A startup de saúde ginecológica Daye, conhecida por ter inventado o absorvente interno de CBD (canabidiol, um dos princípios ativos química encontrados na Cannabis sativa, a maconha), que agora é usado por mais de 60 mil mulheres no Reino Unido, concluiu uma rodada de financiamento de US$ 11,5 milhões (R$ 60,94 milhões).
A femtech anunciou o lançamento de seus testes de triagem de microbioma ou microambiente vaginal, que podem detectar patógenos ligados a ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) e infecções vaginais, bem como fertilidade, complicações de gravidez e fertilização in vitro, tornando os testes de saúde vaginal feitos em casa mais precisos e confortáveis.
A mais recente rodada de financiamento da Série A da empresa inclui investimentos da Hambro Perks, com sede em Londres, uma empresa internacional de investimentos que se concentra em companhias de tecnologia inovadoras e em crescimento. Líderes em soluções de saúde no Reino Unido, a Simplyhealth e as médicas Dra. Michelle Tempest e Dra. Fiona Pathiraja também investiram nessa rodada. O financiamento será usado para impulsionar a expansão da Daye no mercado dos EUA, com investimentos também provenientes da empresa global de capital de risco MassMutual Ventures e da canadense de capital de risco Cross Border Impact Ventures.
A empresa arrecadou mais de US$ 20 milhões (R$ 105,99 milhões) até o momento, com outros patrocinadores, incluindo Martin Varsavsky, fundador da Prelude, a maior rede de clínicas de fertilidade do mundo, Anne Wojcicki, fundadora da empresa de biotecnologia 23andMe, a americana de capital de risco Khosla Ventures, a Kindred Capital, sediada em Londres, e vários investidores-anjos.
Leia também: Grávidas, fundadoras da Theia captam R$ 30 milhões
Absorvente interno com infusão de CBD
Liderada por mulheres, a startup foi fundada em 2017 e lançada em março de 2020 com o objetivo de fornecer uma plataforma de saúde ginecológica por meio de absorventes internos. Pode parecer comum, mas não é. A empresa lançou o primeiro absorvente interno revestido com CBD do mundo. E, embora já houvesse muito burburinho em torno do CBD e da saúde menstrual desde que o movimento das femtechs começou, em 2016, muitos não sabiam sobre a conexão entre o CBD e o alívio de dores.
Um estudo recente revelou resultados positivos de um ensaio clínico randomizado de seis meses estudando os efeitos do canabidiol nos sintomas relacionados à menstruação.
O estudo foi realizado em colaboração com a Dra. Jessica G. Irons e Morgan L. Ferretti na Universidade James Madison em Harrisonburg, na Virgínia. Quase 75% dos pesquisados em idade reprodutiva relataram sintomas desagradáveis relacionados à menstruação, variando de cólicas e inchaço, dores nas costas e mudanças de humor, além de irritabilidade e estresse.
Os resultados mostraram “sintomas relacionados à menstruação significativamente reduzidos ao longo do período de seis meses em comparação com uma linha de base de um mês. Portanto, o estudo marca a primeira exploração dos efeitos dos canabinóides no controle dos sintomas”.
Mas como o absorvente interno da Daye realmente funciona? Ele fornece 100mg de extratos de canabidiol direcionados e de grau médico diretamente na área da cólica, durante o período menstrual. O canal vaginal tem receptores endocanabinóides, que são conhecidos por modular nossa resposta à dor. O absorvente da Daye também é o único que obteve a certificação ISO 13485, o que significa que atinge os mais altos padrões possíveis para dispositivos médicos.
Absorvente diagnóstico para ISTs, gravidez e fertilidade
Agora, a Daye está levando a inovação ainda mais longe com a introdução de seu absorvente diagnóstico, destinado inicialmente a facilitar o rastreio do microbioma vaginal, bem como de ISTs e HPV num futuro próximo.
Para Valentina Milanova, fundadora da Daye, não há dúvida de que isso pode quebrar o ciclo de pouca inovação na saúde ginecológica. Os absorventes podem ser usados para administrar medicamentos diretamente na vagina e também podem servir como um melhor método de coleta de amostras para diagnósticos de saúde vaginal mais precisos. No entanto, o potencial deles tem sido amplamente negligenciado.
“Isso se deve em parte aos altos níveis de monopolização na indústria de absorventes internos. Nosso objetivo é combater isso por meio da integração vertical. Além de uma empresa de pesquisa e desenvolvimento e biotecnologia, a Daye também é uma empresa de engenharia de design, que projeta seus próprios produtos e linhas de produção”.
Com o lançamento do serviço de triagem de microbioma vaginal, elas querem democratizar o acesso a cuidados ginecológicos. “O microbioma vaginal é um preditor chave de vários fatores de saúde ginecológicos diferentes, desde o risco de ISTs até a probabilidade de ter um ciclo de fertilização in vitro bem-sucedido. No entanto, como muitas outras áreas da saúde feminina, ele tem sido pouco pesquisado e negligenciado.”
