Uma das promoters mais requisitadas do país, Carol Sampaio, 38 anos, é sinônimo de trabalho sério e diversão, características que lhe renderam mais do que sucesso na organização de grandes eventos, mas garantiram à empresária uma reputação que precede os seus feitos. Responsável pela lista de famosos em eventos como Rock in Rio, Lollapalooza e por camarotes na Marquês de Sapucaí, Carol é ainda criadora do Baile da Favorita, festa que há quase 10 anos lança e impulsiona grandes nomes do funk nacional, como as cantoras Ludmilla e Anitta, além de transformar a relação de marcas e da sociedade brasileira com o ritmo popular carioca.
Do marketing focado no sucesso de eventos ao mundo online, Carol também está à frente da Stage Digital, agência criada há três anos para conectar marcas a celebridades. Durante a pandemia de Covid-19, a paralisação dos eventos foi compensada pela demanda de trabalho da Stage, que viu crescer suas operações em quase 100%. Entre declarações de amor e confissões sobre os desafios de se atuar com eventos, Carol fala com leveza sobre a importância de se trabalhar no que acredita.
Na live da série #ElasQueInspiram, a promoter compartilha um pouco sobre seus sonhos, transformações vividas na quarentena, trabalho e valores. Abaixo um resumo da nossa conversa:
Francine Mendes: Quem é a Carol Sampaio e como você se descobriu trabalhando com eventos?
Carol Sampaio: Eu sou uma pessoa que ama trabalhar, mas principalmente sou uma pessoa que ama o que faz, e existe uma grande diferença entre os dois. Sou uma pessoa que ama levar alegria, realizar sonhos e tem como lema fazer as pessoas se divertirem.
Eu fui puxada para o mundo dos eventos muito jovem. Era atleta, jogava futebol feminino no Flamengo e lutava jiu-jitsu profissionalmente também. Eu estava indo para os EUA jogar futebol quando rompi os ligamentos do meu joelho e, com isso, descobri um tumor ósseo no meu joelho que inviabilizou toda a viagem. Eu havia prestado vestibular como um plano B no Brasil e fiquei seis meses em fisioterapia.
A minha mãe era dona de um restaurante e um dia fizeram uma matéria com a gente, citando que eu era tão comunicativa quanto ela, mas transitava mais no meio dos esportes. Uma marca planejava lançar uma cerveja no Brasil, viu a matéria e me ligou falando que eles queriam transitar em todos os meios, inclusive nos esportes, e me convidaram para fazer o lançamento da cerveja. A minha mãe falou “de jeito nenhum, esquece isso”, mas eu insisti até que ela concordou.
Eu fiz o evento e me apaixonei. Percebi que era o que eu queria da vida, levando meus amigos para os eventos também, mas essa ilusão durou muito pouco tempo, porque logo em seguida eu fui chamada para fazer o carnaval para a mesma marca e percebi que trabalhar com eventos não é uma vida de facilidades, de levar quem eu quiser para os meus eventos. Eu entendi que tinha que trazer quem a marca queria, e comecei a encarar aquilo como um trabalho. Na verdade, eu não me preparei para esse mundo, eu fui realmente puxada para ele.
FM: Muitas mulheres não têm noção do seu poder de networking e de como utilizá-lo. Como você constrói seu networking e que dica você daria para mulheres que hoje precisam construir ou usar o networking que já têm em seu favor?
CS: A principal dica para networking, que eu uso na minha vida, é você ser você mesma. É agir com naturalidade. Porque toda vez que a gente tenta forçar algo que não somos, isso se perde. Quanto mais usamos a nossa essência, quanto mais você quer fazer esse networking e se dedica para isso, quando vem de dentro, o resultado é algo natural e que faz a diferença.
FM: Como foi migrar da rotina agitada dos eventos para a pandemia. Você precisou ser muito resiliente?
CS: Eu nunca passei por isso na minha vida e nunca esperei passar, mas não temos muito o que fazer. Ficamos muitos meses parados e, quando flexibilizaram um pouco as regras para os eventos, eu dei apenas um passo, e não dois. Fiz uma live da Favorita para comemorar os 9 anos em um hotel em que os quartos eram virados na piscina, não fiz pista de dança. Era o que eu sentia segurança em fazer naquele momento. Quem quisesse, podia assistir do quarto e ou utilizar os lounges na piscina com distanciamento social. E foi muito legal, as pessoas se divertiram, gostaram da experiência. Ficamos oito meses fechados, tivemos um intervalo com alguma flexibilidade e, depois, voltamos a fechar novamente.
