“A vida é como uma caixa de chocolates: você nunca sabe o que vai encontrar.” Cinéfilo ou não, tenho certeza de que alguma vez você já ouviu essa frase. Esse pequeno ensinamento, dito da forma mais doce pela Sra. Gump, mãe de Forrest Gump, é apenas uma das memoráveis cenas deste que é um dos meus filmes favoritos, que além de um sucesso estrondoso de bilheteria e vencedor de seis Oscars, marcou de forma profunda a cultura popular.
As grandes histórias têm um poder extraordinário, que vão muito além do filme em si. Aprendi isso durante os cinco anos em que atuei como Vice-Presidente Innovations América Latina na WarnerMedia, uma das maiores empresas de entretenimento do mundo. Lá, tive a oportunidade de viver e respirar intensamente minha paixão por filmes e suas narrativas. Entendi que ficções, muitas vezes, estão mais próximas da realidade do que podemos imaginar. Também aprendi que, por meio do entretenimento, podemos abordar temas complexos com leveza, falar sobre autoestima por meio de desenho animado ou até mesmo explorar personagens com QI abaixo da média capazes de conquistar o mundo.
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Entre as várias lições de Forrest Gump, a que mais me marcou, e que levo comigo também na vida profissional, foi a importância da resiliência. Sim, o substantivo feminino a que me refiro no título.
E quando falo de resiliência, não me refiro “apenas” à ficção: a improvável história do garoto do Alabama que virou herói de guerra, campeão do tênis de mesa, conheceu presidentes, atravessou os Estados Unidos correndo, comandou um barco de pesca de camarão e, mesmo com limitações motoras, ensinou Elvis Presley a dançar. Me refiro também ao mundo real: o que aconteceu por trás das câmeras é igualmente impressionante.
A produção do filme é um exemplo das coisas mágicas que acontecem quando a perseverança e a paixão andam juntas. Antes de ser lançado, em 1994, o roteiro do filme passou 10 anos entre mudanças de roteiristas, trocas de estúdio, cortes de budgets de milhões de dólares, além de literalmente ter ficado anos esquecido dentro de uma caixa, com outros tantos roteiros.
O filme só começou a ser produzido graças à resiliência da produtora Wendy Finerman, que, após se apaixonar pelo roteiro, foi até as últimas consequências para levá-lo às telas. Inclusive indo contra os poderosos estúdios de Hollywood.
Quem também embarcou na história foi o diretor Robert Zemeckis e a principal estrela do longa, Tom Hanks, que investiram dinheiro do próprio bolso para realizar o seu filme dos sonhos. Não há como não se lembrar da quantidade de latas, botas e tampas de vasos sanitários que o personagem, Forrest Gump, pescou antes de encher sua rede de camarões e ter sucesso com sua cadeia de restaurantes Bubba Gump.
Eram muitas as relações de confiança. Seja na ficção, entre Forrest, Dan, Jenny e Bubba. Ou, na vida real, entre Hanks, Zemeckis e Wendy.
Na minha vida profissional, uma das maiores batalhas que enfrentei foi quando assumi uma posição de liderança na WarnerMedia, e que para conseguir fazer as mudanças que a companhia precisava para evoluir, foram necessários anos de resiliência, e só foram possíveis graças à confiança que tive da minha comandante. E vice-versa.
“Se você não estiver incomodando, você não está fazendo bem o seu trabalho”. Poderia ser uma fala do Tenente Dan, mas foi da minha líder e “role model”, Gretchen Colón.
Adrienne Maree Brown, escritora e ativista feminista, sugere que relacionamentos e projetos de impacto se movem à velocidade da confiança.
Embora com 25 anos de experiência, entre vitórias e derrotas, não tinha capacitação para o que vinha a seguir na minha carreira. 30 dias após assumir a posição de CEO na Grey Brasil, teve início a pandemia e com ela vieram todas as incertezas que imagino que líder nenhum estava preparado. Mais uma vez, a resiliência foi essencial para que pudesse entender que o medo paralisa, mas que a confiança potencializa o melhor de cada um. Com o apoio incondicional do meu time, temos entregado ótimos resultados para nossos clientes e, consequentemente, para minha empresa.
No final, mais importante do que reagir da melhor forma ao imponderável, é conhecer seu propósito e saber aonde você quer chegar.
Aqui, sinto que devo fazer uma pausa necessária.
Como mulher branca, tenho o dever de escutar com atenção outros pontos de vista, como a de Bozoma Saint John, CMO da Netflix. Recentemente, Bozoma fez um post no seu Instagram onde o título irônico dizia “For all us strong ones.” A imagem segue com o desabafo de uma diretora, artista e produtora negra: “eu sonho em nunca mais ser chamada de resiliente na minha vida. Estou cansada. Quero suporte. Quero fazer parte e não ser reconhecida por receber, tão bem, as porradas da vida”.
Segundo Daniel Goleman, jornalista científico, emoções são contagiosas. Em todas as nossas ações, sejam quais forem, podemos fazer com que a outra pessoa se sinta um pouco melhor, um pouco pior ou até mesmo muito melhor. Encerro esse artigo com um convite: se a vida é uma caixa de chocolates e nunca saberemos o que vem pela frente, ofereça sempre seus melhores bombons para aqueles que caminham com você. Aprenda com as falhas e perdas e tente sempre trazer uma ótica mais otimista para as situações que a vida te apresentará.
Luciana Rodrigues é CEO e presidente da Grey Brasil, conselheira do board da Junior Achievement, membro do conselho MMA Brasil e do comitê estratégico de presidentes da Amcham. Também é aluna de pós-graduação em neurociências e comportamento.
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