No fim de semana, a Forbes publicou uma reportagem sobre problemas financeiros na Wondermind, uma startup de saúde mental cofundada pela atriz e magnata dos negócios Selena Gomez, que não conseguiu pagar seus funcionários, freelancers e fornecedores nas últimas semanas. Na segunda-feira (12), uma fonte com conhecimento da situação confirmou que nove funcionários foram demitidos e receberam duas semanas de indenização, restando apenas quatro na equipe.
A apuração da Forbes revelou que a startup, fundada por Gomez em 2021 com sua mãe, Mandy Teefey, e a empreendedora de newsletters Daniella Pierson, que saiu em 2023, acumulava dívidas pendentes que somavam dezenas de milhares de dólares – ou até mais –, valor que, segundo a empresa, já foi quitado. Em uma conversa gravada compartilhada com a Forbes, Teefey, que também é CEO da Wondermind, disse aos funcionários que havia feito um empréstimo usando sua própria casa como garantia para manter a startup em funcionamento.
Como era de se esperar, a notícia sobre os problemas na Wondermind gerou um debate acalorado online: qual realmente é a fortuna de Selena Gomez?
Em setembro de 2024, a Bloomberg informou que o patrimônio líquido de Gomez era de US$ 1,3 bilhão (R$ 7,28 bilhões), graças à sua linha de maquiagem, Rare Beauty, fundada em 2019 e lançada em 2020. Desde então, diversos veículos de mídia passaram a chamar a artista de 32 anos de bilionária.
Com base na apuração da Forbes, Gomez é de fato muito rica, mas seu patrimônio líquido é estimado em cerca de US$ 700 milhões (R$ 3,92 bilhões). Esse valor ainda coloca a ex-estrela da Disney entre as empreendedoras não-herdeiras mais ricas do país – e uma das celebridades mais ricas –, mas a composição de sua fortuna ajuda a explicar por que ela pode ter recursos limitados, ou pouca disposição, para investir mais dinheiro na Wondermind.
Império de Selena Gomez
O maior ativo de Gomez é sua participação estimada em 51% na Rare Beauty. Os únicos outros investidores conhecidos da startup são a empresa de capital privado New Theory Ventures, fundada por Nikki Eslami, e o CEO da Rare Beauty, Scott Friedman.
CEO da empresa desde a fundação, Friedman anteriormente liderou a NYX Cosmetics, de Toni Ko, que também integra a lista de mulheres self-made da Forbes, até 2017, quando ajudou a vender a empresa para a L’Oréal por US$ 500 milhões (R$ 2,8 bilhões). Um registro de 2021 na cidade de Southaven, Mississippi, lista as holdings de Gomez, Eslami e Friedman como sócios da Rare Beauty LLC.
O documento também menciona Julius Salerno, cofundador da antiga empresa de extensões capilares de Eslami, a Bellami, embora não esteja claro se ele possui participação societária. Eslami e Friedman não responderam aos pedidos de comentário; Salerno não pôde ser localizado.
A empresa de cosméticos vende seus produtos exclusivamente na Sephora e no site da Rare Beauty. Ela se tornou um sucesso em grande parte devido à popularidade de seus blushes líquidos. Em um registro no estado da Califórnia, a Rare Beauty declarou uma receita de US$ 367 milhões (R$ 2,05 bilhões) em 2023, o ano mais recente com informações disponíveis.
No geral, a Forbes avalia a empresa em cerca de US$ 1,3 bilhão (R$ 7,28 bilhões), com base na análise de especialistas da indústria da beleza. No entanto, os consultores observaram que as avaliações de mercado caíram nos últimos meses.
“As condições de mercado neste momento estão exercendo uma espécie de pressão negativa sobre as avaliações”, observa Dan Su, analista da Morningstar. “E, honestamente, maquiagem é uma categoria que, na minha opinião, tem uma barreira de entrada relativamente baixa. Então há muita concorrência.”
Fora da Rare Beauty, Gomez acumulou ganhos brutos estimados em US$ 90 milhões (R$ 504 milhões) ao longo dos anos com seus programas de TV, música, contratos publicitários e turnês. Isso inclui os US$ 30 milhões (R$ 168 milhões) que ela teria recebido por sua colaboração com a Puma em 2017 e os US$ 24 milhões (R$ 134,4 milhões) estimados por seus ganhos com a série de comédia da Hulu vencedora do Emmy, Only Murders in the Building, que ela coproduz e protagoniza ao lado de Steve Martin e Martin Short. Ela também teve um papel de destaque no filme indicado ao Oscar, Emilia Pérez, pelo qual foi indicada ao Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante em filme. Além disso, foi produtora executiva da polêmica série de sucesso da Netflix 13 Reasons Why.