Em paralelo eu tenho outra empresa, a Stage Digital e ela cresceu muito, porque o digital foi fundamental nessa pandemia. Eu acho que a vida é isso, ter equilíbrio, ver onde é possível crescer. Como promoter, eu olhava todos os detalhes dos eventos que eu fazia: olhava para a segurança, produção, cozinha, logística e não é à toa que a gente cresceu. Olhar para onde pode-se crescer e abrir caminhos é muito importante. Se eu não tivesse feito isso há três anos, eu não teria a Stage que foi a grande solução para o meu momento na pandemia. A gente cresceu quase 100% na pandemia. Eu acredito que buscar outros caminhos na vida é algo que devemos sempre fazer.
FM: Você se capacitou para ser promoter?
CS: Eu comecei muito jovem, aos 17 anos, então eu tive a sorte de aprender com a vida, mas é também a escola mais difícil. As pessoas tinham férias, Réveillon, carnaval e eu nunca tive nada disso. Quando o camarote da Brahma no carnaval acabou eu pensei: “eu desfilo pela Grande Rio desde que eu tinha 12 anos, trabalho desde os 18. Aos 38 anos, o que eu vou fazer da minha vida se eu não tiver algum trabalho no carnaval? Eu não sabia nem o que fazer. A escola da vida te faz dar valor, mas também te faz enxergar o quanto você realmente ama, ou não, o que faz. Quando se é um bom aluno, toda aula te faz crescer.
FM: Quais são as pessoas ou no que você busca inspiração?
CS: Quando eu comecei era muito difícil ter mulher nesse mercado. Eu fui muito julgada. Mães de amigas minhas falavam que era estranho eu trabalhar na noite, mas eu encaro como qualquer outro trabalho. Em qualquer meio tem o lado bom e ruim, tem preconceito, ego. Em qualquer meio você tem todas as possibilidades, mas como você se posiciona é importante. Eu estou há 20 anos no mercado e sempre trato todo mundo igual, nunca me misturei com coisas que não deveria me misturar.
Quando comecei a fazer o Baile da Favorita, eu tinha cliente que falava: “a Carol tá fazendo baile funk na Rocinha, não dá mais para trabalhar com ela” e, um ano depois, os mesmos clientes estavam contratando as pessoas que foram lançadas ou que fizeram um primeiro show ali no Favorita, como a Ludmila, a Anitta.
FM: Como você lidou com esse preconceito?
CS: Eu tenho uma personalidade muito forte e quando eu acredito em algo, nada me para. Eu sou muito justa em tudo o que faço e quando eu boto meu coração em alguma coisa é porque eu acredito muito. Eu não tinha como não fazer (o Baile da Favorita), porque eu acreditava muito naquilo. O Favorita faz 10 anos no ano que vem. Qual é a festa que dura 10 anos no Brasil? Eu acreditava muito e sofri preconceitos, mas eles passaram mais rápido do que eu imaginava. Eu acreditei e, quando você acredita em você mesma, e coloca o seu melhor, você traz as pessoas de uma maneira que elas passam a acreditar também.
FM: Quais são os seus sonhos profissionais, onde você se vê nos próximos anos?
CS: Eu tive a sorte de realizar os meus dois maiores sonhos. Como eu venho do esporte, pude realizar a Olimpíada e a Copa do Mundo no meu país e fui a pessoa mais feliz e realizada do mundo com isso.
Eu sonhava em fazer casamentos, festas porque eu amo ver as pessoas se emocionando. Eu amo quando alguém chega no fim de uma festa e diz que aquela noite nunca vai sair da sua cabeça. Por isso eu criei a área de cerimonial que foi muito importante na CS Eventos. O carnaval consolidou a minha imagem como empresária e foi um evento que me chamou atenção para uma área que eu quero crescer muito, que é a produção de grandes eventos. Esse é meu próximo grande sonho a ser alcançado.
FM: Nós, mulheres, nos doamos muito e acabamos centralizando muito também porque somos muito perfeccionistas. Como é o seu time e como funciona a sua gestão de pessoas?
