“Equilíbrio” é a palavra que aparece com frequência em uma conversa com Maria João d’Orey. E não poderia ser diferente, uma vez que a natureza é a matéria-prima de seu trabalho. Paisagista de renome – está no ramo há quase quatro décadas – Maria vive às voltas com árvores, plantas, frutos e flores em um expediente 24/7.
Muita gente que não a conhece de nome, com certeza já teve contato com seu trabalho. Basta uma visita ao Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, para observar e sentir o bem-estar proporcionado pela elegância exuberante da vegetação suspensa que percorre todo o ambiente. Ou então se maravilhar com os jardins campestres da Fazenda Boa Vista e do Boa Vista Village, empreendimentos imobiliários de sucesso no interior do estado. “Estou trabalhando há 12 anos no desenvolvimento desses projetos”, informa ela.
Ela também se diz surpresa com a dimensão da procura que a atividade paisagística tomou durante a quarentena. “Posso dizer que ando trabalhando o dobro, tocando entre vinte e trinta projetos particulares”, conta, definindo o momento profissional como “feérico”. Sem dúvida uma consequência do efeito “volta ao lar” provocado pela pandemia.
Antes de conhecer o sucesso entre jardins ingleses, contemporâneos e japoneses, Maria João passeou pelo esporte, música e moda. Nascida em Portugal, ela desembarcou no Brasil durante a adolescência, nos anos 1960 – com o divórcio dos pais, ela acompanhou a mãe brasileira de volta ao país. Tratou de canalizar a energia juvenil no tênis, arrasando nas quadras do clube Harmonia.
Então, como os tempos pediam, mergulhou no rock’n’roll, tietando, namorando e casando com o baixista, hoje produtor musical, Lee Marcucci – cofundador, com Rita Lee, da lendária banda Tutti-Frutti – com quem teve dois filhos. “Eu via aquela turma no palco, brilhando, e comecei a querer brilhar também”, lembra. Engatou uma rápida passagem como modelo: “Achei tudo muito chato”. E, na sequência, foi dona de confecção, mas ainda não era o brilho desejado. Paralelamente, sua mãe, a conhecida paisagista Xinha d’Orey, insistia: “Vem trabalhar comigo.” Um dia ela foi. E ficou até hoje: “Eu me apaixonei pelas plantas, pela natureza, por tudo e, quando minha mãe casou novamente e mudou para o Rio, continuei na empresa.”
Foram inúmeros projetos particulares, para casas na cidade, praia, campo, fazendas… Até o primeiro trabalho em grande escala, o paisagismo para a Villa Daslu, na Vila Olímpia, nos anos 2000. Maria fez outra descoberta: “Gosto mesmo é de macropaisagismo. É uma maneira de as pessoas realmente conhecerem o meu trabalho”, resume.
Para ela, o bom paisagista sabe interpretar bem o desejo do cliente e faz um pouco de tudo: “Sou autodidata, não tenho uma formação tradicional”, explica. Por isso, não se considera apegada a nenhum estilo específico de paisagismo. “Uso meu jardim em casa como campo de experimentação para ideias e plantas. Gosto de jardim com muitas flores, detalhes, cantos e árvores, muitas árvores, sombra para aliviar o calor. Um jardim precisa exibir a beleza de todas as épocas do ano”, ensina.
Para quem tem pouco espaço para ter um jardim de verdade, Maria dá a dica: “Um muro verde, onde você pode colocar de tudo, fazer uma horta, ter plantas medicinais, ornamentais etc”. E arremata: “Um jardim sempre te dá alguma coisa.”
Sempre muito ativa, Maria João entrega sua fórmula para o dia a dia: “Tomo um chá, faço ioga, medito e saio para a vida”. Sabe o tal do equilíbrio? Então… A seguir, Maria João d’Orey, #MulherdeSucessoResponde:
Qual o seu maior exemplo de mulher de sucesso?
Nunca fui de ter ídolos, mas sou fã incondicional das mulheres em geral. Percebo que cada uma, a seu modo, sempre brilha. É na diversidade feminina que se encontra o todo. A vida me deu o privilégio de conhecer mulheres incríveis e estou sempre bebendo nessas fontes.
Qual a sua ideia de felicidade no trabalho?
Sem dúvida, fazer aquilo que se gosta, do jeito que se gosta e com quem se gosta.
Eu achava que sucesso era… mas descobri que sucesso é…
Achava que sucesso era fazer só o que eu queria. Descobri que o sucesso vem depois de muito trabalho, dedicação e até, muitas vezes, fazendo aquilo que não gostamos.
Depois da pandemia qual será a mudança mais significativa na sua área de atuação profissional?
Meu dia a dia foi pouco impactado pela pandemia porque meu trabalho acontece ao ar livre. A grande mudança pós-pandemia será uma volta. A volta das reuniões presenciais sem máscara. Que delícia! Isso sem falar na volta dos abraços…
Se você pudesse escolher um superpoder, qual seria?
O poder de promover o equilíbrio. É, com certeza, o que todos nós precisamos no momento. A pandemia mexeu com nossos nervos e reina um desequilíbrio generalizado. Haja meditação e respiração!
Que tipo de hábito ou exercício você recomenda para desligar ou aliviar a mente?
Sem dúvida caminhar e ajardinar. Nada me acalma mais do que caminhar e mergulhar no meu jardim, para cuidar dele e de mim. Tenho a felicidade de morar no campo e possuir meu próprio jardim. Percebo que é na natureza e com a natureza que me refaço do estresse. A mãe natureza é sábia e poderosa.
Qual mensagem você gostaria de deixar para as próximas gerações?
Diria para investirem em ética, técnica e amor. É importante perceber o que cada cliente sonha e poder traduzir isso em um lindo trabalho. Sempre digo que fazer um jardim é um ato amoroso. Esse tripé é sucesso!
Com Mario Mendes e Antonia Petta
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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