“Eu sempre fui muito curiosa. Na infância, jogava games no computador e me perguntava o que tinha dentro das máquinas e como elas funcionavam”, relembra Poliana Brandão. Hoje, aos 34 anos, ela aproveita as aptidões de menina para desenvolver a jornada tecnológica da MSD Saúde Animal, farmacêutica especializada em medicamentos e vacinas do segmento veterinário.
Sua trajetória na área começou com pouco mais de 15 anos quando, paralelamente ao ensino médio, decidiu se inscrever em um curso técnico de informática. De lá, obteve seus primeiros conhecimentos em Flash e linguagem PHP, e saiu com a certeza de que a tecnologia era sua verdadeira vocação.
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Na sala de ciências da computação da University of East London, na Inglaterra, Poliana era a única mulher. Lá, ela começou a se dar conta da disparidade de gênero no setor. “Uma outra aluna só passou a fazer parte da turma no último semestre. Éramos duas em uma turma de 30 estudantes. Na maioria das vezes, mulheres não são educadas para explorar a ciência.”
Com passagens pela área de infraestrutura de TI na multinacional de real estate Johnson Controls e pela diretoria de digital & innovation da JLL, também da área imobiliária, Poliana construiu sua carreira num campo predominante masculino, fora da realidade de muitas mulheres ao redor do mundo. “Meus pais nunca me limitaram. Quando falava de tecnologia e informática, sempre recebi apoio da família para conquistar o meu espaço e ser uma mulher independente”, conta.
Seu primeiro emprego na área foi como “faz-tudo” no laboratório da universidade. Ajudava os alunos a utilizarem ferramentas como Word e PowerPoint, consertava impressoras, trocava os cabos dos computadores e, ainda, oferecia suporte para os estudantes que tivessem alguma dificuldade com as máquinas.
A formação em Londres não foi por acaso. Seu primeiro contato com a cidade, aos 17 anos, foi amor à primeira vista. A ideia era passar um ano estudando inglês e voltar para o Brasil. No entanto, encantou-se com a cultura, a diversidade de pessoas e o dinamismo da metrópole. Ao final dos 12 meses de intercâmbio, estava empenhada em permanecer por lá.
Na mesma época, vieram as primeiras lições de liderança. Para bancar as despesas da vida no exterior, Poliana trabalhou em alguns restaurantes da região e, apesar de muito nova, era encarregada de treinar e coordenar o grupo de garçons. Os conflitos entre gerações, estilo de vida e backgrounds foram naturais, mas nada que a fizessem desistir da responsabilidade.
Empatia, coletividade, trabalho em equipe e troca de conhecimento foram os pilares-chave que Poliana desenvolveu para guiar os colaboradores. “Sempre defendi que poderíamos compartilhar experiências. Chegava para ensinar algo novo, mas também para aprender com eles. Foi ali que eu, de fato, aprendi a liderar.”
Quando voltou para o Brasil, aos 23 anos, a jovem trouxe toda a bagagem adquirida nos pubs e restaurantes ingleses. Para sua surpresa, as estratégias se mostraram essenciais também no ecossistema de inovação.
Hoje, como diretora de TI da MSD Saúde Animal na América Latina, a executiva ainda precisa liderar pessoas mais velhas e com anos à sua frente no quesito experiência. Para isso, sua receita é clara: respeito mútuo. “Trago [uma abordagem mais moderna], mas ainda tenho muito a aprender com quem tem a vivência do setor. O mais importante é respeitar a história de cada um, pois isso facilita a interação.”
TECNOLOGIA NO CENTRO
Criada com a proposta de preservar e melhorar a saúde, o bem-estar e o desempenho dos animais, a MSD passa por um processo de transformação digital. A missão é ampliar o portfólio de soluções, deixando de oferecer apenas produtos e medicamentos veterinários, mas também soluções inovadoras e tecnológicas.
Para isso, a companhia está investindo em inteligência artificial, IoT (internet das coisas) e big data. Neste processo, Poliana idealizou, recentemente, um desafio para entusiastas da tecnologia com prêmios de até R$ 25 mil. O hackathon, batizado de MSD Innovation Challenge e lançado em parceria com o Centro Universitário Fiap, convida os participantes a criarem soluções de chatbots e assistentes virtuais para atender às demandas do time de vendas e experiência do cliente.
Este ano, a companhia criou uma nova unidade de negócios, com o objetivo de aprimorar o uso de dados e promover maior integração de sanidade e sustentabilidade entre animais, seres humanos e o meio-ambiente. “Em vez de olharmos para o rebanho como um todo, podemos acompanhar a jornada única do animal, por meio da tecnologia.” Batizado de MSD Saúde Animal Intelligence, o braço tecnológico é impulsionado por uma série de aquisições, que incluem as marcas Allflex, Sure Petcare, Vaki, IdentiGEN, Quantified Ag e Poultry Sense.
Segundo a especialista, a vantagem das inovações é otimizar o monitoramento e a rastreabilidade dos animais. “Consigo entender, por exemplo, se precisa ou não de medicamentos, se está engordando ou emagrecendo e quais são as reações diante de mudanças externas, como o clima”, explica.
Além das atividades com animais de produção, a companhia também desenvolve itens exclusivos para melhorar a qualidade de vida de cães e gatos. As soluções incluem produtos para controlar a diabetes e uma plataforma digital onde o tutor pode acompanhar a frequência com que a insulina está sendo aplicada.
Desde junho de 2020, quando assumiu a liderança de TI, Poliana também desenvolveu um trabalho de cloud computing, levando toda a estrutura da MSD para a nuvem. As conquistas incluem, ainda, a implementação de uma metodologia ágil para aprimorar o trabalho da equipe e apoiar times diversos. “Para mim, é muito importante trazer representatividade para o time. Assim, conseguimos desenvolver novas ideias e inovações tecnológicas”, considera.
MOVIDA A INQUIETAÇÕES
“Tenho muitos ídolos. Minhas grandes inspirações são Bill Gates e Steve Jobs. Eu sempre quis chegar no mesmo patamar que eles”, conta. Ao contrário do que muitos podem pensar, o que chama a atenção de Poliana nessas personalidades não é a fama, empresas gigantes ou o tamanho da fortuna, mas sim como conduziram suas carreiras do zero e a capacidade de se reinventarem ao longo dos anos. “Steve Jobs era extremamente visionário, buscando sempre melhorar com a experiência. Ele nunca estava satisfeito e tinha muitas inquietações.”
Sem abandonar a curiosidade de menina que deu início a toda sua jornada profissional, Poliana está, constantemente, desenvolvendo novas habilidades. Seja por meio de cursos, conversas ou um bom livro, sua motivação é, no final das contas, sair da zona de conforto.
Em 2016, concluiu um MBA em gestão estratégica de negócios pela faculdade de tecnologia Fiap. No ano seguinte, fez outra especialização, desta vez em project management office, pela Faculdade Impacta Tecnologia. Hoje, entre reuniões, hackathons e muita tecnologia, ela ainda achou espaço na rotina para fazer um novo MBA, no braço universitário da MSD Saúde Animal, com foco em liderança positiva e gestão de pessoas.
“Temos que lidar com coisas que nos incomodam uma vez por semana ou, pelo menos, uma vez por mês. Se ficarmos estacionados e confortáveis com o que estamos fazendo, não evoluímos. Meu grande desafio é sempre ser a minha melhor versão todos os dias”, conclui.
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