CS: Eu tenho um time bem grande e sócios incríveis. Eu sou da criação, aquela que vai para rua e gosta de fazer acontecer, mas eu tenho sócios fundamentais, em quem eu confio e sei que posso trazer o que for da rua, que o time vai segurar. Acho fundamental também que o time tenha a mesma paixão, a mesma admiração. Quando você passa essa energia, se a pessoa está na mesma sintonia que você, não tem como ela não embarcar. Não é sobre bom humor, mas é sobre a forma que você passa as coisas para a sua equipe, o amor que você sente pelo trabalho tem que chegar de alguma forma para eles.
FM: Mulheres que inspiram, muitas vezes, estão sobrecarregadas, divididas entre diferentes projetos e, por fim, muitas vezes esquecem do autocuidado. Como você, Carol, cuida de si mesma, da sua saúde?
CS: Eu sempre fui atleta, mas durante um período da minha vida eu realmente não consegui fazer a quantidade de esportes que eu queria, não tive a vida saudável que desejava, deixei isso de lado, mas há três anos eu tive um susto muito grande, quando fiquei por 12 dias em um CTI (Centro de Terapia Intensiva). Eu tinha 20% de chance de sobreviver.
Eu tive uma infecção urinária e a minha médica disse que eu não podia segurar o xixi, mas eu estava montando o carnaval, era o primeiro ano do nosso camarote, então eu continuei trabalhando. A infeção urinária subiu para o meu rim direito e foi para o meu sangue, eu tive uma sepse. Foi um susto porque eu estava como musa de um bloco às 3h00 e, às 7h00, eu acordei com 42,5ºC de febre.
Quando eu deixei o CTI, a Vivi, minha médica, me chamou para conversar. Ela disse: “eu sei que o camarote é importante, mas você está esquecendo quem é a Carol, você não pode esquecer isso porque a Carol ainda tem muita coisa pela frente.” Depois disso eu tirei o glúten e o açúcar da minha alimentação e voltei às atividades físicas. Hoje em dia, eu tiro 1 hora por dia para me exercitar e não abro mão.
Faz muita diferença quando temos hábitos saudáveis, e essa é até uma maneira de aliviar um pouco o estresse, essa coisa de não demandar, de não distribuir muito as tarefas. Eu mudei a minha vida e foi a melhor coisa que eu fiz. O emagrecer foi a última coisa que olhei, eu fico preocupada com a minha saúde. O equilíbrio é o mais importante para quem é workaholic.
FM: E quais as dicas para as mulheres que desejam empreender, por onde começar?
CS: Eu acredito que o primeiro passo é olhar para si mesma, para onde a gente transita. Qual é o meu meio, o que faz parte do meu dia a dia? Para dar certo, precisa fazer parte da sua rotina e você tem que amar aquilo.
O que você enxergar que pode fazer bem feito, que pode dar o seu melhor. Por mais que você tenha um desconforto para começar, o segredo é vencer o medo, encarar o desafio e fazer aquilo que você acha que vai ter uma entrega completa de dedicação.
FM: Como organiza trabalho e vida pessoal?
CS: Eu deixei a minha vida pessoal de lado por muito tempo e a pandemia foi muito importante para eu refletir: cadê a Carol? Eu passei uns cinco anos esquecendo quem era a Carol, sendo só a Carol workaholic o tempo todo. Então, a pandemia foi um momento muito importante para eu olhar para quem era a Carol, quais eram os meus sonhos.
FM: Qual o seu segredo de beleza?
CS: É estar feliz com você mesma, se dedicar para você mesma. Eu não deixo de fazer a minha caminhada, a minha corrida, ioga, musculação. É lógico, isso se reflete no meu corpo físico, mas reflete mais no meu interior. A beleza está no nosso esforço pela nossa saúde, isso acaba se refletindo no nosso físico.
FM: Você tem dicas de séries e livros?
CS: Eu amo história, então gosto muito das séries “The Tudors” e “The Crown”. Também assisti na pandemia “This Is Us”. Nos livros, “O Poder do Agora”, “Inteligência Emocional” e “A Arte da Guerra”.
Francine Mendes é educadora financeira para mulheres, economista pela Universidade Federal de Santa Catarina, com mestrado em psicanálise do consumo pela Universidade Kennedy. Apresentadora do canal Mary Poupe, no YouTube, e comunicadora na RiCTV Record. Instagram: @francinemendes
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