A rotina da modelo Celina Locks mistura empreendedorismo, trabalho social e os desfiles que participa, seja na São Paulo Fashion Week ou na Rio Fashion Week. Mulher do ex-jogador Ronaldo Nazário, ela preside a Fundação Fenômenos, fundada por ele em 2010, além de ser CEO da sua marca Celina Locks Beauty.
Na fundação, Celina organiza arrecadação de fundos e eventos para apoiar os muitos projetos que estão sob seu guarda-chuva. Os programas incluem desde apoio à prática de esportes, passando pelo incentivo a artistas e cultura da periferia e ensino de técnicas de agricultura urbana.
Aqui, ela conta um pouco como equilibra os vários papéis de sua carreira múltipla.
Forbes: Além de gerir sua marca, você também é presidente da Fundação Fenômenos – criada em nome do seu marido, Ronaldo Fenômeno. O que te motiva no empreendedorismo do terceiro setor?
Celina Locks: O que me motiva diariamente é ver a dificuldade e, a partir disso, encontrar uma solução. Não existe uma manual de instruções para trabalhar com pessoas e, principalmente, no terceiro setor. Não podemos simplesmente achar que as necessidades que enxergamos são aquelas que as pessoas realmente têm nas comunidades, né?
Quando você encara essas realidades e percebe que você tem um lugar de privilégio, ver que você pode fazer mais e puxar pessoas junto é o que me motiva. É muito gratificante quando uma pessoa vem até você e te abraça agradecendo.
F: Como é um dia qualquer da Celina trabalhando tanto para sua marca quanto para a fundação?
CL: É uma loucura. Eu divido os meus dias em horários quando não tenho compromissos externos. Primeiro de tudo, eu tô sempre pesquisando, lendo e me atualizando tanto em relação aos meus produtos quanto sobre o que acontece no terceiro setor. Eu participo diretamente de todas as decisões da Fundação Fenômenos. Tenho uma comunicação muito direta com meus conselheiros. E, na Celina Locks Beauty, lido com fornecedores, com a parte financeira, no comercial, com tudo. As pessoas às vezes se assustam um pouco com a minha proximidade com o negócio. Qual é o problema? Essa é a minha empresa, eu sou a Celina. Além disso, me dedico à carreira de influenciadora para criar conteúdo para as minhas redes. Então, sou uma Celina que se divide em várias “Celinas”.
F: Como surgiu a ideia da marca Celina Locks Beauty?
CL: Trabalho com moda há muitos anos e ela está ligada diretamente com a beleza. Minha conexão com a beleza vem desde muito nova, por causa da minha mãe. Ela fazia receitas naturais, como produtos com camomila para cuidar do cabelo. Minha pele é muito clara e sensível, então sempre tive que olhar a fundo as formulações para me cuidar. A marca surgiu com o meu primeiro produto, que veio de uma necessidade minha no backstages de eventos. Nunca gostei de spray, que acaba ressecando o cabelo, e do cheiro dessas coisas. Queria um produto que tratasse, finalizasse o cabelo e tivesse um perfume bom. Então criei a marca pensando em algo que eu gostasse de usar, porque sou exigente e tenho pele sensível.
F: Quais foram as maiores dificuldades dessa trajetória?
CL: Sou muito insistente. Essa característica me ajudou muito e em vários aspectos. Logo no começo, teve a burocracia de legislação, especialmente por estar trabalhando com matéria prima natural. O Brasil ainda está atrasado em relação a esse setor, então tive que importar muitas matérias primas. Eu queria fazer o produto com fragrância que tivesse uma conexão com a França, porque eu morei muitos anos lá. Então, apresentei minha ideia para os profissionais das melhores casas de perfumaria de Paris. Não segurei minha emoção quando fiquei sabendo que 12 perfumistas parisienses premiados queriam trabalhar comigo. Nessas dificuldades diárias do empreendedorismo, não podemos nos deixar levar pelo medo. Isso mesmo quando somos testadas, o que acontece muito mais com as mulheres, né? Sempre colocam nossos méritos e nossos empenhos a favor de outras pessoas. Muitas vezes falam: “Ela só conseguiu isso por causa dele”. Isso eu passo todos os dias por vivermos em uma sociedade que ainda é muito arcaica.
F: O que você aprendeu sendo uma mulher no meio do empreendedorismo?
CL: Aprendi que temos que ser fortes e que devemos usar nossa liberdade para potencializar outras mulheres também. Ainda tenho muito que aprender, mas me considero uma mulher forte. É aquilo que eu falei, né? Sou uma pessoa teimosa. Eu aprendi que tenho que usar da minha força para empoderar mulheres que ainda não têm essa força. Ou seja, tenho que usar a minha voz para ajudar mulheres que não têm essa voz, sabe? Se você alcança um lugar onde pessoas que são minorias não conseguem estar, você precisa se colocar na frente. A sororidade que precisamos não é só entender o outro, mas sim ajudar sua colega a alcançar um lugar em que ela tenha voz.
F: Que dicas você daria para outras mulheres que também têm carreiras múltiplas?
CL: Ter resiliência e paciência. Devemos ter paciência para entender o tempo das coisas, o que é importante, e resiliência para não desistir. Nós, mulheres, além de multitarefas, trabalhamos muito mais do que homens. É impressionante a força que temos e, por isso, temos que aproveitar dessa nossa resiliência. Sempre temos que estar enfrentando as dúvidas da sociedade sobre nossa capacidade, sem nos levar pela influência dos outros. Temos que aprender a reconhecer nosso valor.