Como você reagiria se eu te pedisse dinheiro emprestado? Posso apostar que você se sentiria incomodado, e que me acharia, no mínimo, um pouco folgada.
Mas já reparou como não temos constrangimento em solicitar que as pessoas nos doem tempo?
Repare que, no caso do dinheiro, é empréstimo – pressupõe pagamento, e geralmente com correção de juros. Enquanto no caso do tempo é doação. Porque, ao contrário do dinheiro, tempo não é um recurso recuperável.
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Tempo é dinheiro. Mas a recíproca não é verdadeira. Com tempo, faz-se dinheiro. Mas não há dinheiro no mundo capaz de comprar o tempo perdido.
Diante dessa conclusão, quero provocar uma reflexão: a atenção e critério que você usa para investir seus recursos financeiros também se aplicam à forma como você investe suas preciosas (não cumulativas) vinte e quatro horas?
Confesso que me impressiona a tranquilidade com a qual as pessoas roubam o tempo alheio e a facilidade com que se chateiam quando esse tempo lhes é negado. Temos constrangimento em pedir dinheiro emprestado, mas quando o convite para o cafezinho é recusado, sentimos como se o outro tivesse nos desprezado. Será que somos tão importantes assim para exigir que o outro invista em nós o que tem de mais precioso?
A mim, aparenta ser uma distorção de valores que faz parecer que só porque o tempo é um recurso “gratuito”, não custa nada ser compartilhado. Tempo pode não custar dinheiro, de forma direta. Mas nos custa vida.
Ando me concedendo a liberdade poética de analisar com muito critério onde, como e com quem vou investir meus limitados minutos. Um café que rouba só dez minutinhos pode ser exatamente o tempo que eu preciso para respirar, meditar e honrar meus compromissos com a minha essência. Uma reunião de meia horinha significa abrir mão daquele curso que eu estou louca para colocar em dia. Um evento comercial custa um jantar a menos com a minha família. Todo tempo que escolho doar ao outro é um tempo a menos doado para mim. Algumas vezes, vale o investimento. Outras tantas, sai caro demais.
Comecei a vigiar, também, o impulso de tratar o tempo dos outros com menos respeito do que trato o dinheiro deles. Isso me faz sentir profundo pesar quando, por exemplo, deixo alguém me esperando. E me faz apreciar com muito mais gosto quando alguém escolhe investir alguns minutos na minha companhia.
Esse exercício me exigiu uma habilidade muito necessária, mas nada popular: a de dizer não sem constrangimento e sem a necessidade de justificar. Perdi as contas de quantas vezes, por vergonha de dizer não, roubei tempo do que realmente me importa para doar ao que não o merecia e me senti, depois, literalmente assaltada. E, claro, um tanto revoltada.
Mas revoltada com quem, se fui eu mesma quem negligenciei meu próprio tempo? Hoje tenho clareza de que é a nossa vontade de ser aceito e o nosso medo de desagradar que nos faz usar o nosso tempo sem cuidado e sem critério. Quanto menor a necessidade de ser validado pelos outros, maior a facilidade de pronunciar sem medo o “ene-a-ó-tíu”.
Porque a verdade é que se você não valoriza seu tempo, o mundo vai sempre ficar confortável para te roubar. E embora esse crime não seja previsto na constituição, ele é de todos o mais grave, porque é a pessoa assaltada quem passa a viver em prisão.
*Carol Rache é empresária, fundadora do grupo Namah Wellness de inteligência emocional e o bem-estar. Há 10 anos ela se dedica ao estudo do comportamento humano usando neurociência, metafísica, meditação, yoga e coaching.
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