Bons negócios surgem quando empreendedores conseguem entender as dores dos consumidores e entregá-los uma solução. Para isso, é essencial estar atento ao dia a dia, para notar a falta que pode fazer o que parece ser simples. Foi em um desses momentos, quando fez uma hidratação nos cabelos e não obteve o resultado esperado, que Manuella Bossa teve o estalo de criar a TRUSS. Vinte anos depois, a marca está presente em mais de 20 países e teve faturamento de R$ 311 milhões em 2020, mesmo durante a pandemia.
Manuella percebeu que não só ela, como suas amigas também sofriam com a qualidade dos procedimentos realizados nos salões de beleza. Quando os fios não ficavam duros, ficavam pesados. Os produtos, em sua maioria importados, não conversavam com os cabelos das brasileiras.
Ela tinha acabado de voltar ao Brasil, após passar uma temporada se especializando em marketing nos Estados Unidos e trabalhando na área de desenvolvimento de produto da Calvin Klein, em Nova York. Formada em moda e funcionária de uma das maiores marcas da virada do milênio, Manuella afirma que realizou o estágio “contando os minutos” para retornar ao Brasil porque queria abrir seu próprio negócio. “Já tinha estudado demais e queria assinar o meu próprio nome. Minha ideia era ter minha marca de roupas, mas quando cheguei aqui as grandes lojas estavam sendo vendidas, as tecelagens fechando, o produto chinês estava voltando com tudo. Se os ícones da moda não estavam bem, como eu poderia começar uma marca nova? Como criar nesse cenário?”, relembra a CEO e fundadora.
Com capital próprio e sem investidores, Manuella decidiu criar a TRUSS, marca de produtos profissionais para uso nos salões de beleza. Viu como oportunidade o caminho livre para produção nacional de itens high-end. Mas esbarrou na resistência dos profissionais a quem queria tanto agradar. “Os empresários nacionais só faziam produtos populares. Eu sofri demais porque os cabeleireiros brasileiros ficavam envergonhados de usar produto nacional. Tivemos que omitir essa informação”, afirma. Para isso, investia na qualidade das embalagens e fotografava as campanhas na Polônia, fugindo do estereótipo da mulher brasileira.
Mas, nesses 20 anos, o mercado e o mundo mudaram muito. Se antes o Brasil ocupava o oitavo lugar no consumo de produtos cosméticos e de beleza, hoje ele está perto do pódio, após subir quatro colocações no ranking mundial. Se antes havia vergonha do que era nacional, hoje há motivo de orgulho em dizer que uma linha de produtos é exportada daqui para o mundo. Há apenas cinco anos, Manuella decidiu assumir as raízes e trabalhou a comunicação da TRUSS para mostrar que se trata de uma marca brasileira.
Apesar de ter como motivação produzir para os cabeleireiros, a TRUSS acabou expandindo seus limites para fora dos salões, chegando às perfumarias finas e aos e-commerces de beleza há um ano e meio. No Beleza na Web, os kits da marca estão entre os produtos mais vendidos e bem-avaliados na plataforma.
Em 2020, a marca cresceu 250%, com faturamento de R$ 311 milhões. Em um ano de pandemia e distanciamento social, os salões de beleza fecharam e a deixa foi perfeita para emplacar a TRUSS entre os consumidores finais, em um momento em que buscaram por produtos para continuar seus tratamentos em casa. Em vez de pisar no freio por causa do cenário incerto, Manuella antecipou pedidos e estocou matéria-prima. “Como compramos da Itália e da Espanha, muito afetados no início da pandemia, o receio era de que faltasse matéria-prima. Tive que alugar espaço para o tanto que compramos e cheguei a emprestar e vender insumos para concorrentes”, conta a CEO.
Com o alto crescimento, a TRUSS foi procurada por grandes redes do varejo para vender seus produtos, mas Manuella não queria abandonar seus primeiros clientes. “Entrou em cena o meu lado protecionista. Enquanto estávamos ao lado de outras marcas profissionais, estava tudo bem. Mas, a partir do momento em que entrássemos em farmácias e mercados, eu acabaria atingindo os cabeleireiros”, afirma. Com inspiração no início da carreira da fundadora, surgiu a linha La Moda, em novembro de 2020. A ideia era se aproximar dos consumidores a sem perder a qualidade dos produtos e nem abandonar os profissionais, com presença nas principais drogarias e na rede Pão de Açúcar.
A marca, que antes escondia ser brasileira, hoje está presente em mais de 20 países, incluindo Estados Unidos, Inglaterra, Espanha e Itália. O próximo passo é entrar com força no mercado asiático, referência no surgimento de tendências para o segmento de cosméticos e beleza. Em negociação com uma grande rede de farmácias norte-americana, Manuella sonha com a expansão da internacionalização da marca. “Quero que a TRUSS seja orgulho nacional”, finaliza.
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