O empreendedorismo social vem de berço para Domitila Barros. Foi ele que levou a pernambucana a palestrar para delegados da Unesco aos 15 anos, a criar a própria grife de biojoias em 2018 e, no sábado (19), a se tornar a primeira imigrante e mulher negra a vencer o concurso Miss Alemanha.
A premiação, antes baseada principalmente na beleza e simpatia das participantes, agora valoriza o empoderamento feminino e leva em conta a diversidade, reunindo mulheres de diferentes países e idades. De 12 mil candidatas e 160 mulheres na fase de seleção, Domitila se destacou. “Não foi pela novela que eu já fiz ou pela minha marca, mas pelo fato de que durante 22 anos consecutivos eu nunca abri mão de lutar pela natureza e pela igualdade social”.
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A brasileira de 37 anos, natural de Linha do Tiro, bairro da periferia de Recife, já nasceu dentro da ONG Camm (Centro de Atendimento a Meninas e Meninos), criada por seus pais. “Eu não me tornei um ser humano social porque eu fiz mestrado ou porque estudei. É porque eu só entendo a vida assim”, diz.
Aos 13 anos, começou a ensinar as crianças da ONG a ler e escrever por meio da dança e do teatro. Aos 15, recebeu o prêmio internacional “Sonhadores do Milênio”, da Unesco em parceria com a Disney, e palestrou em Orlando. “Foi aí que eu entendi que o trabalho que eu fazia na comunidade de Linha do Tiro era tão importante”.
Desde então, ela já deu mais de cinco mil palestras sobre a vida nas favelas brasileiras, responsabilidade social e sustentabilidade. “Para mim, é muito importante assumir a minha própria narrativa porque a história de uma jovem negra da periferia do Recife não está em livro nenhum de história”.
Recifense na Alemanha
Sua trajetória na Alemanha começou quando, depois de começar um bacharelado em serviço social, Domitila conseguiu uma bolsa de estudos para fazer mestrado em Ciências Políticas e Sociais no país europeu. “Foi muito difícil porque era frio, eu estava sozinha e sofri muito preconceito. Não falava a língua, sou negra e existe uma questão muito forte do sexismo relacionado à mulher brasileira”.
Justamente por isso, concluir o mestrado e ganhar o Miss Alemanha representou muito para ela. “É importante que uma brasileira negra mostre para a sociedade do que a gente realmente é capaz para poder apagar essa imagem limitada”, diz.
Na Alemanha, Domitila se dividia entre os estudos e trabalhos em novelas. “Eu percebi que o dinheiro que eu ganhava com a novela podia ir para o meu trabalho social no Brasil, que era um sonho. Foi aí que eu aderi ao conceito de artivismo: misturar ativismo social com arte”.
Empreendedorismo social
Domitila criou a She is From the Jungle, marca de biojoias feitas com capim dourado, uma espécie de sempre-viva típica do Cerrado brasileiro. “A gente começou com 20 peças porque era o que eu tinha dinheiro para fazer”, lembra. Foram essas peças que levaram sua marca às semanas de moda de Berlim e de Londres.
O dinheiro da grife nem passa por ela: é destinado em parte para ajudar seus pais no Brasil e também reinvestido na empresa, contribuindo para a liberdade financeira das mulheres de sua comunidade. “Para ser uma mulher empoderada, você precisa ter dinheiro”.
Outro grande objetivo da marca, segundo ela, que também assessora empresas na área de responsabilidade social, é inspirar companhias a desenvolver produtos sustentáveis. “Eu não preciso ser a única grife sustentável porque para mudar o mundo eu preciso que todas as grifes vão por esse caminho”.