhões).
Dúvidas no ar
Diferentemente de mercadorias, sobre as quais se cobra imposto quando entram por portos americanos, filmes são serviços com uma estrutura tarifária mais complexa. “Seriam só os filmes ou também séries de streaming? E os efeitos visuais, coproduções, financiamentos internacionais para o cinema? Há um grau enorme de incerteza”, disse Henning Molfenter, ex-diretor do estúdio alemão Babelsberg e produtor de filmes como “O Pianista” e “Capitão América: Guerra Civil”, ao The Hollywood Reporter.
Segundo a empresa de pesquisa de mercado Ampere Analysis, pouco mais da metade (51%) dos gastos da Netflix com conteúdo em 2024 foi destinado a produções fora da América do Norte. Além disso, cerca de 70% das assinaturas pagas da plataforma vêm de fora dos Estados Unidos e Canadá. Algumas das produções mais populares da Netflix entre o público americano recentemente incluem séries gravadas fora dos EUA, como o drama britânico de época “Bridgerton” e a sul-coreana “Round 6 (Squid Game)”.