Em 2020, Gomez pagou quase US$ 5 milhões (R$ 28 milhões) por sua casa em Encino, onde gravou as três primeiras temporadas de seu programa de culinária, Selena + Chef. Recentemente, ela comprou uma propriedade em Beverly Hills no valor de US$ 35 milhões (R$ 196 milhões) com o noivo e produtor musical Benny Blanco. Os representantes de Gomez recusaram-se a comentar a respeito da análise de patrimônio líquido feita pela Forbes.
Hoje com 32 anos, Gomez começou sua carreira aos 10, quando foi escalada para interpretar a personagem Gianna na série Barney e Seus Amigos, entre 2002 e 2004. Seu grande momento veio três anos depois, em 2007, quando conseguiu o papel principal como Alex Russo na série do Disney Channel Os Feiticeiros de Waverly Place.
Como muitas ex-estrelas da Disney, Gomez migrou para a música. Ela lançou seu primeiro álbum em 2008 e, desde então, lançou mais seis. O mais recente é uma colaboração com Benny Blanco, lançada em março. Ainda assim, Gomez, que não faz uma turnê musical desde 2016, não faturou tanto quanto outras artistas milionárias — como Taylor Swift e Beyoncé — que, segundo estimativas da Forbes, arrecadaram centenas de milhões de dólares ao longo dos anos, especialmente com turnês.
Bastidores da polêmica
Não está claro quanto dinheiro do próprio bolso Gomez investiu na Wondermind ao longo dos anos. Em 2022, um ano após seu lançamento, a empresa levantou US$ 5 milhões (R$ 28 milhões) com uma avaliação de US$ 100 milhões (R$ 560 milhões) em uma rodada de captação Série A liderada pela Serena Ventures, de Serena Williams, com participação do family office do bilionário do setor imobiliário Barry Sternlicht.
A Wondermind tem enfrentado dificuldades para conseguir novos financiamentos externos desde então. De acordo com um ex-funcionário, que falou sob condição de anonimato, Teefey disse a essa pessoa que ela e Gomez haviam investido US$ 8 milhões (R$ 44,8 milhões) de recursos próprios na empresa, até meados de 2023. Teefey também afirmou aos funcionários que a empresa estava próxima de concluir uma nova rodada de captação Série B, mas isso ainda não se concretizou.
Tudo veio à tona em 31 de março, quando os funcionários não receberam seus salários e receberam um e-mail informando que seus benefícios de saúde haviam sido encerrados duas semanas antes. A empresa deixou de pagar novamente em 30 de abril e, em uma reunião com a equipe no dia 8 de maio, Teefey disse que havia feito um empréstimo usando sua casa como garantia para ajudar a cobrir dívidas.
Tudo isso levou às demissões anunciadas na segunda-feira (12), que, segundo um porta-voz da Wondermind, “não tiveram nada a ver” com o fato de vários funcionários terem falado anteriormente à Forbes sobre os problemas financeiros da empresa.
Rare Beauty além de Selena
Enquanto isso, Gomez — que, segundo alguns funcionários, mal se envolvia com a startup de saúde mental — continua tocando sua própria agenda cheia de compromissos. Ela tem gravado a quinta temporada de Only Murders in the Building em Nova York e se dedicado à Rare Beauty. Em 2 de maio, Gomez, que tem 420 milhões de seguidores no Instagram, publicou que apareceu de surpresa na Cúpula de Saúde Mental da Rare Beauty, realizada em Los Angeles.
Embora ela continue muito envolvida com a empresa de cosméticos, especialistas do setor preveem que o sucesso da marca vai além do poder de celebridade de Gomez. Diz Ashleigh Barker, chefe da área de beleza e cuidados pessoais da consultoria de banco de investimentos Lincoln International:
“O fato de não ser ‘a marca de beleza da Selena Gomez’, mas sim a Rare Beauty — e que ela representa algo que está fortemente alinhado com a Selena, sua narrativa e a mensagem que ela passa aos seus seguidores, mas que também vai muito além dela como indivíduo… o fato de a marca conseguir se sustentar sozinha, sem depender dela no comando, é, na minha opinião, o que ajuda a garantir sua longevidade.”
Quanto a Gomez, não há dúvidas de que, após 22 anos de carreira e sucesso em tantas áreas — incluindo uma enorme e leal base de fãs —, ela ainda tem muitos outros capítulos pela frente.