Estudos mostram que as condições vaginais geralmente não são diagnosticadas – até 70% dos patógenos femininos são assintomáticos. Além disso, quase 50% dos pacientes com VB (vaginose bacteriana) são assintomáticos. Para Milanova, isso é particularmente problemático quando se trata de ISTs e HPV não diagnosticados, que podem levar à infertilidade e ao câncer do colo do útero. Além disso, a VB é conhecida por aumentar o risco de trabalho de parto prematuro.
A análise de microbioma vaginal da Daye é a primeira no mundo a usar um absorvente menstrual para coletar uma amostra de fluidos vaginais. Tradicionalmente, uma pessoa precisaria ir a uma clínica onde encontraria um espéculo e um cotonete. Com a análise de microbioma vaginal da Daye, a mulher pode coletar a amostra em casa com um produto com o qual está familiarizada e usa há anos. Isso economiza tempo, energia e dinheiro.
“O processo é muito simples, semelhante aos kits de teste de Covid-19 aos quais nos acostumamos. O kit é entregue na sua porta e, assim que você coleta a sua amostra, você envia de volta para um laboratório credenciado para ser analisada”, diz Milanova. Os laboratórios mencionados são credenciados pelo governo do Reino Unido.
A Daye também está lançando sua plataforma de saúde ginecológica, que inicialmente fornecerá acesso a tratamentos para infecções vaginais e depois expandirá para contracepção, SOP (Síndrome do Ovário Policístico) e endometriose. “Também conectamos nossa comunidade com médicos experientes e empáticos, especializados em saúde ginecológica e que podem fornecer suporte personalizado.”
Preenchendo a lacuna de gênero em pesquisa e inovação na saúde
Com produção interna, a empresa consegue executar ciclos de inovação mais rápidos e implementar os feedbacks dos clientes. Foi assim que Milanova e sua equipe criaram soluções orientadas para a sustentabilidade, como a embalagem do produto e o aplicador de cana-de-açúcar, além de melhorias de desempenho, como a melhor absorção do absorvente interno.
“Nosso objetivo é preencher a lacuna de gênero na pesquisa e inovação médica, fornecer às mulheres informações valiosas sobre sua saúde ginecológica e elevar o padrão geral da saúde das mulheres. Para fazer isso, estamos entregando produtos com muito rigor científico, mas inspirados na intuição feminina”, afirma Lisa Rodwell, CEO da Daye.
Quando questionadas sobre o tipo de cliente que usa os produtos da Daye, Milanova e Rodwell compartilham os três grupos principais, divididos igualmente:
- 20 a 28 anos, e muitos ligadas à sustentabilidade;
- 36 anos, e estão começando a pensar em sua fertilidade e em preservar sua saúde ginecológica;
- 38 a 45 anos, e querem ter acesso a produtos cientificamente testados para si mesmas, mas também para suas filhas, sobrinhas e amigas.
“Nossa comunidade está aberta à medicina alternativa e se apoia na ciência, pesquisa e evidências para encontrar as melhores opções de saúde. Muitos de nossos clientes, na maioria das vezes, são pessoas que lutam para encontrar a forma certa de atendimento ginecológico que realmente atende às suas necessidades”, diz Milanova.
Muitas mulheres acham os exames de saúde hoje excessivamente invasivos e demorados e, como resultado, centenas de milhares, senão milhões, de consultas de saúde são perdidas todos os anos.
Na pesquisa recente “Saúde da Mulher – Vamos falar sobre isso”, realizada pelo Departamento de Saúde e Assistência Social do Reino Unido, quase 3 em cada 4 entrevistadas (74%) achavam que a pandemia teve um efeito negativo sobre o acesso das mulheres aos serviços de saúde. “Além das barreiras gerais vivenciadas, como a falta de consultas e acesso limitado a serviços de saúde mental, algumas mulheres também relataram atrasos nos serviços de rastreamento de câncer feminino e apoio inadequado durante e após a gravidez.”
“É aí que entra o nosso absorvente interno confortável e não invasivo. Ele tem uma vantagem adicional que vai além do conforto – pode aumentar a sensibilidade e a especificidade do diagnóstico vaginal, melhorando os resultados e reduzindo os falsos negativos. Podemos atender a uma ampla gama de grupos de pacientes, agregando valor àqueles com vida sexual ativa, portadores de infecções recorrentes, mulheres em fertilização in vitro e pacientes na menopausa, o que significa construir um mundo onde todos possam compreender, monitorar e melhorar suas condições menstruais, sexuais, saúde hormonal e reprodutiva”, conclui Milanova.
>> Inscreva-se ou indique alguém para a seleção Under 30 de 2022